quinta-feira, dezembro 29, 2005

Stan Tookie Williams – Uma voz calada por Schwarzenegger



Terça, 13 de dezembro de 2005, 06h55, foi executado Stan "Tookie" Williams. Ele foi o fundador da Crips Los Angeles, talvez a mais temida e famosa gangue de rua. Foi detido e enviado para San Quentín acusado de quádruplo homicídio. Neste meio tempo ele se mostra um líder entre os outros internos e, mesmo preso, comanda atividades criminosas. Aos poucos ele reconhece seus erros e começa a escrever livros infantis com o intuito de evitar que os jovens não participem de gangues, pois a violência é algo que não leva a nada. Os livros são lançados e se tornam um sucesso mundial de tal magnitude que Williams é indicado para o Prêmio Nobel da Paz.
O caso de Tookie, 51 anos, gerou uma campanha internacional por clemência. Celebridades de Hollywood, entre eles Jamie Foxx e Danny Glover, líderes negros como Jesse Jackson e opositores à pena de morte em todo o mundo se manifestaram em favor de Williams, dando como exemplo seu trabalho contra a violência. Seus defensores afirmam ter recebido "dezenas de milhares" de cartas e e-mails que sustentam que a mensagem do condenado contra as gangues repercute nas ruas e nos centros de detenção de delinqüentes juvenis.
Foxx chegou a interpretar Tookie em um filme memorável – Redenção – ainda a disposição nas locadoras. Willians teve negado ontem o pedido de clemência pelo governador da Califórnia, e ator Arnold Schwarzenegger , e pela Suprema Corte dos Estados Unidos. Ele recebeu a injeção letal, por volta das 6h, na prisão de San Quentín, na região de San Francisco.

terça-feira, dezembro 27, 2005

Olha o menino!


REFRAO: Olha o menino ui, olha o menino ui ui (2X)

Um dia eu fui criança, um dia eu fui um rei
Um dia eu fui um anjo, um dia eu sonhei
Um dia eu brinquei, corria atras da bola
Um dia eu pulei o muro da escola
Um dia acreditei em papai - noel
Mas a vida me mostrou, qual é o meu papel
Deus do céu, deixe que eu cresça e a esperança não desapareça
Vejo meu filho correndo atras da bola
Ao sol do meio-dia, voltando da escola.
Moleque pobre, humilde, sem ambição, vidrado pela bola,
Ligado na televisão.
Me vejo nele, ele se vê em mim.
Pro meu filho eu serei um bom exemplo até o fim
Se liga so, se liga quem sou eu
Queira chegar mais, o microfone é todo seu
" Sei que nascer pobre, não é fácil
Que não posso dar ponto, tenho que ser ágil
O barato é louco desse jeito assim
O futura da nação so depende de mim.
Tenho orgulho do meu pai, do meu tio, dos meus manos
Chego trincando, então vamo que vamos
Não deixo o sistema me fazer de refém.
Salve simpatia, salve Jorge Bem
Caro Muhamed nome de guerreiro
É to lado a lado com meus parceiros"

REFRAO: Olha o menino ui. Olha o menino ui ui (2X)


A melhor coisa que me aconteceu em 2005 foi ser pai!
Pena que estou sem maquina digital para poder colocar a foto dele de verdade. Fica valendo esta como exemplo e em nome de todos os meninos e meninas pretas que nasceram neste ano.
Ele me motiva a continuar como militante negro. Agora eu luto por ele também!

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Feliz Afro Natal


Jesus Walk (Tradução)
Kanye West
Jesus caminha
Deus me mostre o caminho pq o mal tá tentando me acabar
Jesus caminha comigo
A única coisa q peço é meu pés não me falhem agora
Jesus caminha
E eu não acho q isso é nada pq eu posso fazer do certo meus
Erros
Jesus caminha comigo
Eu gostaria de falar com deus mas tenho medo pq nós não podemos

O agrande Adbias do Nascimento, uma vez comprou uma briga com a Igreja Catolica, quando tentou retratar um jesus Cristo Negro. O conservador "principe" Dom Eugenio Salles foi contra. Mas não suporto essa iamgem dominante de um Papai Noel Branco, gordo e que não visita a periferia, como já cantava os Garotos Podres, numa canção punk clássica. Prefiro um com a cara de Preto Velho Mesmo assim, Feliz Natal a todos!!!

sexta-feira, dezembro 09, 2005

Saudade da Rainha Quelé


A Rainha Ginga. Quelé. Duas maneiras de chamar Clementina de Jesus (1901-1987) , com a imponência do título de realeza e com a corruptela carinhosa de seu nome. Clementina evocava tais sentimentos aparentemente contraditórios. A tenura e o profundo respeito.
A ternura de negra velha sorridente. Todos com quem se envolvia tinham a compulsão de chamar de Mãe, como a chamavam os músicos do musical Rosa de Ouro.Uma pessoa capaz de interromper um depoimento dado à televisão para discutir sobre o café com a moça que o servia. Um brilho especial nos olhos que cativou desde os mais humildes ao imperador Haile Selassié. Talvez por ter trabalhado tantos anos como empregada doméstica e ter começado a carreira artística aos 63 anos, descoberta pelo poeta Hermínio Bello de Carvalho, nunca tratava de forma diferente devido à posição social.
O respeito ao peso ancestral de sua voz. Uma África que estava diluida em nossa cultura é evocada subitamente na voz e nos cânticos que Clementina aprendeu com sua mãe filha de escravos. Clementina surgiu como o elo perdido entre a moderna cultura negra brasileira e a África Mãe.
Clementina foi causou uma fascinação em boa parte da MPB. Artistas tão diferentes como João Bosco, Milton Nascimento e Alceu Valença fiseram questão de registrar sua voz em seus álbuns. Apesar disto Clementina nunca foi um grande sucesso em vendagem de discos. Talvez por ter gravado quase que somente temas folclóricos, ou por sua voz não obedecer aos padrões estéticos tradicionais. O que realmente impressionava eram suas aparições no palco, onde tinha um contato direto com seu público.
Clementina, mesmo tendo iniciado tardiamente sua vida artística e com uma curta carreira, é sem dúvida uma das mais importantes artistas brasileira. Apesar disto hoje em dia não existe um único de seus discos em catálogo

texto tirado do site samba-choro

terça-feira, novembro 29, 2005

HOTEL RUANDA EM DVD EM DEZEMBRO



Don Cheadle interpreta Paul Rusesabagina é o gerente do “Hotel des Milles Colines”, na cidade de Kigali no filme Hotel Ruanda. O lançamento do DVD é agora em dezembro e com certeza será uma de minhas aquisições. Recomendo que vejam a Historia, principalmente neste atual contexto da aplicação da Lei que obriga as escolas a ensinar a historia da Africa e do Negro.
Não tenho esperança que será lançado na TV, mas de vez em quando o SBT tem se mostrado mais aberto a filmes negros.

segunda-feira, novembro 07, 2005

VIDA E MORTE DE LIMA BARRETO


“O Brasil não tem povo, tem público” - essa fala é de um escritor pouco conhecido da maioria, excetos os estudantes de Letras ou cursos de pré-vestibular. Sua obra é conhecida: “Triste Fim de Policarpo Quaresma” – que virou filme, e “Clara dos Anjos” – que teve sua historia contada parcialmente na novela da Rede Globo – Fera Ferida. Mas o autor – Lima Barreto, é praticamente desconhecido. E sua morte e nascimento novamente passaram em branco este ano – dia 1 de novembro.
O nome completo do escritor era Afonso Henrique de Lima Barreto. Ele escreveu além dos romances citados, Recordações do Escrivão Isaías Caminha, Numa e a Ninfa, Vida e Morte de M.J. Gonzaga de Sá. Escreveu os contos: Historias e Sonhos e Outras Historias e Contos Argelinos.
Como jornalista são destaques: Bagatelas, Feiras e Mafuás, Marginalia e Vida Urbana. Ainda teve tempo de produzir textos satíricos como Os Bruzundangas e Coisas do Reino Jambom. Na década de 50 foram publicados: Diário Íntimo, O Cemitério dos Vivos, Impressões de Leitura e Correspondência Ativa e Passiva.
Enfim – foi uma vida muito criativa, mas que terminou pobre, miserável, afundada no alcoolismo. Há um relato de Monteiro Lobato, que ao procurá-lo para inspiração, ficou assustando com o grau de pobreza em que se encontrava. Teve até vergonha de se identificar, com receio de ofender Lima Barreto.
Ele nasceu 8 anos antes da abolição da escravidão – em 1881. Era carioca, negro e alto. Conheceu desde cedo o racismo e preconceito. Como ótimo estudante conseguiu entrar na conceituada Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Mas devido à situação sócio-econômica da família, teve que abandonar os estudos e assumir o sustento da casa como servidor publico na Secretaria de Guerra. Um fato ao abalou muito nesse período – a perda da sanidade do pai.
Em 1905 se tornou jornalista profissional no Correio da Manhã e afeiçoado com as letras consegue publicar 4 anos depois sua primeira obra: “Recordações do Escrivão Isaías Caminha”. Foi um marco da literatura da época. Lima Barreto criava um novo estilo e se atrevia a satirizar as relações da rica sociedade do inicio do século XX.
Mas o velho de sua obra viria logo depois – Triste Fim de Policarpo Quaresma – era um mordaz critica a perversão dos ideais republicanos pelos militares e grandes fazendeiros. O maior atingido por esse livro foi o presidente Floriano Peixoto. Resultado: foi perseguido e em menos de 4 anos, sua vida sentiu os reflexo da ação de seus perseguidores. Foi internado como louco num hospício, quando na verdade era apenas um alcoólatra.
Até seu falecimento, Lima Barreto passou inúmeras vezes por internações devido o estado de saúde. Sua ultima obra publicada em vida foi – Vida e Morte de M.L. Gonzaga de Sá. Teve tempo para se dedicar na elaboração da historia, que reflete muito seu estado de espírito.
Diferente de Machado de Assis, o escritor era um grande critico da Academia Brasileira de Letras. Apesar de ter sido fundada por afro-brasileiro, dentro dela, os integrantes exalavam preconceitos raciais e sociais. Lima acredita que um ambiente assim não era propicio para grandes obras literárias e nem condizentes com o país.
Há que analise que existiu de fato uma disputa com o autor de “Dom Casmurro” e “Clara dos Anjos”. Machado era taxado de burguês e escrever para entreter a alta sociedade, sem cutucar seus pobres. Lima era o maldito, amada por todos que odiavam os ricos e era considerado um elemento perigoso pelas autoridades do período, por seu estilo irreverente e provocativo. Certo é que os dois foram contemporâneos, mas não eram exatamente amigos.

