No próximo dia 21 de junho, será comemorado mais 175 anos do aniversário do advogado e militante negro, Luis Gonzaga Pinto da Gama, filho da líder da Revolta dos Malês, Luiza Mahin e de uma pai português, na cidade de Salvador. Um dos lideres negros do processo de Abolição da Escravidão, nasceu livre, mas por causa de uma divida de jogo do pai e exílio da mãe, foi vendido como escravo.
O pai de Luis Gama era um rico português, quem tinha ganhado uma grande fortuna deixada pela família. Entretanto o vicio do jogo, acabou torrando a herança e para pagar uma divida, deu o filho, com apenas 10 anos de idade, como forma de pagamento. Luis Gama foi embarcado num navio de trafico interno de escravo, para o São Paulo. Por causa disso, adulto, Gama omitiu de sua biografia o nome do genitor.
Em São Paulo, é comprado pelo alferes Antonio Pereira Cardoso, que tem uma fazenda em Lorena, Vale do Paraíba. No ano de 1847 uma amizade mudou a vida de Gama, Antonio Rodrigues do Prado, estudante e idealista passa a ensinar a ler e escrever o jovem Luis com então 17 anos. No ano seguinte, ele foge da fazenda, se alistando no Policia.
A carreira de Luis no Exercito dura 6 anos. Dá baixa como soldado, após ser injustamente preso, por reagir a insultos racistas de um oficial. Na Policia é ocupada em seu Oficialato por filhos de famílias proprietárias de negros escravizados e tratam os subordinados de forma semelhante. O retorno ao Serviço Público, acontece em 1856, quando Luis Gama é contratado como escrivão de Policia, mas foi demitido, acusado de sedicioso e turbulento.
Com o pseudônimo de “Afro”, Gama começou a escrever no jornal paulistano de nome “O Ipiranga” e se aventura a escrever seu primeiro livro: Primeiras Trovas Burlescas de Getulino, com poemas que satirizavam os aristocratas e os políticos do período. É publicado em 1859 e faz um sucesso.
Contagiado pelo sucesso como escritor, Gama, decide lançar um jornal de criticas humoradas. O nome diz tudo – “Diabo Coxo”. Através dessa publicação, Luis inicia sua campanha pessoal contra o sistema de escravidão, às vezes com denuncias diretas, às vezes com uma dose de ironia. Nesse meio tempo se forma advogado e começa a defender judicialmente os escravizados em processos de alforria.
Durante um processo Luis Gama agindo na defesa de um jovem negro escravizado acusado de assassinar seu proprietário disse: “Perante o Direito, é justificável o crime do escravo perpetrado na pessoa do Senhor”.
Alegava ainda que a luz do direito, todos os africanos escravizados estavam nessa condição ilegalmente devido à vigência da uma lei de 7 de novembro de 1831. Gama argumentava que todas as pessoas em condição de cativos com menos de 62 anos, eram na verdade legalmente livres, diante da legislação vigente. Dessa forma teria conseguido a libertação de mais de 1.000 afro-brasileiros.
Como militante negro abolicionista sempre ajudava financeiramente os recém alforriados, recordando as dificuldades que ele próprio tinha passado na mesma condição.
Tinha como admiradores de sua luta, os advogados Rui Barbosa e Joaquim Nabuco além do poeta Castro Alves. Em 1880 já era considerado o mais radical dos abolicionistas.
Mas sua saúde impossibilitou que pudesse assistir em 1888 a aprovação da Lei Áurea e o fim da escravatura. Morre no dia 24 de agosto de 1882, com 52 anos, sendo enterrado com grande cortejo, dia 25, e o seu caixão carregados por negros que foram antes escravos. Ainda no enterro, o discurso foi feito por Antonio Bento de Souza e Castro que era líder do grupo formado por pessoas de etnia branca, mais feroz opositor contra a escravidão – os Caifazes, que resgatava das senzalas os cativos.
Terminado o processo de Abolição, sua figura foi esquecida e é mais lembrada em aulas de Literatura Brasileira, inclusive quando isso acontece. Tido como “radical” pelos políticos abolicionistas e “moderado demais” por quilombolas, Luis Gama é um personagem da Historia oficial que certamente merece mais destaque devido o papel decisivo para o fim da escravidão oficial no Brasil.
Um comentário:
O senhor está de parabéns pelo artigo apresentado. Certamente a biografia de Luis Gama, assim como as de outros afrodescendentes merecem destaques, pois verificamos uma lacuna muito grande em relação a historiografia brasileira. Para que estas lacunas sejam preenchidas se faz necessário investir em pesquisas e trabalhar mais, em salas de aulas, os temas da História do Brasil e a participação ativa dos escravos africanos e seus descentes na formação da Nação. É preciso esclarecer que os escravos não foram passivos às condições a eles impostas, houve resitências, lutas e os mesmos foram agentes da tão sonhada CARTA DE ALFORRIA. Márcia
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