quarta-feira, junho 14, 2006

Quanto Vale ou é por quilo?

O titulo é o nome de um filme que considero obrigatório para este determinado público: assistentes sociais, jornalistas, políticos, líderes comunitários, presidente de entidades assistenciais e principalmente pessoas pobres e negras. Qual a razão? Porque o DVD “Quanto Vale ou é por Quilo?” é sem dúvida o melhor filme brasileiro de 2005, apesar da péssima divulgação e nem ter passado nas salas de cinema no interior, mas fala de uma situação que é bom refletir: o Brasil é um dos países campeão em organizações não governamentais assistenciais – elas funcionam, combate a miséria ou já fazem parte do sistema de exploração dos pobres?
O filme do cineasta Sergio Bianchi toma como ponto de partida o conto de Machado de Assis “Pai contra Filho”, pouco conhecido, que fala dos conflitos éticos no período da escravidão entre um capitão do mato, sua esposa, uma escrava fugitiva e grávida e seu proprietário. Leiam no meu blog: www.marconegro.blogspot.com uma cópia, pois o texto é impressionante.
O roteiro sai da escravidão e vem para os dias de hoje, onde vemos que mesmo após a abolição, a maioria dos miseráveis é negra. E para ajudá-los a superar esta situação surgiram as entidades assistenciais com seus milhares de projetos nas periferias. Muitas delas prestam um trabalho sensacional, tanto é que captam com sua boa reputação recursos no exterior. Mas existem outras com suas siglas e endereços tão desconhecidos, que dificultam até a identificação de seu trabalho e sua eficácia.
Há ONGs criadas neste país já com o objetivo de viver apenas de verbas distribuídas dos governos municipal, estadual e federal. Elas têm folhas de pagamento tão onerosas, que às vezes, o dinheiro destinado ao combate à miséria, se perde no meio do custeio delas próprias. No fim, temos Ongs que vivem do combate à fome e não lutam para extingui-la, pois se o fizessem, perderiam a razão de existir. Inclusive fazem suas escolhas políticas com base naqueles prefeitos, governadores, deputados, vereadores, senadores e presidente, que prometam dar mais dinheiro para as entidades.
Muita gente já ouviu falar de ONGs em que seus dirigentes chegam a melhorar de vida, enquanto a dos pobres permanece a mesma por gerações, ou às vezes, piora. Sem duvida alguma: falta fiscalização, mas o corporativismo e a política do “deixa quieto” feita por militantes sérios, que tem medo que os escândalos afetem as entidades idôneas e as doações empresariais. No filme “Quanto Vale ou é por Quilo” uma líder popular descobre que os computadores doados para sua comunidade através de uma ONG são superfaturados. Quando ela vai denunciar o crime é marcada para morrer, pois está atrapalhando o esquema.
Na época da escravidão os negros idosos, eram colocados nas ruas por seus proprietários para mendigar e dar no final do dia o dinheiro para eles. E existiam inclusive as sinhás que prostituíam suas escravas, auferindo lucro na atividade, virando caso de polícia. Hoje, algumas entidades assistenciais não chegam a tanto, mas no pratica, fazem o mesmo.
Assistam ao filme que tem como atores, Lázaro Ramos, Herson Capri, Zezé Motta entre outros. Como disse o cineasta inglês Ken Loach, o cinema não muda o mundo, mas traz inquietações.

3 comentários:

Anônimo disse...

O nome do conto de Machado de Assis não é 'Pai contra Filho' e sim 'Pai contra Mãe'.Vlw

jessic@lves disse...

oi marco, me chamo jessica e uma amiga que visitou seu blog o indicou pra que eu pudesse visitá-lo tbm, gostei bastante ! um abraço!

Julie disse...

Olá.

Me chamo Julie e sou professora de filosofia da rede estadual em minha cidade, e gostaria de parabenizá-lo pela qualidade dos textos publicados em seu blog. Acredito que essa iniciativa de divulgação e fomento de assuntos de interesse para a comunidade negra, e não apenas para esses, como também, para o público de um modo geral, deve servir de exemplo, uma vez que uma grande parte das pessoas preferem criar blogs com vistas a discussão de assuntos banais ou fúteis, o que, com certeza, não é o seu caso.
Parabéns!