Aos 41 anos de idade, celibatário incorrigível, Lima Barreto, morreu sem despertar muito interesse e nem choro de viúva ou filhos. O filho da negra Amélia Augusto Barreto e do português João Henriques Lima Barreto fez sua breve passagem pela vida, para nascer e viver no Brasil, deixar 17 obras e chacoalhar o ócio do brasileiro.
Mas discordo de quem afirma que ele não deixou herdeiros. Os letristas do Hip Hop e representam com uma perfeição que não me assustará que no final da prova do DNA, descobrimos que muitos são seus verdadeiros tataranetos de sangue.

quinta-feira, outubro 06, 2005

MARIO RAÚL DE MORAES ANDRADE


Com certeza, você conhece o livro Macunaíma. Ou já viu o filme estrelado por Grande Otelo e Paulo José. Mas tenho certeza, que poucos conhecem o escritor que inventou o personagem: Mario de Andrade – escritor afro brasileiro e um dos maiores ativistas culturais que o Brasil já teve.
Mario Raul de Moraes de Andrade nasceu no dia 9 de outubro de 1893, século XIX. Até sua formatura não Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, tem uma vida comum a todos de sua época. Tornou-se professor da mesma instituição onde ensinava Historia da Musica e estética Musical.
Mas somente aos 24 anos de idade começa a trilhar o caminho da literatura, lançando o livro de poesia: Há Uma Gota de Sangue em cada Poema. Mas se esconde através do pseudônimo de Mario Sobral.
Aos 29 anos, como jornalista e escritor, Mario de Andrade, é juntamente com Oswald de Andrade e outros, organizador do marco da historia cultural do país – a Semana de Arte Moderna, realizado em 1922, no Teatro Municipal de São Paulo, que a principio chocou a sociedade.
Quando em 1934, assume o pioneiro Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo, faz um mandato revolucionário e importante para a Arte Brasileira. Mario institui a Sociedade de Etnografia e Folclore, o Coral Paulistano, o Quarteto Haydn e a Discoteca Publica Municipal. Também organiza a Biblioteca Publica Municipal de São Paulo, que hoje leva seu nome.
Andrade é também inovador quando ajuda na elaboração da primeira lei do Serviço de Patrimônio histórico e Cultural, iniciando o processo de tombamento histórico de edificações na capital paulista.
Na área da língua Portuguesa, Mario de Andrade, organizou o primeiro Congresso Nacional da Língua Cantada e chefiou o recém criado Instituto do Livro. Participou da primeira Enciclopédia Brasileira, funda a Academia Paulista de Letras.

O escritor circulou o país registrando em gravador ou em filme as manifestações culturais brasileiras, para preservá-las para as gerações seguintes. E nessas viagens, acabou tendo inspiração para escrever seu maior clássico: Macunaíma, a invenção de um anti-herói brasileiro. Na obra critica de forma satírica as imperfeições do país, representadas no personagem fictício.
Mario de Andrade ainda escreve os livros Paulicéia Desvairada, A Escrava Que Não era Isaura e Lira Paulista.
No dia 25 de fevereiro, em 1945, morre após um fulminante ataque do coração. A data passou em branco, esse ano 60 anos depois, mas deve ser resgatadas pelos militantes negros, intelectuais, professores e estudantes.

DIA 11 DE OUTUBRO – DIA DE CARTOLA


Nunca é tarde para começar. Assim foi com Agenor de Oliveira. Por esse nome ninguém vai saber quem é, mas o apelido Cartola, é símbolo do samba autentico e de raiz. Morreu no dia 30 de novembro de 1980, beneficiando-se pouco de seu sucesso, mas subiu aos céus, com o sentimento de ter conseguido fazer pelo menos um pouco de que tanto sonhou.
Cartola era filho de Ana Gomes de Oliveira e Sebastião Joaquim de Oliveira, nascendo no bairro do Catete – classe media baixa do Rio de Janeiro. Aos 11 anos, ele e sua família vão morar, por problemas financeiros no local que iria marcar sua vida artística: o Morro de Mangueira, especificamente no Buraco Quente.
Em Mangueira, o menino Agenor, começa a ter amizade com as crianças do local e freqüentar as festas. Seu pai o repreende, o que geram muitas brigas. Mas aos 14 anos presencia seu Sebastião deixa o Morro e a morte por doença de Dona Ana – sua mãe.
Mas a vida segue, e já adolescente, entrar no Mercado de Trabalho como ajudante de pedreiro. E nesse trabalho um truque lhe cria um apelido: usa um chapéu coco para evitar que o cal ou cimento caiam sobre a cabeça e os olhos. Os companheiros de trabalho acham a atitude irreverente e apelidam o jovem de “Cartola”, um tipo bacana. E o nome ficou. Além disso, se vestia de forma elegante, mesmo no cotidiano.
Assim como trabalha arduamente durante o dia, a noite freqüenta as rodas de samba e passa a compor. Não demora a juntar-se com outros sambistas e fundam na comunidade uma escola de samba – o Grêmio Recreativo Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, com as cores: verde e rosa. Cartola torna-se o diretor de Harmonia da escola.

No morro, suas composições tinham como ouvintes garantidos Villa Lobos e Stokowsky e outros que assim conheceram o samba.
Viúvo da primeira mulher casa-se depois com aquela que viria a ser sua grande companheira, Euzebia da Silva Oliveira – Dona Zica. Inclusive conta a lenda teve compôs a letra de Tive Sim – para responder aos insistentes questionamentos da esposa sobre seu primeiro amor. Os dois chegam inclusive a abrir um Bar, que se tornou local de encontro no Morro da Mangueira de compositores – o Zicartola.
Mas sua notoriedade só acontece quando é descoberto pelo jornalista Stanislaw Ponte Preta, como lavador de carros em Ipanema, e que após uma reportagem, redescobre o sambista e consegue assim, lhe dar a chance tardia de gravar suas composições. Mas desse período de sucesso, pode curtir pouco, pois sua saúde já está fragilizada e morre em novembro de 1980.
De sua cabeça saíram letras de As Rosas não Falam, Cordas de Aço e O Mundo é um Moinho.

O jornalista José do Patrocínio


Filho de uma quitandeira com um padre, ele nasceu no dia 8 de outubro de 1853, o farmacêutico, jornalista e abolicionista José Carlos do Patrocínio. O nome de sua mãe era Justina Maria do Espírito Santo, que era uma negra livre. Seu pai era o sacerdote João Carlos Monteiro.
Patrocínio teve uma infância sem muitas privações, com diversas experiências de racismo. Co  muito esforço ele se formou em Farmácia, o que possibilitou que conseguisse emprego como funcionário no Hospital de Misericórdia do Rio de Janeiro.
Mas a vivencia com personalidades progressistas na capital do Império, fez com que se se torna um apaixonado pela polemica e logo se engaja na luta pela abolição da escravatura. Sozinho funda um jornal abolicionista – a Gazeta da Tarde. Por sua atuação era apelidado de Tigre da Abolição.
José do Patrocínio foi um dos maiores articuladores do Movimento contra a Escravidão, criando inclusive a Confederação Abolicionista. Mas era muito criticado por republicanos por ser monarquista e  reverenciar a família imperial pela assinatura da lei Áurea é muito hostilizado.
A proclamação da abolição da escravidão em 1884, no estado do Ceará, é creditada a sua interferência e campanha política lá realizada. Também lá teria tomado inspiração e dados para escrever suas futuras obras.
Seu, sogro, Emiliano Rosa de Senna também colaborou com a Abolição, quando fundou, no Rio de Janeiro, o Clube José do Patrocínio, destinada à participação feminina na campanha. As primeiras sociais foram Virginia Villa-Nova, Adelina dos Santos, e Henriqueta Senna, a Bibi – esposa de José do Patrocínio. A entidade teve vida curta, mas forte participação. Sua executiva era formada por Eponina Senna, Cacilda de Souza e Rosalina Senna.
No dia 13 de maio de 1888, um domingo, José do Patrocínio, foi um das pessoas, juntamente com Joaquim Nabuco e André Rebouças, que levou às mãos da princesa regente Isabel, a lei Áurea, para que fosse sancionada e assinada. No ato, conta alguns biógrafos, que ele chorou.
Naquele dia, em conversas com amigos, ele dizia que poderia morrer em paz com sua consciência, mas os amigos imaginavam que no futuro seu enterro, seria acompanhado por imensa multidão, sendo aclamado como verdadeiro herói.
Patrocínio formou em 28 de setembro de 1888 a Guarda Negra, movimento paramilitar, composto por negros, que tinha passagem pelo Exercito e com habilidade em capoeira. O objetivo dele era demonstrar gratidão a família real pela abolição e intimidarem republicanos e tumultuar os comícios.
A ação da Guarda negra travava batalhas com os partidários do fim da Republica, sendo classificados como terroristas. Antonio Jardim, advogado abolicionista, chega a realizar suas palestras e comícios em posse de um revolver, atento a ação dos capoeiristas da Guarda Negra.
Também é admirado por sua obra literária, que publicou os livros Mota Coqueiro, Pedro Espanhol e Os Retirantes. E também foi integrante da Academia Brasileira de Letras.
Morre pobre em 1905. Com o fim da monarquia seus adversários republicanos fecham oportunidades, levando a penúria o jornalista. Deixou viúva Maria Henriqueta de Sena Patrocínio, tratada carinhosamente de Bibi; e os filhos Marieta, Maceu, Job e José Carlos do Patrocínio Filho.

quarta-feira, setembro 28, 2005

134 ANOS DE LEI DO VENTRE LIVRE

Criança Negra na Casa Grande

Ao invés de ficar analisando a lei do Ventre Livre, prefiro que os meus leitores tenham a oportunidade de ler o texto dela na integra e tirarem suas conclusões. Verão com certeza que a Abolição não foi um processo simples e fácil e sim gradativo e bem negociado, mas que pecou por uma lei Áurea, sem artigos que produziriam indenização e promoção social das pessoas que foram escravas.


