“Canta, canta minha
gente, deixa a tristeza para lá. Canta forte, canta alto, que a vida vai
melhorar”, música de Martinho da Vila, um dos maiores sambistas vivos do Brasil.
Filho do casal de
trabalhadores rurais, Josué Ferreira e Teresa de Jesus Ferreira, Martinho
nasceu em 12 de fevereiro de 1938, em uma fazenda, na cidade de Duas Barras,
interior do Rio de Janeiro. Quando se tornou famoso, comprou a fazenda onde nasceu.
Ele só foi colocar os pés na capital do estado, aos
quatro anos quando os mais se mudaram para periferia.
Martinho no exército |
Quando criança, seu
sonho era se tornar jogador de futebol, igual a de todas crianças do seu tempo.
O primeiro contato com samba veio quando sua família passou a morar em Lins de
Vasconcelos, na Serra dos Pretos Forros, perto da Escola de Samba Aprendizes da
Boca do Mato. Já com 16 anos, já era compositor e foi chamado para integrar a
escola. Não demorou a virar diretor da ala dos compositores e da harmonia
Nos desfiles,
Martinho tocava frigideira e depois já foi para os instrumentos de percussão.
Fora do samba,
ganhava a vida como laboratorista industrial, profissão que aprendeu no Senai.
Logo depois ingressou no exército, onde foi sargento-escrevente, datilógrafo e
contador no Ministério da Guerra. Serviu ainda no Laboratório Químico e Farmacêutico
e na Diretoria Geral de Engenharia e Comunicação.
Martinho até tentou
conciliar a vida de compositor e de soldado, mas como os horários não batiam, depois
de 13 anos, ele teve de sair do exército, para se dedicar integralmente a
música.
A carreira artística
foi deslanchar em 1967, no III Festival da Record, quando ele concorreu com a
música "Menina Moça".
“Menina moça vai
passear
vai passear iá, iá
quer rapaizinho pra
acompanhar
pra acompanhar, iá,
iá”
Em 1968, na quarta
edição do Festival da Record veio o clássico “Casa de Bamba”, que virou uma das
canções mais tocadas nos rádios naquele ano.
Primeiro LP de Martinho |
Com o sucesso, deu
moral para conseguir gravar seu primeiro álbum, Martinho da Vila, em 1969. De
cara, ele emplaca mais quatro sucessos "O Pequeno Burguês",
"Quem é Do Mar Não Enjoa" e "Prá Que Dinheiro" e "Tom
Maior". Foi o bastou para se firmar
como sambista reconhecido nacionalmente.
Em 1972, Martinho
fez sua primeira viagem a Angola, pioneira entre os sambistas para conhecer um
dos berços da cultura negra do Brasil. Ele fez questão de conhecer as favelas
de Luanda, onde viu semelhanças entre a pobreza brasileira e angolana, mas
também a mesma genialidade artística.
Martinho ao lado de Clara Nunes |
Em outros anos, o
cantor ainda visitou Benin, Nigéria, Cabo Verde, Moçambique e África do Sul.
Toda essa influência africana foi homenageada por ele, em 1988 com o
samba-enredo Kizomba, da escola Vila Isabel, que foi consagrada campeã naquele
ano.
Nas suas canções
pode escutar ritmos como ciranda, frevo, côco, samba de roda, capoeira, bossa
nova, calango, samba-enredo, toada e canções africanas.
O cantor é membro do
Partido Comunista do Brasil e se assume como artista de esquerda, ao lado da
cantora Beth Carvalho. Foi padrinho musical de muitos cantores, principalmente de Clara Nunes.
Família
“já tive mulheres de
todas as cores.
De várias idades de muitos amores.
Com umas até certo tempo
fiquei.
Pra outras apenas um pouco me dei”
Martinho escritor
Além de compositor,
Martinho também é escritor. Seu primeiro livro foi "Vamos brincar de
política?", lançado em 1986, pela Editora Globo. Em 1992 publicou pela
Editora Léo Cristiano Editorial - "Kizombas, andanças e festanças",
no qual contou experiências profissionais e pessoais, que seis anos depois foi relançado pela Editora
Records.
Em 1993, Martinho
escreveu "Joana e Joanes - Um
romance fluminense", lançado pela ZFM Editora. Em 2001 publicou "Ópera
Negra", seu quarto livro, pela Editora Global. Em 2002 lançou pela editora
portuguesa Eurobrape o livro de ficção "Memórias Póstumas de Tereza de
Jesus". No ano seguinte o livro foi publicado também no Brasil pela
Editora Ciência Moderna. Em 2003 foi o principal articulador da construção da
nova sede da Escola de Samba Vila Isabel, com projeto de Oscar Niemeyer.
No ano de 2006
lançou "Os Lusófonos" pela Editora Ciência Moderna. No ano seguinte
lançou o livro infantil "Vermelho 17" pela ZFM Editora. Em 2008
publicou pela Lazuli Editora o livro "A Rosa Vermelha e o Cravo
Branco".
Em 2009 lançou o
livro de ficção "A Serra do Rola Moça" (ZFM Editora) - nome de uma
localidade em Minas Gerais e também, nome de um poema de Mário de Andrade
musicado pelo compositor. Ainda em 2009 foi exibido, no "Festival 19º Cine
Ceará", o documentário "O Pequeno Burguês- Filosofia de Vida",
dirigido por Edu Mansur. Neste mesmo ano, pela Lazuli Editora, lançou "A
Rainha da Bateria".
A Irmãos Vitale
Editores lançou "O Melhor de Martinho da Vila", compilação de
partituras com algumas de suas composições mais conhecidas e com comentários do
crítico e jornalista Roberto Moura.
No município de Duas
Barras criou o Instituto Cultural Martinho da Vila, que atende à crianças do
município e adjacências com aulas de música e outras atividades de formação
profissional.
Em 2010
candidatou-se a uma vaga na Academia Brasileira de Letras, não sendo eleito. No
ano posterior, em 2011 a cidade de Duas Barras lhe prestou homenagem com uma
estátua em tamanho natural. Neste mesmo ano proferiu palestra sobre Noel Rosa
na Academia Carioca de Letras. Neste mesmo ano foi lançado, na Livraria do Museu
da República, no Rio de Janeiro, o livro "Martinho da Vila - Tradição e
Renovação", dos escritores João Batista de M. Vargens e André Conforte,
com prefácio de Sérgio Cabral, pela Editora Almádena.
No ano de 2014 foi
eleito para a Academia Carioca de Letras na vaga de Fernando Segismundo,
ex-presidente da ABI. Na votação, obteve 28 votos dos 38 acadêmicos
integrantes. Em dezembro deste mesmo ano foi ano foi empossado na Cadeira nº 6,
que tem como patrono Evaristo da Veiga, em solenidade presidida por Ricardo
Cravo Albin na Sala Pedro Calmon, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
(IHGB), no bairro da Glória, no Rio de Janeiro.
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