sexta-feira, junho 16, 2006

Joaquim Maria Machado de Assis


Faz tempo que estava enrolando para escrever sobre o grande escritor Machado de Assis, fundador da Academia Brasileira de Letras e respeitadíssimo até no exterior. Era negro, embora isso seja pouco divulgado, e parte do movimento negro, de forma equivocada acaba criticando a sua não adesão mais firme ao Abolicionismo, a exemplo de Luis Gama e Castro Alves. Mas a leitura do conto Pai contra Filho, escrito por ele, e que inspirou um dos melhores filmes brasileiros – Quanto Vale ou é Por Quilo? – não deixa divida sobre a sua consciência negra.
Ele nasceu no dia 21 de junho de 1839, na cidade do Rio de Janeiro. Era filho do brasileiro, carioca, descendente de negros alforriados, pintor e dourador Francisco de José, operário negro e da portuguesa da ilha de São Miguel, Açores Dona Maria Leopoldina, dona de casa. Infelizmente, sua mãe morreu quando ele ainda era criança, mas seu pai casou novamente e sua esposa, Maria Inês Machado o criou como filho. Aos 12 anos, sofre nova perda, o pai falece. Também perdeu logo nos primeiros anos de vida sua única irmã.
A madastra de Machado de Assis, era doceira em um colégio no bairro São Cristóvão, Rio de Janeiro. Neste ambiente, ajudando a vender os quitutes no ambiente escolar, logo ele toma conta com professores e alunos e ganhou a possibilidade de freqüentar as aulas. E ele aproveita para ter as primeiras noções gramáticas.
Também neste trabalho de vendedor de doces, o adolescente Joaquim conquista com sua inteligência, a proprietária de uma panificadora, uma senhora francesa, que lhe dá aulas de francês. E por fim é também digno de registro a ajuda que a viúva do Brigadeiro e senador do Império Bento Barroso Pereira – a senhora Maria José que praticamente o adotou financeiramente. Mesmo com os problemas da epilepsia e da gagueira, que tinha, ele foi conseguindo informalmente se instruir.
Apaixonado pela leitura e pelas poesias, não demorou que ele próprio escrevesse a sua. Com 16 as conseguiu no dia 12 de janeiro de 1855, publicar seu primeiro texto, na Revista Marmota Fluminense. O poema intitulado “Ela”, que foi t;ao bem aceito, que Joaquim passou a colaborar regularmente com a publicação, por ordem do proprietário – Francisco de Paula Brito.
A fama de um nas letras, fez com que o jovem Joaquim, aos 17 anos, conquistasse seu primeiro emprego – aprendiz de tipógrafo na Impressa Nacional. Durante as horas vagas no trabalho, escreve alguns textos, que logo é percebido pelo diretor do órgão, o escritor de Memórias de um Sargento de Milícias, Manuel Antonio de Almeida.
Mas em 1858, o Francisco de Paula Brito, faz uma ótima oferta de emprego, levando o jovem Joaquim de volta a Livraria Paula de Brito, como revisor e colaborador da Marmota Fluminense. Além disso, insere o escritor na Sociedade Litero Humorística Petalogica, onde ele passa a ter amizade dos escritores Joaquim Manoel de Macedo, José de Alencar e Gonçalves Dias.
Em 1859, Machado de Assis torna-se revisor e colaborador da Gazeta Mercantil e no ano seguinte, convidado por Quintino Boicaiuva passa a trabalhar na redação do Diário do Rio de Janeiro. Uma das lendas sobre Machado de Assis que sua caligrafia era muito ruim. Redator do Diário de Janeiro, seus companheiros de trabalho, os revisores, recusaram trabalhar com ele, sem que melhorasse sua letra. As reclamações chegaram até o proprietário do periódico que afirmou que só acreditaria se visse os originais de Machado. Mas reconheceu que apesar do talento, a caligrafia era ruim mesmo. Chamado para decifra suas anotações aconteceu algo até hilário, nem o escritor conseguiu traduzir. Por fim, teve que melhorar sua caligrafia.
Contribuiu também nas revistas O espelho, Jornal das Famílias e através do pseudônimo Doutor Semana – escreve no Semana Ilustrada – todos periódicos culturais.
Em 1861, o escritor participa como tradutor da obra “Queda que as mulheres tem para os tolos”. E no ano seguinte conhece o português Faustino Xavier de Novais, diretor do jornal O Futuro, informativo cultural, que também era irmão de sua futura esposa, Carolina Augusta.
A primeira obra literária dele foi Crisálidas, publicada em 1864, aos 29 anos de idade e dois anos depois obtém uma promoção; é nomeado ajudante do diretor do Diário Oficial do Império. Em 1869 sofre uma grande perda, morreu seu amigo Faustino Xavier, o que serve para aproximá-lo mais de Carolina, e por conseqüência, casam-se, no dia 12 de novembro, ela com 32 anos e ele com 27.