LEI DO VENTRE LIVRE
Lei nº. 2 040, de 28 de setembro de 1871
Declara de condição livre os filhos de mulher escrava que nascerem desde a data desta lei, libertos os escravos da Nação e outros e providencia a criação e tratamento daqueles filhos menores e dispõe sobre a libertação anual de escravos.
A Princesa Imperial Regente, em nome de S. M. o Imperador e Sr. D. Pedro II, faz saber a todos os cidadãos do Império que a Assembléia Geral decretou e ela sancionou a lei seguinte:
Art. 1º — Os filhos de mulher escrava que nascerem no Império desde a data desta lei serão considerados de condição livre.
§ lº — Os ditos filhos menores ficarão em poder e sob a autoridade dos senhores de suas mães, os quais terão a obrigação de criá-los e tratá-los até a idade de oito anos completos. Chegando o filho da escrava a esta idade, o senhor da mãe terá opção, ou de receber do Estado a indenização de 600$000, ou de utilizar-se dos serviços do menor até a ida de 21 anos completos. No primeiro caso, o Governo receberá o menor e lhe dará destino, em conformidade da presente lei. A indenização pecuniária acima fixada será paga em títulos de renda com o juro de 6%, os quais se considerarão extintos no fim de 30 anos. A declaração do senhor deverá ser feita dentro de 300 dias, a contar daquele em que o menor chegar à idade de oito anos e, se não fizer então, ficará entendido que opta pelo arbítrio de utilizar-se dos serviços do mesmo menor.
§ 2º — Qualquer desses menores poderá remir-se do ônus de servir, mediante indenização pecuniária, que por si ou por outrem ofereça ao senhor de sua mãe, procedendo-se à avaliação dos serviços pelo tempo que lhe restar a preencher, se não houver acordo sobre o quantum da mesma indenização.
§ 3º_ Cabe também aos senhores criar e tratar os filhos que as filhas de suas escravas possam ter quando aquelas estiverem prestando serviços. Tal obrigação, porém, cessará logo que findar a prestação de serviços das mães. Se estar falecerem dentro daquele prazo, seus filhos poderão ser postos à disposição do Governo.
§ 4º — Se a mulher escrava obtiver liberdade, os filhos menores de Oito anos, que estejam em poder do senhor dela por virtude do § 1 lhe será entregues, exceto se preferir deixá-los e o senhor anuir a ficar com eles.
§ 5º — No caso de alienação da mulher escrava, seus filhos livres, menores de 12 anos, a acompanharão, ficando o novo senhor mesma escrava sub-rogado nos direitos e obriga
§ 6º— Cessa a prestação dos serviços dos filhos das escravas antes do prazo marcado no § 1 se por sentença do juízo criminal, reconhecer-se que os senhores das 6sães os maltratam, infligindo-lhes castigos excessivos.
§ 7º_ O direito conferido aos senhores no § la transfere-se nos casos de sucessão necessária, devendo o filho da escrava prestar serviços à pessoa a quem nas partilhas pertencer a mesma escrava.
Art. 2º — O Governo poderá entregar as associações por ele autorizadas os filhos das escravas, nascidos desde a data desta lei, que sejam cedidos ou abandonados pelos senhores delas, ou tirados do poder destes em virtude do Art. IC § 6 § 1 — As ditas associações terão direito aos serviços gratuitos dos menores até a idade de 21 anos completos, e poderão alugar esses serviços, mas serão obrigadas:
§ lº - A criar e tratar os mesmos menores. 2 — A constituir para cada um deles um pecúlio, consistente na quota que para este fim for reservada nos respectivos estatutos. 3 — A procurar-lhes, fim do o tempo de serviço, apropriada colocação.
§ 2a — As associações de que trata o parágrafo antecedem te serão sujeitas à inspeção dos Juízes de Óficios, quando menores.
§ 3º_ A disposição deste artigo é aplicável às Casas dos Ex postos, e às pessoas a quem os Juízes de Órfãos encarregarem da educação dos ditos menores, na falta de associações ou estabelecimentos criados para tal fim.
§ 4º — Fica salvo ao Governo o direito de mandar recolher os referidos menores aos estabelecimentos públicos, transferindo-se neste caso para o Estado as obrigações que o § l impõe às associações autorizadas.
Art. 3 — Serão anualmente libertados em cada província do Império tantos escravos quantos corresponderem à quota anualmente disponível do fundo destinado para a emancipação.
§ lº — O fundo de emancipação compõe-se de: 1. Da taxa de escravos. 2. Dos impostos gerais sobre transmissão propriedade dos escravos. 3. Do produto de seis loterias anuais, isento de impostos e da décima parte das que forem concedidas de ora em diante para correrem na capital do Império. 4. Das multas impostas em virtude desta lei. 5. Das quotas que sejam marcadas no Orçamento Geral e nos provinciais e municipais. 6. De subscrições, doações e lega dos com esse destino.
§ 2º — As quotas marcadas por Orçamentos provinciais e municipais, assim como as subscrições, doações e legados com destino local, serão aplicadas à emancipação nas Províncias, Comarcas, Municípios e Freguesias desiguais.
Art. 4 — É permitido ao escravo a formação de um pecúlio como que lhe provier de doações, legados e heranças, e com economias. O Governo providenciará nos regulamentos
sobre a colocação e segurança do mesmo pecúlio.
§ 3º — Por morte do escravo, metade do seu pecúlio pertencerá ao seu cônjuge sobrevivente, se o houver, e a outra metade se transmitirá aos seus herdeiros na forma da lei civil.
Na falta de herdeiros, o pecúlio será adjudicado ao fundo de emancipação, de que trata o art. 35•
§ 2º — O escravo que, por meio do seu pecúlio, obtiver meios para a indenização de seu valor, tem direito a alforria. Se a indenização não for fixada por acordo, o será por arbitramento. Nas vendas
judiciais ou nos inventários, o preço da alforria será o da avaliação.
§ 3º_ É, outrossim, permitido ao escravo, em favor de sua liberdade, contratar com terceiro a prestação de futuros ser viços por tempo que não exceda de sete anos, mediante o consentimento do senhor e a aprovação do Juiz de Órfãos.
§ 4º — O escravo que pertencer a condôminos e for libertado por um destes, terá direito a sua alforria indenizando os outros senhores da quota do valor que lhes pertencer. Esta indenização poderá ser paga com serviços prestados por prazo não maior de sete anos, em conformidade do parágrafo antecedente.
§ 5º — A alforria com a cláusula de serviços durante certo tempo não ficará anulada pela falta de implemento da mesma cláusula, mas o liberto será compelido a cumpri-la por meio de trabalhos nos estabelecimentos públicos ou por contratos de serviços a particulares.
§ 6º — As alforrias, quer gratuitas, quer a título oneroso, serão isentas de quaisquer direitos, emolumentos ou despesas.
§ 7º Em qualquer caso de alienação ou transmissão de escravos, é proibido, sob pena de nulidade, separar os cônjuges e os filhos menores de doze anos, do pai ou da mãe.
§ 8º — Se a divisão de bens entre herdeiros ou sócios não comportar a reunião de uma família, e nenhum deles preferir conservá-la sob seu domínio, mediante reposição da quota-parte dos Outros interessados, será a mesma família vendida e o seu produto rateado.
§ 9º — Fica derrogada a Ord. Liv. 4º tít. 63, na parte que revoga as alforrias por ingratidão.
Art. 5º_ Serão sujeitas à inspeção dos Juízes de Órfãos as Sociedades de emancipação já organizadas e que de futuro se organizarem.
§ único— As ditas sociedades terão privilégios sobre os serviços dos escravos que libertarem, para indenização do preço da compra.
Art. 6º- serão declarados libertos:
§ lº Os escravos pertencentes à Nação, dando-lhes o Governo a ocupação que julgar conveniente.
§ 2º — Os escravos dados em usufruto à Coroa,
§ 3º - Os escravos de heranças vagas
§ 4º — Os escravos abandonarem por seus senhores . Se estes os abandonarem por inválidos, serão obrigados a alimenta-los, salvo o caso de penúria, sendo os alimentos taxados pelo Juiz de Órfãos.
§- 5º - Em geral, os escravos libertados em virtude desta lei ficam durante cinco anos sob a inspeção do Governo. Eles são obrigados a contratar seus serviços sob a pena de serem constrangidos, se viverem por vadios, a trabalhar nos estabelecimentos públicos. Cessará, porém, o constrangimento do trabalho sempre que o liberto exibir contrato de serviço.
Art. 7º - Nas causas em favor da liberdade:
§ 1º O processo será sumário.
§ 2 -Haverá apelações ex-oficio quando as decisões forem contrárias à liberdade.
Art. 8º — O Governo mandará proceder à matrícula especial de todos os escravos existentes no Império, com declaração do nome, sexo, estado, aptidão para o trabalho e filiação de cada um se for conhecida.
§ l° - O prazo em que deve começar e encerrar-se a matrícula será anunciado com a maior antecedência possível por meio de editais repetidos, nos quais será inserta a disposição do parágrafo seguinte.
§ 2º — Os escravos que, por culpa ou omissão dos interessados, não forem dados à matrícula até por um ano de pois do encerramento desta, serão por este fato considera dos libertos.
§ 3º — Pela matrícula de cada escravo pagará o senhor por uma vez somente o emolumento de 500 réis, se o fizer dentro do prazo marcado, e de 1$000 réis se exceder o dito prazo. O produto desse emolumento será destinado às despesas de matrícula e o excedente ao fundo de emancipação.
§ 4º - Serão também matriculados em livro distinto os filhos da mulher escrava, que por esta lei ficam livres. Incorrerão os senhores omissos, por negligência, na multa de l00$000 a 200$000, repetidas tantas vezes quantos forem os indivíduos omitidos, e por fraude nas penas do art. 179 do código criminal.
§ 5º - Os párocos serão obrigados a ter livros especiais para o registro do nascimento e óbitos dos filhos de escravas, nascidos desde a data desta lei. Cada omissão sujeitará os párocos à multa de 1 00$000.
Art. 9º -_ O Governo em seus regulamentos poderá impor multas até 1 00$000 e penas de prisão simples até de um mês. Art. 10— Ficam revogadas as disposições em contrário. Manda, portanto, a todas as autoridades a quem o conheci mento e execução da referida lei pertencer, que a cumpram e façam cumprir e guardar tão inteiramente como nela se contém.
O Secretário de Estado de Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas a faça imprimir, publicar-se e correr.
Data no Palácio do Rio de Janeiro, aos 28 de setembro de 1871, 50º da Independência e do Império – Princesa Imperial Regente – Teodoro Machado Freire Pereira da Silva.

