domingo, setembro 04, 2016

Martinho José Ferreira - Martinho da Vila



“Canta, canta minha gente, deixa a tristeza para lá. Canta forte, canta alto, que a vida vai melhorar”, música de Martinho da Vila, um dos maiores sambistas vivos do Brasil.
Filho do casal de trabalhadores rurais, Josué Ferreira e Teresa de Jesus Ferreira, Martinho nasceu em 12 de fevereiro de 1938, em uma fazenda, na cidade de Duas Barras, interior do Rio de Janeiro. Quando se tornou famoso, comprou a fazenda onde nasceu.
Ele só foi colocar os pés na capital do estado, aos quatro anos quando os mais se mudaram para periferia. 
Martinho no exército
Quando criança, seu sonho era se tornar jogador de futebol, igual a de todas crianças do seu tempo. O primeiro contato com samba veio quando sua família passou a morar em Lins de Vasconcelos, na Serra dos Pretos Forros, perto da Escola de Samba Aprendizes da Boca do Mato. Já com 16 anos, já era compositor e foi chamado para integrar a escola. Não demorou a virar diretor da ala dos compositores e da harmonia
Nos desfiles, Martinho tocava frigideira e depois já foi para os instrumentos de percussão.
Fora do samba, ganhava a vida como laboratorista industrial, profissão que aprendeu no Senai. Logo depois ingressou no exército, onde foi sargento-escrevente, datilógrafo e contador no Ministério da Guerra. Serviu ainda no Laboratório Químico e Farmacêutico e na Diretoria Geral de Engenharia e Comunicação.
Martinho até tentou conciliar a vida de compositor e de soldado, mas como os horários não batiam, depois de 13 anos, ele teve de sair do exército, para se dedicar integralmente a música.
A carreira artística foi deslanchar em 1967, no III Festival da Record, quando ele concorreu com a música "Menina Moça".

Menina moça vai passear
vai passear iá, iá
quer rapaizinho pra acompanhar
pra acompanhar, iá, iá

Em 1968, na quarta edição do Festival da Record veio o clássico “Casa de Bamba”, que virou uma das canções mais tocadas nos rádios naquele ano.
Primeiro LP de Martinho
Com o sucesso, deu moral para conseguir gravar seu primeiro álbum, Martinho da Vila, em 1969. De cara, ele emplaca mais quatro sucessos "O Pequeno Burguês", "Quem é Do Mar Não Enjoa" e "Prá Que Dinheiro" e "Tom Maior".  Foi o bastou para se firmar como sambista reconhecido nacionalmente.
Em 1972, Martinho fez sua primeira viagem a Angola, pioneira entre os sambistas para conhecer um dos berços da cultura negra do Brasil. Ele fez questão de conhecer as favelas de Luanda, onde viu semelhanças entre a pobreza brasileira e angolana, mas também a mesma genialidade artística.
Martinho ao lado de Clara Nunes
Em outros anos, o cantor ainda visitou Benin, Nigéria, Cabo Verde, Moçambique e África do Sul. Toda essa influência africana foi homenageada por ele, em 1988 com o samba-enredo Kizomba, da escola Vila Isabel, que foi consagrada campeã naquele ano.
Nas suas canções pode escutar ritmos como ciranda, frevo, côco, samba de roda, capoeira, bossa nova, calango, samba-enredo, toada e canções africanas.
O cantor é membro do Partido Comunista do Brasil e se assume como artista de esquerda, ao lado da cantora Beth Carvalho. Foi padrinho musical de muitos cantores, principalmente de Clara Nunes.
  

Família

Martinho da Vila é pai de oito filhos. Sua primeira esposa foi a cantora Anália Mendonça, com quem teve três filhos, sendo um deles, a cantora e compositora Mart'nália. O sambista ainda foi casado com Lícia Maria Caniné, mãe de mais três filhos, Rita Freitas, mãe de uma filha e por fim Clediomar Corrêa Liscano Ferreira, a Cléo, com quem tem dois filhos. O interessante é que Martinho só se casou de papel passado com Cléo. O passado de tantas mulheres e incontáveis amores, deu inspiração para compor Mulheres.
 
já tive mulheres de todas as cores.
 De várias idades de muitos amores. 
Com umas até certo tempo fiquei. 
Pra outras apenas um pouco me dei”


Martinho escritor
Além de compositor, Martinho também é escritor. Seu primeiro livro foi "Vamos brincar de política?", lançado em 1986, pela Editora Globo. Em 1992 publicou pela Editora Léo Cristiano Editorial - "Kizombas, andanças e festanças", no qual contou experiências profissionais e pessoais, que  seis anos depois foi relançado pela Editora Records.
Em 1993, Martinho escreveu  "Joana e Joanes - Um romance fluminense", lançado pela ZFM Editora. Em 2001 publicou "Ópera Negra", seu quarto livro, pela Editora Global. Em 2002 lançou pela editora portuguesa Eurobrape o livro de ficção "Memórias Póstumas de Tereza de Jesus". No ano seguinte o livro foi publicado também no Brasil pela Editora Ciência Moderna. Em 2003 foi o principal articulador da construção da nova sede da Escola de Samba Vila Isabel, com projeto de Oscar Niemeyer.
No ano de 2006 lançou "Os Lusófonos" pela Editora Ciência Moderna. No ano seguinte lançou o livro infantil "Vermelho 17" pela ZFM Editora. Em 2008 publicou pela Lazuli Editora o livro "A Rosa Vermelha e o Cravo Branco".
Em 2009 lançou o livro de ficção "A Serra do Rola Moça" (ZFM Editora) - nome de uma localidade em Minas Gerais e também, nome de um poema de Mário de Andrade musicado pelo compositor. Ainda em 2009 foi exibido, no "Festival 19º Cine Ceará", o documentário "O Pequeno Burguês- Filosofia de Vida", dirigido por Edu Mansur. Neste mesmo ano, pela Lazuli Editora, lançou "A Rainha da Bateria".
A Irmãos Vitale Editores lançou "O Melhor de Martinho da Vila", compilação de partituras com algumas de suas composições mais conhecidas e com comentários do crítico e jornalista Roberto Moura.
No município de Duas Barras criou o Instituto Cultural Martinho da Vila, que atende à crianças do município e adjacências com aulas de música e outras atividades de formação profissional.
Em 2010 candidatou-se a uma vaga na Academia Brasileira de Letras, não sendo eleito. No ano posterior, em 2011 a cidade de Duas Barras lhe prestou homenagem com uma estátua em tamanho natural. Neste mesmo ano proferiu palestra sobre Noel Rosa na Academia Carioca de Letras. Neste mesmo ano foi lançado, na Livraria do Museu da República, no Rio de Janeiro, o livro "Martinho da Vila - Tradição e Renovação", dos escritores João Batista de M. Vargens e André Conforte, com prefácio de Sérgio Cabral, pela Editora Almádena.

No ano de 2014 foi eleito para a Academia Carioca de Letras na vaga de Fernando Segismundo, ex-presidente da ABI. Na votação, obteve 28 votos dos 38 acadêmicos integrantes. Em dezembro deste mesmo ano foi ano foi empossado na Cadeira nº 6, que tem como patrono Evaristo da Veiga, em solenidade presidida por Ricardo Cravo Albin na Sala Pedro Calmon, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), no bairro da Glória, no Rio de Janeiro.

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