Diferente do que os meios de comunicação tentam nos fazer crer a luta pela emancipação do povo negro aconteceu com protagonismo afro-brasileiro. São muitos os personagens: Chica da Silva, Zumbi, Dandará, Chico Rei, Ganga Zumba e muitos anônimos. Um desses heróis pouco lembrado é Manoel Congo, líder quilombola no Estado do Rio de Janeiro, e mais uma das vítimas do sanguinário Duque de Caxias.
Não há nenhuma informação sobre a origem e infância de Manoel do Congo. Apenas o sobrenome dá uma pista de onde ele pode ter vindo no continente africano. Mas é importante ressaltar que a costa do Congo foi uma das muitas que enviaram pessoas para o Brasil.
Ele era de propriedade do fazendeiro Manoel Vieira dos Anjos, na cidade de Vassouras, que tinha uma fama de cruel no trato com as pessoas escravizadas. A revolta que dá origem ao quilombo, foi conseqüência de uma série de assassinatos que ele cometeu. Segundo denunciou o trabalhador rural negro Antonio ao juiz de Vassouras, José Pinheiro de Souza Werneck, foram mortas quatro pessoas barbaramente a pauladas pelo senhor de escravo, sendo eles: Antonio Congo, João Cambinda, Antonio Ângelo e Maria Congo. Os corpos estavam ocultados próximo da propriedade rural.
Mesmo com a descoberta dos cadáveres das vítimas pelas autoridades, como era comum na época, o promotor público, Lucidoro Francisco Xavier ofereceu denuncia contra o fazendeiro, mas não conseguiu condená-lo. Em seu julgamento em Júri Popular, no dia 23 de janeiro de 1838, Manoel Vieira foi inocentado. Ele ainda alegou em sua defesa que as pessoas tinham morrido de causas naturais e que não foram sepultados em um cemitério dos escravos, por não serem batizados.
Como ninguém teve coragem de testemunha contra o fazendeiro e pelo Código Penal da época, os escravos eram impedidos de fazê-lo, os 23 jurados, o inocentaram por 20 votos. Alguns ainda argumentavam em particular, que só o prejuízo que teve com a morte de cinco pessoas trabalhadoras, já era castigo suficiente.
Ciente da noticia, todos na senzala ficaram indignados com a injustiça e impunidade, que pouco tempo depois, voltou a matar uma pessoa escravizada. 300 escravos de propriedade do assassino, liderados por Manoel Congo, resolveram fazer a Justiça com as próprias mãos. Invadiram a fazenda Maravilha, de Manoel Vieira, no dia 13 de novembro de 1838 e mataram o feitor e expulsaram todos e destruíram a sede e colocaram fogo no engenho.
Diante da momentânea vitória, eles decidiram refugiarem na Floresta de Santa Catarina, da Serra da Estrela, a caminho da Serra da Taquara, e criar uma comunidade quilombola. Tinha inclusive na operação de tomada da fazenda, obtido armas de fogo. No local, devido sua coragem e determinação desempenhada no conflito, Manoel foi eleito rei e sua companheira Mariana Crioula, ex-mucama de Francisca Xavier, mulher do senhor de escravo, foi nomeada rainha.
O Quilombo de Manoel Congo e seus comandados 400 conquistaram fama entre os negros e temor entre os fazendeiros. Toda semana, se aventuraram nas senzalas no período noturno, para libertar os cativos. Também eram saqueados viajantes, de quem roubavam armas e alimentos.
Não demorou em que os fazendeiros se organizassem e solicitassem providencias das autoridades policiais. Foi enviada a preparada Guarda Nacional de Vassouras, comandada por Laureano Correia e Castro que tinha também o experiente major Lourenço Luis de Atayde. Eram mais de 160 homens armados, perfeitamente aparelhados e divididos.
Este exército saiu saudado pelos fazendeiros, que aliviados, acreditavam que em poucos dias, senão horas, destruiriam o Quilombo de Manoel Congo e recuperariam seus escravos.
Na véspera do ataque, dormiram no que restava da sede da fazenda Maravilha, do assassino Manoel Vieira. Mas eles não sabiam que mesmo lá estavam sendo vigiados e observados pelos guerreiros quilombolas. Estrategicamente, as casas dos arredores da comunidade quilombola foram abandonadas, tentando assim, trazer o adversário para dentro da Floresta de Santa Catarina, terreno conhecidos dos negros, que aplicaram uma tática de guerrilhas e terror nos soldados da Guarda Nacional.