segunda-feira, setembro 26, 2005

FILME RAY


Finalmente tive tempo de assitir o filme sobre Ray Charles. É excelente, uma obra de arte. Mas peca pelo fim, meio as pressas. Tirando isso, o ator Jamie Foxx está perfeito no papel e até na voz do grande cantor

FRENTE NEGRA BRASILEIRA

Francisco lucrécio
No dia 16 de setembro de 1931, foi criada uma das maiores entidades não governamentais do Movimento Negro Brasileiro – a Frente Negra Brasileira, que em 1936 tornou-se um partido Político, sendo extinta um ano depois por ordem de Getulio Vargas. Pensando nos Meios de Comunicação, em 1933, eles lançaram um jornal próprio – A Voz da Raça.
A sede da Frente Negra ficava onde hoje está instalada a Casa de Portugal, na Avenida Liberdade, no bairro do mesmo nome, em São Paulo – capital. Começou com objetivo puramente assistencialista, mas com o amadurecimento dos militantes, se transformou num forte instrumento de combate ao racismo no começo do século XX. Por suas fileiras passaram Abdias do Nascimento, Francisco Lucrécio e José Correia Leite.
A orientação ideológica era muito indefinida na Frente Negra Brasileira. Aos que enxergam nela inspirações extrema direta, por ordenarem a uniformização dos integrantes e uma organização interna – quase militar. No mesmo período estava em ascensão do Fascismo na Itália de Mussolini,o Nazismo de Adolf Hitler e a Ação Integralista de Plínio Salgado no Brasil. Mas a passagem de dirigentes da Frente Negra pelo Serviço Militar pode dar resposta a isso.
Outra fonte de inspiração na Frente Negra Brasileira, eram as ideologias de esquerda. Tanto é que socialistas entre os integrantes chegaram a fundar uma ala de esquerda. Eles chegam a funda a Legião Negra Brasileira.
A Frente Negra dava assistência social aos sócios nas áreas de Educação e Saúde e realizava grandes eventos sociais com predominância afro-brasileira. Era um contraponto a segregação racial que o afro-descendente passaram no país, sendo sutilmente barrados em grandes bailes na capital paulista.
O poder político da entidade pode ser medido por fotos de jornais da época, onde até o presidente da republica, Getulio Vargas, recebe com pompa os dirigentes da Frente Negra, tentando inclusive cooptar para seu arco de aliança. Alguns até cederam, mas a grande maioria, optou por um caminho próprio – e assim nasceu a idéia de se transformar numa legenda partidária.
As ambições na política eram grandes. Pensavam os militantes em lançar até candidatos a presidente, raciocinando que outros não candidatos já não representavam os interesses da Comunidade Negra.
Quando as ações iriam ser colocadas em pratica, o ditador Getulio extingue a legenda junto com a dos integralistas e o Partido Comunista Brasileiro. A justificativa era a possibilidade de golpe político, tentado por Luis Carlos Prestes em 1935 e depois pelos Plínio Salgado, tempos depois. Mas na Frente Negra a tática era tomada do poder pela via eleitoral.
Logo após a sua ilegalidade, ex-integrantes ainda tentaram manter viva a militância, mas a situação política do país, dificultou essa união, e muitos componentes ficaram temerosos de serem classificados como oposicionistas de Vargas e parar nas prisões políticas.
Entre os lideres mais famosos estava Francisco Lucrécio, ex-combatente da Guerra Civil Constitucionalista de 1932. Lutou pela manutenção da entidade, mas foi vencido pelos acontecimentos políticos e pela nova realidade brasileira, que dividiu o Movimento Negro entre os vários partidos políticos.

quinta-feira, setembro 15, 2005

Bezerra da Silva, a voz do morro




Preconceito de Cor
Eu assino embaixo doutor por minha rapaziada
Somos crioulos do morro, mas ninguém roubou nada
Isso é preconceito de cor vou provar ao senhor
Porque é que o doutor não prende aquele careta
Que só faz mutreta e só anda de terno
Porém o seu nome não vai pró caderno
Ele anda na rua de pomba rôlo
A lei só é implacável para nós favelados
E protege o golpista , ele tinha de ser
O primeiro da lista
Se liga nessa doutor ih
É vê se dá um refresco isso não é pretexto
Pra mostrar serviço
Eu assumo o compromisso
Pago até a fiança da rapaziada
Porque que é que ninguém mete o grampo
Num pulso daquele de colarinho branco
Roubou jóia e o ouro da serra pelada


Esses versos na crise envolvendo de A a Z na política nacional, é mais do que adequado. E o autor dele, infelizmente nos deixou há alguns anos: Bezerra da Silva. Ele faz falta hoje no samba, onde ouvirmos pagodeiros conseguir só rimar, amor com dor ou flor, numa mediocridade poética e omissão social sem tamanho.
A historia de Bezerra da Silva começa em 1938, na capital de Pernambuco – Recife. Lá nasceu no dia 9 de março, com o nome José bezerra da Silva. Mas a vida pernambucana não lhe dava muitas alternativas. Não demorou e em 1953, com apenas quinze anos de idade, ele fugiu de casa em direção ao “sul maravilha”. Enfiou-se clandestinamente num navio que transportava açúcar.
Chegando ao Rio de Janeiro, com uma mão na frente, outra atrás, Bezerra, acabou encontrando emprego só na construção civil, no seu ganha pão por muitos anos – pintor de paredes. Como não possuía nem dinheiro e nem parentes para alojá-lo, acaba morando de favor nas obras, em que trabalhava.
Mas a paixão por uma moradora do morro do Cantagalo, mudou sua vida. Entre beijos e abraço, obteve a chance de morar com ela, na pobre zona sul carioca. Mas não queria passa a vida nessa miséria e se aventurou na musica, pois já tinha talento desde criança.
Em primeiro lugar, Bezerra, começou se apresentar junto com Jackson do Pandeiro – um conterrâneo nordestino. E muito esperto, logo consegue através de amizades, emprego como ritmista na Radio Clube. Tamborim, surdo e outros instrumentos de percussão, eram com ele mesmo. E nessa convivência compõe suas primeiras musicas: O Preguiçoso e Meu Veneno, em parceria com Jackson. E assim consegue aos 31 anos seu primeiro disco gravado. Um compacto com as duas canções, que saiu pela Gravadora Copacabana.
Mais isso ainda não foi seu estrelato. Para sobreviver, foi trabalhar na orquestra da recém criada Rede Globo. Era um exímio violonista, com formação no clássico. E lá ficou até 1977, mas o salário é pouco e mal dava para sobreviver.
Vivendo desde criança o dilema da pobreza e a convivência dentro da Globo com grandes figuras e artistas, formou sua consciência critica e deu inspiração para suas canções e compõe seus primeiros sambas marginais e em 1975 grava seu primeiro LP e não para mais.
Mas semelhante à Zeca Pagodinho, que sempre lança novos compositores, assim é Bezerra. E seus parceiros são mais exóticos: 1000tinho, Barbeirinho do Jacaré, Baianinho, Em Cima da Hora, Embratel do Pandeiro, Trambique, Zé Dedão, Popular P., Pedro Butina, Simão PQD, Wilsinho Saravá, Rubens da Mangueira, Pinga, Dunga da Coroa, Jorge Laureano, Adelzo Nilto e Edson Show – entre os mais conhecidos. Todos têm seus nomes devidamente creditados nas musicas.
A exemplo do que o Rap fala hoje, ele sempre foi o único sambista brasileiro a falar a linguagem da periferia e traduzi-la para o grande publico. Tinha muito conhecido da legislação criminal, devido à amizade com advogados e por suas formação autodidata em Direito. Desafiar a estrutura policial era sua intenção preferida.
Uma analise mais profunda em suas letras demonstram um perfeito senso social e étnico. Também é um dos poucos a defender a Comunidade Negra e por denunciar a exploração do povo, era e é ainda muito marginalizado pelos meios de comunicação.
Devido sua amizade com ex-companheiros de trabalho, foi ironicamente na TV Globo que teve sua obra mais divulgada, nos anos 80, através dos videoclipes apresentados no programa Fantástico. Apesar disso tudo, não gostava de ser definido como pagodeiro – era até ofensa – por sua critica aos outros sambistas que em sua opinião faziam na musica um simples ganha pão.
Fez mais de 29 discos, totalizando a venda de 3 milhões de cópias vendidas, mas era discriminado pelas emissoras. Eu tocava sua musica no Programa “Clube do Samba” na emissora comunitária Estrela FM, em Bebedouro. Alegria era ver que os ouvintes gostavam e pediam mais. Tirando os aqueles e aquelas que gostavam de ouvir só o pagode tipo “Boticário”.
A editora Jorge Zahar publicou um livro escrito por Letícia Vianna sobre a historia do partideiro – “Bezerra da Silva: Produto do Morro”. Era filho de Ogum e adepto da Umbanda, mas no fim da sua vida tinha feito uma inexplicável conversão como evangélico.
Infelizmente não deixou herdeiros de seu estilo musical. Composições como: "Malandragem Dá um Tempo", "Seqüestraram Minha Sogra", "Defunto Cagüete", "Bicho Feroz", "Overdose de Cocada", "Malandro Não Vacila", "Meu Pirão Primeiro", "Lugar Macabro", "Piranha", "Pai Véio 171", "Candidato Caô Caô", são únicas.

Foi homenageado por Marcelo D2 e pelo Grupo Barão Vermelho, com regravações de suas musicas. Um fã declarado dele era Mano Brown do grupo Racionais Mcs.
Em 1995 gravou "Moreira da Silva, Bezerra da Silva e Dicró: Os Três Malandros In Concert", uma paródia ao show dos três tenores, Pavarotti, Domingo e Carreras. Deles apenas Dicró permanece vivo.