O emprego público e o casamento sólido são as bases tranqüilas que o escritor necessitava para se sentir à vontade para dedicar seu tempo ao que tanto deseja: escrever. Carolina além de ser uma perfeita companheira, influenciou de forma decisiva em sua formação literária.
Não demorou muito, e no ano de 1872, Machado de Assis publica seu primeiro romance – “Ressurreição”. Isso coincide com mais uma promoção: agora ele é alçado ao cargo de primeiro oficial da Secretaria de Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Em 1889, ano da proclamação da republica, torna-se diretor de Comercio da mesma pasta
Dois anos depois Quintino Bocaiúva convida Joaquim para publicar como novela o romance “A mão e a Luva”. É o mesmo ano em que consegue terminar de escrever um dos seus livros mais conhecidos – Memórias Póstumas de Brás Cubas, que dá inicio ao estilo realismo na literatura brasileira.
Juntamente com o amigo e também escritor José Veríssimo, dirige a Revista Brasileira, entra em contato com vários intelectuais e cria no dia 28 de janeiro de 1897 a Academia Brasileira de Letras
, aonde viria a ser eleito o primeiro presidente.Entre os anos de 1882 a 1906, Machado de Assis escreve os contos: Papeis Avulsos, Paginas recolhidas e Relíquias da Casa Velha.
Em 1904, morre Carolina, e Machado de Assis escreve em sua homenagem, no meio do luto, um de seus melhores poemas, Carolina. Mas a depressão e um câncer o fez falecer em 29 de setembro de 1908, em sua velha casa no bairro carioca do Cosme Velho. Nem nos últimos dias, aceitou a presença de um padre que lhe tomasse a confissão. Bem conhecido pela quantidade de pessoas que visitaram o escritor carioca em seus últimos dias, como Mário de Alencar, Euclides da Cunha e Astrogildo Pereira. .
Seu corpo foi velado na sede da Academia Brasileira de Letras, que passou depois a ser denominada em sua homenagem de Casa de Machado de Assis.
A obra do escritor pode ser dividida em duas fases distintas: romântica e realista. Na primeira os personagens de seus livros são românticos e o principal enredo é a conquista do amor verdadeiro. São frutos deste período as obras: Ressurreição, A Mão e a Luva, Helena e Iaiá Garcia. Foram escritos na fase realista os livros: Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro e Memorial de Aires, que são caracterizados pelas questões psicológicas e sociais, onde as pessoas são retratadas com seus defeitos e qualidades.
BIBLIOGRAFIA:
Comédia
Desencantos, 1861.Tu, só tu, puro amor, 1881.
Poesia
Crisálidas, 1864.Falenas, 1870.Americanas, 1875.Poesias completas, 1901.
Romance
Ressurreição, 1872.A mão e a luva, 1874.Helena, 1876.Iaiá Garcia, 1878.Memórias Póstumas de Brás Cubas, 1881.Quincas Borba, 1891.Dom Casmurro, 1899.Esaú Jacó, 1904.Memorial de Aires, 1908.
Conto:
Contos Fluminenses,1870.Histórias da meia-noite, 1873.Papéis avulsos, 1882.Histórias sem data, 1884.Várias histórias, 1896.Páginas recolhidas, 1899.Relíquias de casa velha, 1906.
Teatro
Queda que as mulheres têm para os tolos, 1861Desencantos, 1861Hoje avental, amanhã luva, 1861.O caminho da porta, 1862.O protocolo, 1862.Quase ministro, 1863.Os deuses de casaca, 1865.Tu, só tu, puro amor, 1881.
Algumas obras póstumas
Crítica, 1910.Teatro coligido, 1910.Outras relíquias, 1921.Correspondência, 1932.A semana, 1914/1937.Páginas escolhidas, 1921.Novas relíquias, 1932.Crônicas, 1937.Contos Fluminenses - 2º. volume, 1937.Crítica literária, 1937.Crítica teatral, 1937.Histórias românticas, 1937.Páginas esquecidas, 1939.Casa velha, 1944.Diálogos e reflexões de um relojoeiro, 1956.Crônicas de Lélio, 1958.Conto de escola, 2002.
Antologias
Obras completas (31 volumes), 1936.Contos e crônicas, 1958.Contos esparsos, 1966.Contos: Uma Antologia (02 volumes), 1998
Suas principais obras foram traduzidas para diversos idiomas e grandes escritores contemporâneos como Salman Rushdie, Cabrera Infante e Carlos Fuentes confessam serem fãs de sua ficção, como também o confessou Woody Allen. A Academia Brasileira de Letras criou o Espaço Machado de Assis, com informações sobre a vida e a obra do escritor.


Endereço para ler a obra de Machado de Assis:
Biblioteca Digital MetaLibri
Academia Brasileira de Letras
Obras de Machado de Assis para leitura na Internet
Obras de Machado de Assis para download
Manuscrito de Machado de Assis

Um comentário:

Anônimo disse...

Meu Deus, que visão do mundo etnocentrada. Como se as coisas se resumissem às "raças" das pessoas...