A debandada da tropa foi grande, sendo muitos mortos na fuga e outros abandonando as armas, fugindo sem rumo, que segundo relatos, demoraram a reunião dos sobreviventes.
A repercussão da derrota foi grande: fazendeiros se apavoraram e os escravos secretamente festejavam, sonhando com a possibilidade de fazer parte das batalhas e aguardando sua libertação pelos guerreiros do Quilombo de Manoel Congo.
A noticia chegou até o comando do Exército do Império, que temendo maiores conseqüências, determinaram que um jovem militar fosse o comandante da tropa. Era Luis Alves de Lima e Silva, conhecido pelo sangue frio e a falta de piedade dos combates. A ordem era clara: massacrar os quilombolas de forma exemplar, sem fazer reféns e sem negociação.
No dia 11 de dezembro a tropa do futuro Duque de Caxias atacou o quilombo. Ele cercou o local e como ordenado, praticamente não fez prisioneiros. Mas os guerreiros resistiram até a ultima bala, e uns entraram em luta corporal suicida contra os soldados, conseguindo inclusive matar alguns. Mas a superioridade em armamentos da tropa repressora era grande. Morreram mulheres, crianças e velhos desarmados.
A rainha guerreira lutou também até o fim e tentava incentivar “morrer sim, entregar-se nunca”. Foram necessários vários soldados para dominá-la a golpes de coronhadas.
Os sobreviventes foram castigados a açoites e depois entregues aos seus donos, que continuaram o suplicio por conta própria. Os líderes Justino Benguela, Antonio Magro, Pedro Dias, Belarmino, Miguel Crioulo, Canuto Moçambique e Afonso Angola receberam cada um 650 chibatadas, distribuídas em 10 dias. Depois foram marcados a ferro.
Manoel Congo, machucado em combate ainda foi captura, mantido vivo, para ser morto de forma exemplar. No dia 22 de janeiro de 1839, na Praça da Concórdia, diante da Igreja Matriz da Vila de Vassouras, até o dia 31 do mesmo mês, ocorreu o julgamento dele, sendo condenado à pena máxima – enforcamento. A sentença foi cumprida no dia 6 de setembro de 1839, em praça pública de Vassouras. Mas exibia a mesma coragem e determinação de antes. Mesmo que não fosse condenado, preferia à morte a escravidão. Tinha 49 anos de idade.
Mariana teve sua vida poupada à pedida de sua antiga senhora, mas foi obrigada a assistir a morte de seu companheiro.
Não há nenhuma informação sobre a origem e infância de Manoel do Congo. Apenas o sobrenome dá uma pista de onde ele pode ter vindo no continente africano. Mas é importante ressaltar que a costa do Congo foi uma das muitas que enviaram pessoas para o Brasil.
Ele era de propriedade do fazendeiro Manoel Vieira dos Anjos, na cidade de Vassouras, que tinha uma fama de cruel no trato com as pessoas escravizadas. A revolta que dá origem ao quilombo, foi conseqüência de uma série de assassinatos que ele cometeu. Segundo denunciou o trabalhador rural negro Antonio ao juiz de Vassouras, José Pinheiro de Souza Werneck, foram mortas quatro pessoas barbaramente a pauladas pelo senhor de escravo, sendo eles: Antonio Congo, João Cambinda, Antonio Ângelo e Maria Congo. Os corpos estavam ocultados próximo da propriedade rural.
Mesmo com a descoberta dos cadáveres das vítimas pelas autoridades, como era comum na época, o promotor público, Lucidoro Francisco Xavier ofereceu denuncia contra o fazendeiro, mas não conseguiu condená-lo. Em seu julgamento em Júri Popular, no dia 23 de janeiro de 1838, Manoel Vieira foi inocentado. Ele ainda alegou em sua defesa que as pessoas tinham morrido de causas naturais e que não foram sepultados em um cemitério dos escravos, por não serem batizados.
Como ninguém teve coragem de testemunha contra o fazendeiro e pelo Código Penal da época, os escravos eram impedidos de fazê-lo, os 23 jurados, o inocentaram por 20 votos. Alguns ainda argumentavam em particular, que só o prejuízo que teve com a morte de cinco pessoas trabalhadoras, já era castigo suficiente.
Ciente da noticia, todos na senzala ficaram indignados com a injustiça e impunidade, que pouco tempo depois, voltou a matar uma pessoa escravizada. 300 escravos de propriedade do assassino, liderados por Manoel Congo, resolveram fazer a Justiça com as próprias mãos. Invadiram a fazenda Maravilha, de Manoel Vieira, no dia 13 de novembro de 1838 e mataram o feitor e expulsaram todos e destruíram a sede e colocaram fogo no engenho.