Malandro é malandro/Mane é mane

terça-feira, setembro 06, 2005

PANTERA NEGRA MARVEL


Capa de revista

Quando eu era criança, adorava ler Historias em Quadrinho do personagem Pantera Negra. Explico o fascínio da seguinte forma: enquanto Superman, Batman e o Homem Aranha era heróis brancos, o Pantera era o único afro. Suas historias era editadas no Heróis da TV ou no Superaventuras Marvel.
Lembrando disso, eu enviei um email para meu amigo Marcus Vinicius, editor do blog www.grioteletronico.blogspot.com, que é apaixonado por HQs. Não demorou ele me mandou um material que sem duvida alguma, matou minha saudade. Mesmo porque o herói não é mais editado nas muitas mudanças de historia nos Gibis.
Segundo as informações fornecidas por Marcus Vinicius o Pantera Negra foi criado em 1966 por Stan Lee (mesmo criador de X-Men e Homem Aranha) e Jack Kirby. O ano explica a inspiração: os Panteras Negras – ONG afro-americana radical de combate ao racismo está em funcionamento. Existe ainda Martin Luther King e Malcolm X mesmo morto é ainda uma figura muito influente.
Outro fator que pode ter influenciado os desenhistas foi à onda de orgulho negro e valorização de símbolos africanos. Apesar disso tudo Stan Lee jura que não pensou em nada disso para construir o personagem e suas historias. Difícil acreditar.
A primeira aparição do Pantera Negra foi no numero 52 da revista Quatro Fantásticos –editada nos Estados Unidos. Vestiam uma mascara emitindo as feições de uma pantera e seu uniforme era totalmente negro.
Sua identidade secreta era mais interessante: sob a mascara de escondida um monarca africano. Bem similar ao multimilionário Bruce Wayne – Batman. Seu nome era Tchalla e governava o reino fictício de Wakanda.
Igual ao assassinato dos pais de Wayne, que serviu de exemplo para se tornar um herói, a morte de seu pai Tchaka, pelas mãos do vilão Garra Sônica, motivou a lutar contra o crime. E quer algo mais: ele se torna uma espécie de Fantasma (O Espírito que Anda), defendendo seu reino.
Para melhor defender o reino, Tchalla estuda em Universidade dos Estados Unidos e se torna um grande cientista. Voltando a sua terra, resolve usar seus conhecimentos para melhorar a vida de seu povo.
O Pantera Negra é um perfeito personagem de HQ da Consciência Negra, e super atual. E começa a comercializar o fictício metal raro vibranium para trazer divisas para o Wakanda. O metal em questão é o mesmo que faz parte do esqueleto do personagem Wolverine, do X-Men. Coisa que só quem lê os gibis vai entender.
Como parte do ritual de coroamento Tchalla recebe uma dose de uma bebida a base de uma erva sagrada africana e ganha força, agilidade e sentidos sobre-humana. Com seus conhecimentos e dinheiro do vibranium transforma Wakanda no país mais avançado do mundo.
Tempos depois o Pantera Negra passa a fazer parte do Grupo “Os Vingadores” ao lado do Capitão América (esse o Bush deve adorar), Poderoso Thor e Homem de Ferro.
Mas legal mesmo era ver as historia que se passavam no reino Wakanda, quando ele enfrentava seus rivais locais. A África era retratada de maneira apaixonante. Nada de pessoas tolas e subdesenvolvidas. Todos inteligentes e com uma beleza sensacional. São roteiros bem definidos, que deixa a duvida se não foram escritos por militantes negros, ou mesmo, tenham sido influenciados.
Ele ainda chegou a ter uma revista, mas cancelada. Há previsão de um novo lançamento entre os próximos anos.
O Pantera Negra, a exemplo de Blade – o Caçador de Vampiro, que virou um sucesso nas telas com o ator afro-americano Wesley Snipe, merece uma versão cinematográfica. É bom lembrar que o Blade virou o primeiro filme a tornar rentável a versão nas telas de heróis da Marvel.
Analisando sob a ótica de aspectos positivos o Pantera Negra é um soberano africano – isso nos anos 70 já é um avanço, pois nas escolas ensinavam que descendíamos de escravos, sem contar a nossa Historia da áfrica com seus vários reinos. Só agora com a Lei 10.639, isso começa a ser consertado.
Outro avanço notado nos roteiros do Pantera Negra é que ele é um soberano africano que segue as idéias de James Shikwati, economista queniano, que prega a auto determinação e auto desenvolvimento sustentável das nações africanas sem interferência externa. Basta que se tenham políticos honestos no poder.
E ele derruba mitos como o de Tarzan, que retratava o poder “civilizatorio” do homem branco, quando ele, mesmo criado por gorilas, se mostrava intectualmente mais esperto com os chefes africanos. Eu pessoalmente odiava as historias.
Fico aguardando o filme, o que acho difícil, a não ser que cineastas negros tenham um orçamento decente: tipo milhões de dólares

Doze de Setembro, dia de Steve Biko



Biko
“September '77
Setembro de 1977
Port Elizabeth weather fine
Clima agradável no Porto Elizabeth
It was business as usual
A rotina era a mesma
In police room 619
Na sala policial 619
Oh Biko, Biko, because Biko
Oh, Biko, Biko, Por que Biko?
Oh Biko, Biko, because Biko
Oh, Biko, Biko, Por que Biko?
Yihla Moja, Yihla Moja -The man is dead
“Yihla Moja, Yihla Moja – O Homem está morto” Peter Gabriel




Há 28 anos atrás, em pleno regime de Segregação Racial na África do Sul, morreu aos 31 anos, o líder estudantil Stephen Bantu Biko após 24 horas ininterruptas de torturas infringidas por autoridades policiais em Port Elizabeth. Sua vida é parcialmente retratada no filme “Um Grito de Liberdade”.
Stephen Biko nasceu no dia 18 de setembro em 1946, no extremo sul da Cidade do Cabo, em King Willian`s Town. Dois anos após seu nascimento, em 1948 foi lançada a teoria do apartheid. Entretanto a historia começa bem antes – em 1913, ano da fundação do National Party – Partido Nacional – pelo conservador e racista James Barry Hertzog, defensor do Apartheid. Hertzog defendia que as raças branca e negra deveriam desenvolver-se segundo suas próprias tendências em regiões separadas.
1913 também foi o ano em que foi lançado o Ato das Terras Nativas e as Leis do asse, que despejou as comunidades negras de seus territórios tradicionais, os restringindo as áreas de reservas. Depois disso 87% das terras rurais eram de brancos e a maioria negra ficou restrita a apenas 13%. O Ato proibia que os agricultores negros comprassem propriedades fora das reservas.
A Lei do Passe permitia que a minoria branca restringisse a circulação de negros, permitindo que apenas uma pequena parcela pudesse ir para as cidades trabalhar, relegando o restante ao desemprego e a miséria. Quem obedecesse a lei, ia para cadeia. A legislação consistia que todo cidadão não negro deveria portar cédulas de identidade e a carteira de passe, podendo ser requisitada a qualquer hora.
A situação piora a partir de 1924 quando Hertzog assume o comando do governo como primeiro ministro sul-africano. Em seu mandato que foi até 1939, às atitudes governamentais de discriminação foram aumentadas. No Parlamento, destaca-se a liderança de Daniel François Malan – líder do United Nationalist Party – Partido Nacionalista Unificado, que articulava as votações de projetos que aumentaram o racismo no país. Com essa atuação, Malan foi vitorioso nas eleições de 1948, estendendo as restrições inclusive aos emigrantes indianos.
Por conseqüência, em 1944, foram iniciadas por organizações de oposição a segregação, uma série de protesto, através de boicotes espontâneos a Lei do Passe. Em 1946, os líderes indianos Ismail Meer e J.N. Singh – inspirados em Gandhi – fizeram uma capanha de desobediência civil, contra a Lei do Gueto, que forçava os integrantes dessa etnias a viver segregados.
Ainda em 46, no mês de agosto 70 mil mineiros negros fizeram uma greve contra o Apartheid e por melhores salários. O movimento fpo reprimido pelo governo sul africano, mas o exemplo motivou a militância contra a segregação. Foi nesse clima que nasceu Biko.
Em 1948, o quadro político piora com a eleição de Daniel François Malan – líder do United Nationalist Party – Partido Nacionalista Unificado para o cargo de Primeiro Ministro. A Segregação Racial aumentou e os negros foram impedidos de exercer trabalhos especializados.
Quando Stephen tinha apenas 6 anos, o Congresso Nacional Africano em 1952 articula a resistência ao Apartheid com a Campanha do Desafio. A entidade, criada em 1912, era formada por lideranças negras, entre elas – Nelson Rolihlahla Mandela. Mas nesse período o CNA era presidido pelo pastor metodista, o zulu Albert John Luthuli.
Com a prisão de Mandela e toda diretoria do CNA, em 1964, aos 18 anos de idade, Biko inicia sua militância política. Ele era muito admirado entre os companheiros por sua oratória e entre as mulheres por seu por atlético – tinha 1,80 de altura. Era como todos jovens da época apaixonado por futebol e pela musica. Gostava inclusive de ler noticias sobre o futebol do Brasil, onde os jogadores afro-brasileiros Garrincha e Pelé se destacavam, dando orgulho a maioria negra na África.
Com 20 anos de idade, consegue ingressa no curso de Medicina. Era seu sonho, tornar-se medico e atuar nas comunidades pobres da África do Sul. Mas dentro da faculdade toma contato com o Movimento Estudantil e filia-se a União Nacional de Estudantes Sul-africanos (National Union of South African Students). Mas a União se mostra muito tímida no enfrentamento ao Apartheid e junto com outros jovens cria em 1968, OESA – Organização dos Estudantes da África do Sul – similar a UNE – União Nacional dos Estudantes no Brasil. Foi eleito o primeiro presidente da entidade.
Pela perseguição que sofre o CNA, Biko e outros universitários articulam uma nova organização política – o Movimento Consciência Negra. O objetivo era fortalecer o orgulho da raça e promover a libertação psicológica. Democraticamente cedeu seu cargo de presidente a outra liderança para se dedicar mais a nova luta.
E um de seus textos Biko dizia “a Consciência Negra é, em essência, a percepção pelo homem negro da necessidade de
juntar forças com seus irmãos em torno da causa de sua atuação – a negritude de sua pele -
e de agir como um grupo, a fim de se libertarem das correntes que os prendem em uma
servidão perpétua.
Procura provar que é mentira considerar o negro uma aberração do
“normal”, que é ser branco. É a manifestação de uma nova percepção de que, ao procurar fugir de si mesmos e imitar o branco, os negros estão insultando a inteligência de quem os
criou negros.
Portanto, a Consciência Negra toma conhecimento de que o plano de
Deus deliberadamente criou o negro negro. Procura infundir na comunidade negra um
novo orgulho de si mesma, de seus esforços, seus sistemas de valores, sua cultura,
religião e maneira de ver a vida. "
Muitos dos textos de Stephen Biko eram assinados pelo pseudônimo de Peter Talk, principalmente nos panfletos chamados ESCREVO O QUE EU QUERO. Era uma tática para enganar a repressão política.
Através do Movimento Consciência Negra criou os Programas da Comunidade Negra. Eles consentiam em alfabetização na língua inglesa, assistência médica e social. Biko defendia que o povo só poderia se defender se aprendessem à língua do opressor. Mas logo chamou atenção das autoridades racista, que em março de 1973, o proibiram de se locomover pelo país. Ele também foi proibido de comunicar-se com mais de uma pessoa por vez e, portanto, de realizar discursos.
Biko também foi censurado a citação a qualquer de suas declarações anteriores, tivessem sido feitas em discursos ou mesmo em simples conversas pessoais Eles temiam um novo Mandela.
As independências de Angola e Moçambique, em 1975, serviram de farol para a população negra. Inclusive pela inspiração ideológica socialista das lideranças como Antonio Agostinho Neto. Isso isolou mais ainda a África do Sul no cenário internacional, que já sofria com as sanções impostas pela ONU, contra o apartheid. Os dois países passaram a ajudar também as lideranças negras sulafricanas.
No dia 16 de setembro de 1976, ele organizou um protesto em massa, para combater a imposição da língua afrikaans nas salas de aula. Aderiram ao movimento 20 mil escolas africanas, que marcharam nos bairros de Soweto. Em resposta a Policia Política da África do Sul abriu fogo contra a multidão desarmada. Morreu um garoto de 13 anos e dezenas ficaram feridos. Os jovens responderam as armas de fogo com pedras contra os policiais.
Esse evento chamou atenção da líder e mulher de Nelson Mandela, Winnie, que disse “isso é o que acontece quando se quer romper as cadeias da opressão; parece que nada mais importa”.
Por conseqüência a população de Soweto iniciou um ano de protesto que foi imitado por outras cidades. Tudo que era de propriedade do governo era atacado. Barricadas foram feitas para enfrentar as forças policiais, escolas foram boicotadas e uma greve geral aconteceu. Nessa época foi criada com ajuda de Winnie a Associação dos Pais Negros.
O primeiro-ministro B.J. Vorster reagiu com a prisão em massa de lideranças. Enviou unidades do Exercito para fortalecer o policiamento nos bairros negros. Um clima permanente terror foi implantado com uso de gás lacrimogêneo, carros blindados, helicópteros, batidas em residências a qualquer hora do dia.
Treze mil pessoas foram presas, sendo que 5 mil eram crianças e adolescentes. Muitos líderes estudantis resolveram fugir da África do Sul para Angola, Moçambique ou mesmo Estados Unidos e Europa.
Mesmo assim, Biko resolveu ficar, para manter viva a resistência ao Apartheid. Mesmo com a vida em risco, continuou clandestinamente a percorrer o país, organizando novos levantes contra o governo.
Mas na noite do dia 6 de setembro foi preso em um dos bloqueios de estradas pelas autoridades policiais de Port Elizabeth. Foi torturado e interrogado todos os dias por 24 horas ininterruptas.
No dia 11 de setembro, temendo a repercussão por sua eminente morte, as autoridades o enviaram para um hospital. Ele tinha um grave traumatismo craniano causado por brutal tortura policial. Mas durante o trajeto em uma viatura, sem qualquer acomodação adequada a um paciente, morreu, sendo comunicada sua família oficialmente em 12 de setembro de 1977.
Enterro de Steve Biko
A causa da morte de Biko foi oficialmente uma greve de fome prolongada, segundo as autoridades. Seu enterro causou protestos em todo mundo, uma comoção nacional na África do Sul. Seu caixa foi velado aos gritos de resistência, hinos do CNA e canções africanas. Todos desrespeitado o apartheid.
CONSEQUENCIAS POR SUA MORTE
Mas a repercussão internacional de sua morte causou em 1978 a queda de Vorster, que foi substituído como primeiro ministro por P.W. Botha que ainda tentou manter vivo o sistema de segregação racial, mas a adoção de maiores sanções econômicas pela Comunidade Comum Européia e pelos Estados Unidos.
Em 1989 assumiu o poder Frederik de Klerk que iniciou um processo de fim do Apartheid. Libertou em 1991, Nelson Mandela. Por esse esforço ganhou em 1993, junto com o líder negro, o Premio Nobel da Paz.
No dia 27 de abril de 1994, aconteceram as primeiras eleições gerais multirraciais. O CNA obteve 58% dos votos, elegendo Mandela, o primeiro presidente negro da Republica Sul-Africana. O Partido Nacional de De Klerk obteve 17%.
O assassinato só foi julgado em 7 de outubro de 2003, pelo Ministério Público Sul-africano. Os cinco policiais envolvidos no assassinato de Biko não foram processados, devido à falta de provas. Seus advogados de defesa alegaram que a acusação de assassinato era irreal por ausência de testemunhas dos .
Os promotores ainda consideraram a possibilidade de acusar os policiais por Lesão Corporal seguida de morte. Entretanto eles se beneficiaram da prescrição do crime, segunda as leis sul-africanas.

