segunda-feira, junho 06, 2005

SANTO SUBITO DA REFORMA AGRÁRIA


Ao ouvir o publico a gritar “santo súbito” reivindicando a canonização do Papa João Paulo II, lembrei de outros candidatos e que ainda aguardam na fila. E um deles em especial, não há nem pedido: é o padre Josimo Moraes Tavares, assassinado no dia 10 de maio de l986, na sede da Comissão Pastoral da Terra, em Imperatriz, Maranhão. Ele foi morto pelos mesmos motivos que levaram o óbito a irmã Dorothy Stang - apoio à luta dos trabalhadores rurais e posseiros.
A morte do padre lembrou-me do romance de Gabriel Garcia Marques, Crônica de uma Morte Anunciada. Sabia-se que ele ia ser morto por estar contrariando interesses. Sabia-se quem iria financiar o assassinato. Sabia-se que o autor seria um pistoleiro de aluguel de tocaia. Só não se sabia a hora, o local e o dia do assassinato.
O padre era vigário de São Sebastião do Tocantins onde foi trabalhar desde 1983. Na paróquia passou a defender os trabalhadores rurais e os pequenos posseiros, que reivindicavam junto ao Governo Federal, a inclusão no Plano Nacional de Reforma Agrária.
Os mandantes de sua morte foram: - vereador Osmar Teodoro da Silva, Wilson Nunes Cardoso e Arlindo Gomes da Silva - todos produtores rurais. Contrataram o pistoleiro de aluguel, Geraldo da Costa, a quem foi oferecida à quantia de 50 mil cruzeiros – moeda da época.
No julgamento no assassino, no dia 20 de abril de l988, um júri formado de quatro homens e três mulheres, depois de 14 horas de sessão condenaram somente o pistoleiro a 18 anos e seis meses de prisão. Os mandantes nunca foram condenados.
A mãe do padre, a dona Olinda Moraes Tavares tentou uma ação de responsabilidade civil contra a União e o estado de Goiás, reivindicando indenização, pois em 1985, ele teria denunciado as autoridades, era jurado de morte. A resposta do Poder Judiciário foi irônica: o responsável pela morte era o próprio padre, que, “em atitude provocadora, recalcitrante e reincidente, afrontou os poderes constituídos da municipalidade e do estado de Goiás para adentrar num gesto de provocação e culminar com seu próprio assassinato”.
Por isso é Josimo praticou o cristianismo, denunciando e optando pelo lado mais fraco nos conflitos, como Cristo, merece ser santo da Reforma Agrária. Mas como são exigidos milagres para canonização, ele é apenas um mártir – assim como Dom Oscar Romero - cardeal de El Salvador - também assassinado, em 1985.

Autor: Marco Antonio dos Santos, 35 anos, membro do Conselho Estadual de Desenvolvimento e Participação da Comunidade Negra/SP.

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