Diante da momentânea vitória, eles decidiram refugiarem na Floresta de Santa Catarina, da Serra da Estrela, a caminho da Serra da Taquara, e criar uma comunidade quilombola. Tinha inclusive na operação de tomada da fazenda, obtido armas de fogo. No local, devido sua coragem e determinação desempenhada no conflito, Manoel foi eleito rei e sua companheira Mariana Crioula, ex-mucama de Francisca Xavier, mulher do senhor de escravo, foi nomeada rainha.
O Quilombo de Manoel Congo e seus comandados 400 conquistaram fama entre os negros e temor entre os fazendeiros. Toda semana, se aventuraram nas senzalas no período noturno, para libertar os cativos. Também eram saqueados viajantes, de quem roubavam armas e alimentos.
Não demorou em que os fazendeiros se organizassem e solicitassem providencias das autoridades policiais. Foi enviada a preparada Guarda Nacional de Vassouras, comandada por Laureano Correia e Castro que tinha também o experiente major Lourenço Luis de Atayde. Eram mais de 160 homens armados, perfeitamente aparelhados e divididos.
Este exército saiu saudado pelos fazendeiros, que aliviados, acreditavam que em poucos dias, senão horas, destruiriam o Quilombo de Manoel Congo e recuperariam seus escravos.
Na véspera do ataque, dormiram no que restava da sede da fazenda Maravilha, do assassino Manoel Vieira. Mas eles não sabiam que mesmo lá estavam sendo vigiados e observados pelos guerreiros quilombolas. Estrategicamente, as casas dos arredores da comunidade quilombola foram abandonadas, tentando assim, trazer o adversário para dentro da Floresta de Santa Catarina, terreno conhecidos dos negros, que aplicaram uma tática de guerrilhas e terror nos soldados da Guarda Nacional.
A debandada da tropa foi grande, sendo muitos mortos na fuga e outros abandonando as armas, fugindo sem rumo, que segundo relatos, demoraram a reunião dos sobreviventes.
A repercussão da derrota foi grande: fazendeiros se apavoraram e os escravos secretamente festejavam, sonhando com a possibilidade de fazer parte das batalhas e aguardando sua libertação pelos guerreiros do Quilombo de Manoel Congo.
A noticia chegou até o comando do Exército do Império, que temendo maiores conseqüências, determinaram que um jovem militar fosse o comandante da tropa. Era Luis Alves de Lima e Silva, conhecido pelo sangue frio e a falta de piedade dos combates. A ordem era clara: massacrar os quilombolas de forma exemplar, sem fazer reféns e sem negociação.
No dia 11 de dezembro a tropa do futuro Duque de Caxias atacou o quilombo. Ele cercou o local e como ordenado, praticamente não fez prisioneiros. Mas os guerreiros resistiram até a ultima bala, e uns entraram em luta corporal suicida contra os soldados, conseguindo inclusive matar alguns. Mas a superioridade em armamentos da tropa repressora era grande. Morreram mulheres, crianças e velhos desarmados.
A rainha guerreira lutou também até o fim e tentava incentivar “morrer sim, entregar-se nunca”. Foram necessários vários soldados para dominá-la a golpes de coronhadas.
Os sobreviventes foram castigados a açoites e depois entregues aos seus donos, que continuaram o suplicio por conta própria. Os líderes Justino Benguela, Antonio Magro, Pedro Dias, Belarmino, Miguel Crioulo, Canuto Moçambique e Afonso Angola receberam cada um 650 chibatadas, distribuídas em 10 dias. Depois foram marcados a ferro.
Manoel Congo, machucado em combate ainda foi captura, mantido vivo, para ser morto de forma exemplar. No dia 22 de janeiro de 1839, na Praça da Concórdia, diante da Igreja Matriz da Vila de Vassouras, até o dia 31 do mesmo mês, ocorreu o julgamento dele, sendo condenado à pena máxima – enforcamento. A sentença foi cumprida no dia 6 de setembro de 1839, em praça pública de Vassouras. Mas exibia a mesma coragem e determinação de antes. Mesmo que não fosse condenado, preferia à morte a escravidão. Tinha 49 anos de idade.
Mariana teve sua vida poupada à pedida de sua antiga senhora, mas foi obrigada a assistir a morte de seu companheiro.