Stephen Biko dizia “nenhum homem negro comum pode, em qualquer momento, ter a absoluta certeza de que não está infringindo uma lei”.

FURACÃO EM NEW ORLEANS

UMA TRAGÉDIA QUE TEM COR

Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
E não importa se os olhos do mundo inteiro
HAITI

O cantor Kayne West expressou em programa realizado para colher donativos para vitimas do Furacão Katrina a indignação do Povo Negro Americano com o presidente George W. Bush. Ele disse textualmente “Bush não se importa com as pessoas negras”.
O mais estranho de tudo isso é que em todas as imagens de vitimas da tragédia – a maioria é negra. Pareciam cenas brasileiras, mas era dentro do país mais rico do mundo.

Marcus Garvey dizia que os Negros em todo Mundo deveria se unir contra o racismo. Ele morreu, mas sua orientação é mais atual do que nunca. E mais. O capitalismo nessa tragédia em New Orleans que só beneficia as pessoas de etnia branca. Todos os que tem dinheiro puderam sair dos locais mais atingidos, mas os mais pobres que são negros não tiveram essa alternativa.
E a maioria por aqui se parece comigo” Fim de Semana no Parque – Racionais Mcs
O furacão também, serviu para mostrar que o Programa Norte-Americano de Ações Afirmativas está caduco. Ajudou parcialmente na Integração Racial, mas mostra-se ineficiente para diminuir os índices de miserabilidade do povo negro.

quinta-feira, setembro 01, 2005

OUTROS LÍDERES AFRO-AMERICANOS


A falsa imagem de que foram só Martin Luther King Junior e Malcolm X – os principais líderes do Movimento Negro Americano, precisa ser desfeita. Outras pessoas colaboraram de forma decisiva antes. Um dos nomes pouco mencionados é o do líder sindicalista Asa Philip Randolph.
Randolph era um negro formado em jornalismo e ciências sociais e socialista, foi responsável pela criação da primeira entidade sindical negra, durante os anos de Depressão Econômica. Sua histórica é contada no filme “Luta Por Igualdade” de titulo original The Union / 10,000 Black Men Named George.
Philip é vivido brilhantemente nas telas por Andre Braugher – mais conhecido por seu papel de anjo negro no filme “Cidade dos Anjos” – ao lado de Nicolas Cage. Dirigido por Robert Townsend, em 2001, não teve passagem pelos cinemas, sendo encontrado em poucas locadoras ou na programa dos canais “Telecine” da TV por Assinatura Sky.
Assistindo o filme dá para ver as razões para a organização da Grande Marcha de Washington, no dia 28 de agosto de 1963. Ela foi pensada para ser um protesto contra a Política Econômica do Governo de John Kennedy e reivindicar Direitos Civis e Empregos para o Povo Negro.
Asa Philip levou 20 anos na articulação da Marcha que serviria inclusive para comemorar a fundação do primeiro sindicato negro. O registro histórico, feito pela Mídia, passou a imagem de ser uma idéia só de Luther King e uma grande passeata festiva. Longe dos objetivos.
A historia de Randolph, distribuída em vídeo no Brasil pela Paramount, é obrigatória para todos nós agora, que nos sentimos um tanto decepcionados com os rumos que parte da esquerda brasileira e até o movimento sindical tem tomado. Ele serve de exemplo para o Movimento Negro no Brasil, com sua postura militante, recusando subornos e mordomias.
Destaca uma das cenas mais linda é quando Philip é avisado da morte da mãe, mas não tem condições financeiras de voltar a sua cidade e assistir o enterro. Ele recusa o dinheiro dos companheiros que se cotizaram para ajudá-lo, pois estavam em plena Crise da Depressão e o dinheiro faria falta em suas casas.
Outra que cena forte e retratação de uma assembléia onde após uma tentativa de suborno, chama a categoria para junto tomar a decisão sobre a conveniência de sua saída do sindicato. Os patrões condicionavam isso, para aceitar a entidade classista.
Essa é a imagem ideal de um militante, nunca mais importante que sua causa e os liderados. Bem diferente de pseudo-lideranças de hoje. Vestem-se como tal, mas não agem como deveriam.
Assistam ao filme, principalmente os responsáveis pelas duas “Marchas Zumbi Mais Dez” que poderá acontecer em novembro. De cara digo. Só participo de uma – a única. Se forem divididas, não acho razão para viajar – qualquer uma delas será fraca.
E sem duvida alguma, os racistas estão dando cambalhotas de risadas.
Uma vantagem do filme é retratar o sofrimento que passam as mulheres dos companheiros na luta contra o racismo. Se não estão a frente das organizações, também sofrem perseguições, pelo simples fato de serem ou esposa ou irmãs de militantes políticos. A abordagem cinematográfica é um pouco machista, mas não deixa de retratar uma verdade.

AFRIKA BAMBAATAA


Esse cara começou o que chamamos hoje de Rap ou Hip Hop! A musica Planet Rock é referencia para quem tem mais de 25 anos!
Vida Longa ao Hip Hop!

