No dia 13 de março, estreou na Rede Globo, a novela Sinhá Moça, uma reedição do sucesso de 1986. A história toda é baseada no livro de Maria Dezonne Pacheco Fernandes, e é uma espécie de Romeu e Julieta abolicionista. Débora Falabella será a Sinhá, que amamentada por uma negra escravizada - Bá, desenvolve um sentimento de piedade pelo povo negro e isso a atrairá ao jovem Rodolfo, um abolicionista, vivido por Danton Mello.Sinhá Moça já foi antes encenada nas telas em 1953, através da Companhia de Cinema Vera Cruz, com os Eliane Lage e Anselmo Duarte nos papeis principais.
A novela é um desproposito, nesse período em que estamos lutando nas salas de aula, para mudar a forma como o negro é retratado na História. Já há centenas de livros provando que ninguém ficou senzala sofrendo, esperando a sorte de nascer uma Sinhá Moça para nos libertar. O processo foi protagonizado pelo afro brasileiro de duas formas: Revolucionário - criando quilombo, semelhante ao de Palmares; e Abolicionista como Luis Gama, José do Patrocínio, André Rebouças e muitos outros.
Tudo é execrável na novela. A palavra “Sinhá” vem de sinhazinha, a filha do dono de escravos. Não é algo para se orgulhar. Depois, o fato dela ser amamentada pela ama de leite, não é algo singelo. As mulheres negras eram obrigadas a desmamar seus recém nascidos para dar leite à filha do senhor de escravo. Para exemplificar: no dia 1 de agosto de 1850, foi publicado o seguinte anuncio no Jornal do Comércio, no Rio de Janeiro: “Vende-se uma preta para ama-de-leite parida de sete dias com muito e bom leite”. Os bebes nem eram citados e em muitos casos, ficava a critério do comprador decidir seu destino.
E a exemplo do que aconteceu em 1986, a novela deve terminar na Abolição da Escravidão, com o povo na senzala dando “vivas” à Princesa Isabel, e por tabela ao casal protagonistas. Outro erro: Ela apenas sancionou uma lei já aprovada no Poder Legislativo, e em sua pior versão. Existiram propostas de indenização das pessoas escravizadas com terras, mas não foram aprovadas.
Sinhá Moça e Escrava Isaura são novelas que serviram no período da censura militar, para denunciar, através da ficção o sofrimento do povo brasileiro. Mas hoje, em plena democracia, os enredos estão ultrapassados e é necessária outra abordagem.
O remake só está servindo para em muitos casos, para baixar a auto-estima das crianças negras nas escolas, que não sabem dos heróis e heroínas que têm. Por que não contar a história de Zumbi ou da Rainha Nzinga e outras figuras negras?
Talvez o que o novelista Benedito Ruy Barbosa quer é que acreditemos que a escravidão nem tão foi ruim assim. Tínhamos a Débora Falabella e a Patrícia Pillar para nos defender. Que sorte a nossa!
2 comentários:
marco,
que bela descoberta seu blog. achei por acaso fazendo uma pesquisa sobre o Afrika Bambaataa. voltarei, com certeza. estou te linkando no meu endereço.
abraço e axé, george cardoso
Exatamente é o que devemos fazer, recontar nossa história e desfazer as ESTÓRIAS.
Temos que ir além, Machado de Assis (que negou a própria negritude), José de Alencar e Tiradentes (ambos anti-abolicionistas declarados) devem ter seus nomes lembrados como aqueles que prestaram um deserviço aos direitos humanos.
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