Jorge Aragão - Identidade
“Se o preto de alma branca pra você
É o exemplo da dignidade
Não nos ajuda, só nos faz sofrer
Nem resgata nossa identidade”
Venhamos e convenhamos: faz tempo que não aparece um jogador de futebol tão frutífero em polêmicas. Ronaldo Nazario, mal saiu das paginas de jornais após o seu suposto fim de casamento com a modelo Daniela Cicarelli, agora ele vem com a sua auto declaração como brasileiro branco. Se bem que acabou após repercussão da frase, se reafirmando como negro. Mas o assunto me leva novamente a refletir sobre o que é raça?
Primeiro é preciso explicar a origem do termo raça. Vem do árabe da palavra “rá s”, que pode ser entendida como cabeça, chefe do clã. O termo teria sido introduzido na Península Ibérica – Portugal, Espanha – no século XII, durante ocupação desse território por árabes.
Após a reconquista da região, as famílias nobres tanto espanhóis, quanto portuguesas passaram a usar o termo “razza” para definir a família do qual descendia esse ou aquele individuo. Ter “razza” era sinal de ter berço, nobreza. Não era usado para classificar pessoas pela cor de pele ou outras características físicas.
Acreditasse que circunstancias políticas, econômicas e até religiosas é que deve ter levado a humanidade usar o termo raça para dividir categorias humanas. Muitos cientistas acabaram se apropriando do termo raça para criarem sem um profunda pesquisa uma hierarquização dos seres humanos.
Os pensadores como o francês Lapouge Gobineau, o britânico Robert Knox e os norte-americanos Louis Agassiz e Samuel George Morton, passaram a desenvolver, principalmente entre os séculos XVIII e XIX suas teorias racistas, mal ancoradas em dados científicos e repletas de superstições Isso foi usado inclusive para justificar a exploração de outros povos.
A verdade começou a ser construída na Antropologia - ramo da ciência que estuda os grupos étnicos humanos – que através de Franz Boas. Ele um alemão e judeu, radicado nos Estados Unidos, no clima do nascimento e fortalecimento do Nazismo, propôs a separação da questão de raça e da cultura. Boas constrói o conceito que raça não é um fator biológico e sim um conjunto de características culturais.
O fim dessa confusão acabou ocorrendo em 1950, quando foi publicado o documento “The Statement Of Race” que propõe a substituição do termo raça por etnia. O estudo publicado nesse documento comprava que grupos nacionais, religiosos, geográficos, lingüísticos e culturais não coincidem com o que era definido antes como raça.
Há quem defenda inclusive no mundo cientifico que a escala evolutiva das etnias, por exemplo, branca, preta e amarela – tidas como as principais no planeta não tem que necessariamente seguir o mesmo rumo. Ou seja, o modelo de civilização européia não é uma camisa de força. Povos na Ásia, África, Austrália e na América poderiam senão sofressem a intervenção através do colonialismo terem se desenvolvido, mesmo com características diferente. Exemplo: o grau de organização política e econômica dos incas dá pista de que poderia ter sido o Peru antes da invasão da Europa.
Ah... Quase ia me esquecendo – qual a raça do Ronaldo? Bem se olharmos para sua mãe e pai – perceberemos visualmente que ele descendente de uma raça – família negra. Mas se ele não se assume como tal, não é por força de decreto ou lei que isso acontecerá. Fazer isso é retornarmos ao modo operante dos nazistas e cientista defensores da raça pura.
Entretanto na luta que o Movimento Negro tem feito pela auto estima do afro brasileiro, tenho que dizer: Ronaldinho cometeu um pênalti verbal com sua declaração. É desculpável! Ninguém sai de um casamento com aquela musa que é a Cicarelli sem ficar meio perdido.
Marco Antonio dos Santos, 35, militante negro, membro do Conselho Estadual de Desenvolvimento e Participação da Comunidade Negra de São Paulo.
Publicada na Coluna Preto no Branco – Jornal Gazeta de Bebedouro
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