Planet Rock
Party people
Party people
Can y'all get funky?
Soul Sonic Force - can y'll get funky?
The Zulu Nation - can y'll get funky?
Yaaah!
Just hit me
Just taste the funk and hit me
Just get on down and hit me
Bambaataa's jus' gettin' so funky, now, hit me
Yaaah!
Just hit me

Just start to chase your dreams
Up out your seats, make your body sway
Socialize, get down, let your soul lead the way
Shake it now, go ladies, it's a livin' dream
Love Life Live
Come play the game, our world is free
Do what you want but scream

We know a place where the nights are hot
It is a house of funk
Females and males
Both headed all for the disco

The D.J. plays your favorite blasts
Takes you back to the past, music's magic (poof)
Bump bump bump get bump with some flash, people

Rock rock to the Planet Rock, don't stop
Rock rock to the Planet Rock, don't stop

terça-feira, agosto 30, 2005

AGOSTINHO NETO



No dia 10 de setembro completará 26 anos da morte de Antonio Agostinho Neto – o primeiro presidente da Republica Popular de Angola. Mas ele era também, poeta. Ele é considerado pelo povo angolano como um dos pais da nação.
Agostinho nasceu em 1922 em Icolo Bengo. Teve uma infância semelhante à de milhares de crianças angolana, mas desde cedo nutria uma consciência critica com relação à dominação que a Angola sofria por Portugal. Seu envolvimento político começa na fase estudantil, ligando-se a integrantes da Casa do Estudante – entidade de contestação política.
Aos 26 anos de idade, em 1948, Agostinho participa do Movimento Cultural Nacionalista. A partir deste ponto é reforçada sua formação política e se destaca como líder. Mas não demora a chamar atenta policia repressora portuguesa e é preso, em Lisboa, onde está cursando a Faculdade de Medicina.
A passagem de Agostinho pela cadeia, vai de 1950 a 1957, quando é julgado por atividades consideradas pelas autoridades portuguesas como subversivas. Foi condenado a perda dos direitos políticos por cinco anos. Mas a perseguição continuou com a sua detenção em 1960, em solo angolano, por pregar a independência do país. Ficou mais dois anos preso em cadeia de Cabo Verde e Portugal.
Em 1962, Agostinho consegue articular em Marrocos o MPLA Movimento Popular pela Libertação de Angola – se tornando líder. Sob sua coordenação unem-se FNLA – Frente Nacional de Libertação de Angola – chefiada por Holden Roberto e UNITA – União para a Independência Total de Angola – liderada por Jonas Savimbi.
UNITA E FNLA tinha divergências resultante de suas formações étnicas, onde se reproduzia lutas tribais. A queda do Regime Ditatorial de Antonio Salazar em Portugal enfraqueceu a repressão em Angola, dando chance para o fortalecimento da luta guerrilheira pela independência.
Junto com lideres africanos Almir Cabral, Marcelino dos Santos, Agostinho foi recebido pelo Papa Paulo VI, obtendo apoio internacional a causa.
Em Janeiro de 1975, encurralados pelas tropas guerrilheiras, o Governo Português propõe o acordo de Alvor. Proposta a saída das tropas de Portugal de Angola, a Independência, condicionando a entrega do comando do país a uma coalização de MPLA, FNLA e UNITA.
Mas a saída dos dominadores reascendeu as divergências entres os três grupos políticos, o que resultou numa guerra civil em Angola. E no dia 11 de novembro de 1975 – dominado grande parte do território de Angola, Agostinho Neto proclama a Independência do país. Nesse período é auxiliado na guerra interna com tropas enviadas por Cuba.
Agostinho é um político ideologicamente socialista e acaba se aliando a União Soviética. Imediatamente os Estados Unidos passam a financiar – em clima de Guerra Fria – os integrantes da UNITA. Isso prolongou uma luta interna por décadas.
Mesmo durante esse período conturbado, Agostinho é proclamado presidente de Angola e tenta por quatro anos estruturar o país nos setores de saúde, educação e desenvolvimento econômico. Mas parte das economias de seu governo é consumida com o armamento das Forças Armadas para fazer frente às tropas da UNITA. Em 1977 recebe o premio da paz em Moscou
Aos 57 anos de idade, ainda presidente, Agostinho morre, sem ver concretizado o sonho de uma Angola forte e unida. Situação que começa nesses últimos anos a ser concretizada, mas vagarosamente, pois os anos de guerra civil praticamente destruíram o pouco de infra-estrutura que existia.
Ele foi ainda co-fundador da revista Momento e colaborando com poesias suas nas publicações: Padrão, Cadernos Momento, Mensagem, Itinerário e Notícias do Bloqueio. A sua poesia é um ótimo exemplo de antologia sobre africana. A sua obra mais conhecida é Sagrada Esperança, já publicada em diversos países.

terça-feira, agosto 23, 2005

275 ANOS DE ALEIJADINHO


No próximo dia 29 de agosto, serão comemorados 275 anos do aniversário de Antonio Francisco Lisboa, conhecido como Aleijadinho – um dos maiores escultores do Brasil. Mas sua historia não é um fato isolado. Existiram durante o período de Escravidão Negra, muitos escultores afro-brasileiros, mas perversamente escondidos das paginas oficiais da Historia do Brasil.
Segundo relato de Thomas Ewbank no livro “A Vida no Brasil”, foi notado muitas esculturas em pedra e imagens de santos em madeira, confeccionadas por negros livres. O destaque vai para João Vermelho, escultor negro, morador de Caetés, estado do Rio de Janeiro. Ele era considerado um dos maiores artistas plásticos do período, tendo suas obras expostas na igreja de Nossa senhora do Rosário do Rio de Janeiro.
Aleijadinho nasceu em 1730, em Ouro Preto. Mas seu talento foi passado por seu pai, o escultor e projetista de igrejas Manuel Francisco Lisboa – autor do risco da Igreja da Ordem Terceira do Carmo. Também é creditado como mentor de Aleijadinho o desenhista e pintor João Gomes Batista e o entalhador José Coelho de Noronha.
A mãe de Aleijadinho era Isabel, uma afro-brasileira escravizada, de propriedade do pai dele. Foi batizado pelo Padre João de Brito na Igreja de nossa senhora da Conceição e por essa razão conseguiu a alforria de pia, ou seja, aquela obtida por concessão do pai. Em alguns casos os padrinhos da criança é que concediam esse beneficio, mediante o pagamento de uma quantia.
O apogeu da extração do ouro propiciou um clima excelente para as Artes Plásticas. E logo Aleijadinho passou a ser um dos artistas mais requisitados em Minas Gerais. Há obras dele nas cidades de Ouro Preto, Sabará, São João Del Rei, Mariana, Caeté, Barão dos Cocais, Tiradentes e Congonhas.
No estilo artístico do escultor é notado: Barroco, Rococó, Clássico e o Gótico. Um dos materiais mais usados por ele é a pedra sabão. Como entalhador disputado fez igrejas e residências, confeccionado inclusive utensílios domésticos.

Mas a partir dos 47 anos, uma doença começou a afeta-lo. Há quem diga que era resultado de enfermidades venéreas mal tratadas, apesar de não haver exatidão nesses dados. A endemia passou a afetar sua mobilidade, até que só pode trabalhar de joelhos.
A partir dessa época o escultor se envergonhou de sua condição e passou se isolar. Num ritual rotineiro passar usar um, sobretudo negro, com mangas e golas altas e usa um chapéu de lã parda de abas larga. Tudo para se esconder. Era raramente visto durante o dia, para esconder suas feições. Para subir grandes escadas para esculpir nas igrejas usava um apetrecho adaptado aos joelhos.
Aleijadinho morreu aos 76 anos de idade, mas depois de passar por dois anos finais de agonia devido o agravamento da doença e impossibilitado de trabalhar. Apesar de falecer solteiro, tinha um filho com Narcisa da Conceição, negra, moradora do Rio de Janeiro. O filho, Manuel Francisco Lisboa Neto e sua nora e neto, viveram sob sua proteção econômica.
O escultor, segundo pesquisas realizadas pelo escritor Mário de Andrade, teve uma ótima condição financeira em vida, mas terminado de forma humilde, pois tinha ajudava muitas pessoas, não acumulando assim fortuna. Serve de atestado de boa condição econômica de Aleijadinho a posse de três negros escravizados.
O reconhecimento nacional de Aleijadinho foi só no século XX, pois em seu tempo sofreu inclusive o preconceito de ser negro e ser brasileiro, infligindo por artistas europeus que subestimavam a arte do escultor. Uma das polemica é que ele nunca tinha visto um leão e em suas esculturas eles serem mais parecidos com cães. Mas isso é puro preconceito!

OBRAS DE CLOVIS MOURA


Livros como Rebeliões da Senzala, Os Quilombolas e a Rebelião Negra e Historia do Negro Brasileiro fazem o professor Clovis Moura ser leitura para quem quer entender a situação da população afro-brasileira no país.
Sua ultima obra, Dicionário da Escravidão Negra no Brasil, escrito com auxilio de Soraya Silva Moura. Ex-militante do PC do B, Moura é o melhor historiador sobre o assunto, que infelizmente ao falecer em dezembro de 2003, não deixou discípulos.

MUSICA PARA UMA LINDA NEGRA!


Unconditional Love
Tu Pac
Composição: Desconhecido
{What y'all want?)
Unconditional Love (no doubt)
Talking bout the stuff that don't wear off
It don't fade
It'll last for all these crazy days
These crazy nights
Whether you wrong or you right
I'm a still love you
Still feel you
Still there for you
No matter what (hehe)
You will always be in my heart
With unconditional love

Come listen to my truest thoughts, my truest feelings
All my peers doing years beyond drug dealing
How many caskets can we witness
Before we see it's hard to live
This life without God, so we must ask forgiveness
Ask mama why God deserved to die
Witness the tears falling free from my eyes
Before she could reply
Though we were born without a silver spoon
My broken down TV, show cartoons in my living room (hey)
One day I hope to make it
A player in this game
Mama don't cry, long as we try
Maybe things change
Perhaps it's just a fantasy
A life where we don't need no welfare
Shit with our whole family
Maybe it's me that caused it
The fighting and the hurting
In my room crying cause I didn't want to be a burden
Watch mama open up her arms to hugging
And I ain't worried bout a damn thang, with unconditionl love

sexta-feira, agosto 19, 2005

Gonzaguinha


É
a gente quer valer o nosso amor
a gente quer valer nosso suor
a gente quer valer o nosso humor
a gente quer do bom e do melhor
a gente quer carinho e atenção
a gente quer calor no coração
a gente quer suar mas de prazer
a gente quer é ter muita saúde
a gente quer viver a liberdade
a gente quer viver felicidade

É
a gente não tem cara de panaca
a gente não tem jeito de babaca
a gente não está com a bunda exposta na janela pra passar a mãonela

É
a gente quer viver pleno direito
a gente quer viver todo respeito
a gente quer viver uma nação
a gente quer é ser um cidadão

É...