8 comentários:
Companheiro, bacana ver você destinando espaço para a luta de Manoel Congo. Moro em Vassouras e gostaria que desse uma chegadinha no meu blog, onde postei uma notícia a respeito do Plano Diretor do município. A burguesia daqui está, de uma certa maneira, patrocinando o novo enforcamento de Manoel Congo. Gostaria de discutir o que fazer para se evitar o que propõem: a instalação de bustos dos barões escravocratas pelas ruas da cidade. Com a desculpa de estar criando atrativos turísticos, querem é sinalizar um enorme retrocesso. Quando puder, dê uma chegadinha lá: www.blogdojoaohenrique.blogspot.com
Maravilhoso espaço este que resgata a história que os dominadores não contaram a partir do ponto de vista dos dominados que não se cansam de resistir e acreditar.
De nossa parte,(Movimento de Moradia) estamos providenciado uma lembrança viva para este nosso herói
Saudações da Luta paa quem é de luta
Lembrar de nosso passado é importante e os barões fazem parte disto assim como os negros e os brancos pobres. Devemos dar mais destaque aos negros e à sua história. Considero uma proposta interessante criar um grande museu em memória às vítimas da escravidão nos moldes do museu do holocausto em Israel. Devemos entender que promover luta de classes ou de "raças" não leva a nada. Temos que compreender que a escravidão, embora fosse terrível era um pensamento da época, assim como muitos de nossos conceitos vão ser "derrubasdos" pelas gerações vinsouras. Exemplos: muitos negros alforreados compravam tbém escravos. "Lembrar é importante, mas acima de tudo devemos nos unir em torno dos ensinamentos que o passado nos proporciona". "Abaixo a separação, não vamos criar mais um aparthaid" Marcelo Soares Barbosa - professor de História
Sugestão de Livro: Uma Gota de Sangue - autor: Demétrio Magnoli
A discussão aprofundada das questões em torno da escravidão e suas consequências, tem sentido se levarem o Poder Público a reparação deste grande crime de lesa humanidade.
Não há porque deixar de exigir que os crimes cometidos contra a raça negra sejam reparados. Há hoje disponível em vários meios de comunicação os índices que
comprovam que apesar de haver alguma evolução há ainda muito que ser reparado, já que a escravidão, bem como o preconceito era uma política de Estado.
Isso não cria aparthaid, pelo contrário faz com que estejamos mais atentos aos que são excluídos na sociedade.
E tirando a necessidade de saber todas as opiniões, cuidado com a sugestão de leitura dos livros do Demétrio Magnoli, geralmente confunde mais do que esclarece.
De fato, salvo as honrosas exceções, o ser humano, entre os seres vivos, incluíndo-se a flora, o homem é o mais cruel. Relendo e relendo a história da escravatura no Brasil, mesmo contada de maneira parcial, dar nauseas e nojo. Podemos ver claramente, a que ponto chega a espécie humana. Aqui no Brasil em particular, o tratamento dado aos escravos dispensa qualquer comentário. Com todo respeito, me sinto profundamente envergonhado, dos ancestrais que viveram e participaram dessa brutalidade, haveremos de pagar muito caro por isso, muito embora, sem nada dever. É assim que vejo, tudo isso.
OUVI SOBRE MANOEL CONGO NUM COMENTÁRIO SOBRE HISTÓRIA HOJE (02/09/2016) NA BAND NEWS DO RIO DE JANEIRO E FIQUEI MARAVILHADO COM O RELATO.
O PROFESSOR DE HISTÓRIA (PERDÃO MAS NÃO PEGUEI O NOME DELE) DIZ, INCLUSIVE, QUE, "SE O BRASIL FOSSE UM PAÍS SÉRIO, ESTA SAGA JÁ TERIA VIRADO UM FILME, DE TÃO BONITA QUE É". E QUE MANOEL CONGO SERIA O "NOSSO ESPARTACUS". ELE MENCIONA TAMBÉM A FAZENDA ARCOZELO, POR ISSO PEÇO AO COLEGA COMENTARISTA ACIMA QUE VEJA O QUE HÁ LÁ SOBRE O ASSUNTO E NOS INFORME.
PRA ENCERRAR O ASSUNTO: SE O BRASIL FOSSE UM PAÍS SÉRIO, O RESGATE DOS NEGROS JÁ TERIA SIDO FEITO, INCLUSIVE COM INDENIZAÇÕES. ESTA É A MINHA MODESTA OPINIÃO.
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