Esta letra foi retirada do site Letras.mus.br

segunda-feira, agosto 15, 2005

42 ANOS DA MARCHA DE WASHINGTON


Data: 28 De Agosto de 1963. Local: Washington – Capital Federal dos Estados Unidos. Personagem: um pastor afro-americano de apenas 34 anos de idade, discursando para uma multidão estimada em 250 mil de pessoas. Resultado: um ano depois foi aprovada a Lei dos Direitos Civis – o primeiro passo no Combate ao Racismo dado pelo Governo Federal Norte-Americano. Efeito Colateral: no dia 4 de abril de 1968, com apenas 39 anos, o mesmo orador foi assassinado.
O jovem pastor era Martin Luther King Junior – um dos principais lideres na luta contra a discriminação racial nos Estados Unidos. A Marcha de Washington foi um marco histórico da militância negra que mostrou sua força e organização.
Os coordenadores da passeata estimavam que conseguissem no máximo colocar 100 mil pessoas nas ruas. Igrejas e organizações não governamentais estavam auxiliando nesse transporte. A TV tinha uma visão mais tímida, falava de apenas 25 mil manifestantes.
O começo do evento estava marcado para as 13 horas e 30 minutos. O trajeto seria sair com a passeata atrás da Casa Branca, cruzar as principais vias de Washington, terminando defronte ao Lincoln Memorial. Mas uma bela surpresa animou os organizadores – antes da passeata já tinham conseguido reunir 250 mil pessoas.

Quem eram esses participantes da Marcha de Washington? Não eram só negros e militantes. O movimento de luta pelos Direitos Civis foi abraçado por fazendeiros, advogados, estudantes, operários, até brancos e estrelas de cinema.
Com alguns minutos de atraso começou o ato político, com a cantora afro-americana Camila Willians, cantou o hino nacional norte-americano, acompanhada em coro por todos os presentes. Em seguida falaram as lideranças, que tinham cada um não mais que 8 minutos.
Já eram 3 horas da tarde de um forte verão americano. O publico aguardam ansiosamente a fala do maior orador do dia. Quando o sindicalista Philip Randolph
– respeitável em seus 79 anos de idade. Ele tinha sido o maior idealizador da Marcha, há mais de 20 anos atrás. Randolph presidia a Associação dos Cabineiros de Vagões-Dormitórios. Ele anunciou a fala de Martin Luther King Junior, o publico foi ao delírio. Era o líder moral dos Estados Unidos.
Antes de falar, uma estrondosa salva de palmas recebeu Luther King. Ele iniciou sua fala explicando a realização da Marcha e o porquê do palanque estar daquele local – o Monumento em homenagem ao ex-presidente Abraham Lincoln. Ele foi o presidente que assinou a promulgação da Abolição da Escravidão e p0or isso teve que enfrentar uma Guerra Civil.
Luther King lembrou, porém que o negro ainda não era um cidadão livre. Falou da luta pela garantia dentro da Constituição dos direitos a vida, liberdade e a busca da felicidade. Respondendo as alas radicais do movimento negro representada por Malcolm X, ele disse que o povo negro não deveria matar a sede de liberdade na taça do ódio e da revolta, apesar de argumentar que não deveria ficar satisfeitos com meias-verdades dada pelas elites do país.
Emocionado o reverendo batista largou o discurso e começou a improvisar num trecho muito conhecido hoje “... eu tenho um sonho, que um dia, nas colinas vermelhas da Geórgia, os filhos de ex-escravos e os filhos de ex-senhores de escravos possam se sentar juntos à mesa da fraternidade”. Foram minutos de silencio, acompanhado pela multidão em lagrimas, como narra o escritor negro James Balwin.
Luther King terminou seu discurso pedindo que todos desses as mãos e cantassem um velho canto religioso dos tempos da escravidão “ livres finalmente! Livres finalmente! Graças a Deus Todo-Poderoso, estamos livres finalmente!”.
No período da tarde, o então presidente John Kennedy recebeu uma comissão de lideranças da Marcha em seu gabinete de governo, declarando apoio à pauta de reivindicação. Mas não foi ele que colocou a proposta em aprovação pelo Congresso Americano, pois menos de 3 meses depois, ele foi assassinado numa visita oficial a Dallas, no estado do Texas.

“Has anybody here
Seen my old friend Martin
Can you tell me?
Where he has gone

'Coos he freed a lot of people
But it seems the good die young
I just looked around
And he was gone” Canção - Abraham Martin and John –
cantada por Marvin Gaye

OS BASTIDORES DA MARCHA SEGUNDO MALCOLM X

A Marcha teve uma analise acida por Malcolm X, que a apelidou de “Farsa de Washington". Ele reconhece que houve uma adesão de pessoas que antes comportavam de uma forma passiva contra o racismo. Ele critica a participação de negros burgueses ao movimento, fretando trens com ar condicionado e indo para o evento em aviões, enquanto a imensa maioria viajava para a capital federal com carros caindo aos pedaços ou de carona.
O líder do grupo Mulçumano Pretos denunciava que a NAACP – National Association for the Advancement of Colored People (Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor) por angariar boa parte dos donativos causando inclusive uma divergência séria durante a preparação do evento.
A causa disso foi a doação de mais de 800 mil dólares de organização não governamentais não negras, para organização da Marcha. O dinheiro teria vindo, pois as lideranças brancas seriam as verdadeiras articuladoras da Marcha, que deveria ser de protesto e raiva.
Malcolm também criticava a ingenuidade das lideranças que serviram de instrumentos para o marketing político internacional ao deixar que Kennedy passasse a imagem de grande aprovador das reivindicações, quando na verdade , ele tinha resistência aos pedidos.
Em seu livro autobiográfico, Malcolm dizia que era inimaginável ter revolucionários numa marcha onde a única canção era We Shall Overcome (Nós Venceremos), onde os negros oprimidos davam as mãos aos seus opressores. Ele era contrario a tática de Luther King de dar a outra face – modo cristão de fazer militância negra.
Há que indique um pouco de ciúme nas palavras de Malcolm por não ser chamado a discursar. Ele cita que uma pesquisa do jornal New York Times o colocava em segundo lugar como o orador mais procurado nos meios estudantis, perdendo só para o senador Barry Goldwater.
Mas suas palavras são verdadeiras, quando a grande Marcha de Randolph imaginada para pressionar o Governo em Washington foi manipulada e transformou-se num enorme espetáculo cinematográfico e inofensivo.
Essa era a diferença entre Martin Luther King e Malcolm X – um queria uma reforma pró negros dentro do sistema americano e o outro desejava mesmo a revolução popular, destruindo o que existia. Os dois foram barbaramente mortos, onde os mandantes dos crimes são obscuros. Há quem diga que o FBI matinha vigilância ininterrupta nos dois

quarta-feira, agosto 10, 2005

MAIS JORNALISTAS NEGROS NA TV GLOBO


“Mas da metade do país é negra e se esquece
Que tem acesso apenas ao resto que ele oferece
Tão pouco para tanta gente
Tanta gente
Tanta gente na mão de tão pouco
Pode crer
Geração iludida uma massa falida
De informações distorcidas
subtraídas da televisão”
VOZ ATIVA- RACIONAIS MCs
Um dado que aparece despercebido é o aumento significativo de jornalistas afro-brasileiros na Rede Globo. Antes o setor só tinha a presença da pioneira Gloria Maria
, hoje apresentadora do programa Fantástico. Depois veio Zileide Silva e outros numa diversidade étnica na telinha que nos alegra.
Destaca-se também a contratação de repórteres negros para matérias de política e não para as áreas de Esportivas, Entretenimento ou Comportamento. Uma dessas caras novas é a de Andréia Vieira que cobre as reuniões das CPIs em Brasília. Também segue essa linha, embora timidamente a TV Cultura.
Estão defendo sua participação na valorização do profissional afro-descendente as redes de televisão: Bandeirantes, Record e Rede TV. O SBT não conta ainda pois o que tem hoje, não podem chamar de Núcleo de Jornalismo. Na estréia de Ana Paula Padrão – reinaugurando o Departamento de Jornalismo da TV do Silvio Santos, iremos saber se o homem do baú contribui na promoção da igualdade racial.
Se formos falar de novelas a coisa fica meio por igual por todas emissoras. Os atores e atrizes negros estão lá, mas são minoria absoluta e em papeis de pouco destaque.
Exceto no folhetim eletrônico Chica da Silva – exibida em 1996 pela extinta Rede Manchete e agora reaproveitada pelo SBT. Mas assim como aconteceu na novela global “A Cor do Pecado” o problema persiste – é a linda mulher negra amando o homem branco.
O professor Edson Cardoso - Coordenador da Marcha Zumbi Mais Dez, diz que um dos sinais de que o racismo está recuando no Brasil é ver uma novela onde um homem negro disputa o amor de uma mulher negra, como casal principal da trama e após todos os percalços fiquem juntos. É... Parece que isso vai demorar ainda!

Ninguém fala, mas desde o aparecimento da Revista Raça – a coisa tem melhorado. Há criticas sobre o conteúdo dela hoje, mas o empreendimento de Aroldo Macedo – o primeiro editor – deu resultados. Pena que o “pai da criança” não está na publicação hoje para colher os frutos. Mas a atual editora – Conceição Lourenço é competente, mas precisa melhorar as matérias da Raça que repete muito os entrevistados. Falta pauta.

Netinho de Paula continua na luta por sua TV que deve entrar no ar até dia 20 de novembro deste ano. Nos bastidores ele garante ter recursos para mantê-la no ar por pelo menos 5 anos. Torço para isso. Fico agora esperando a atitude de nosso povo negro em dar audiência para ela e assim consequentemente trazer anunciantes. Na verdade é esse o problema que afetou a Raça há anos atrás – a Comunidade Negra não comprava a revista e só queriam tê-la de graça!
Esse é a principal questão – diferente do Povo Preto Americano – Black People

– a Nação Negra do Brasil prestigia muito pouco seus representantes na Mídia. Quantas cartas um Rocco
Pitanga
ou uma Tais Araújorecebem por dia? Mas eu sei quantas cartas e e-mails? Mas eu sei quantas recebem Thiago Lacerda e Débora Secco.
Brasil é um país estranho, que não estranha que todas as ultimas ganhadoras do Miss Brasil sejam brancas e muitas louras – a exemplo da Grazi, ex Big Brother que recheia a edição da Playboy desse mês. Pretas e Pardas são quase 50% da população, mas por incrível que pareça nem são escolhidas para competir. Como diz Mano Brown – racionais Mcs – É ... Negro Drama!