quarta-feira, abril 05, 2006

Chega de Sinhá Moça!



No dia 13 de março, estreou na Rede Globo, a novela Sinhá Moça, uma reedição do sucesso de 1986. A história toda é baseada no livro de Maria Dezonne Pacheco Fernandes, e é uma espécie de Romeu e Julieta abolicionista. Débora Falabella será a Sinhá, que amamentada por uma negra escravizada - Bá, desenvolve um sentimento de piedade pelo povo negro e isso a atrairá ao jovem Rodolfo, um abolicionista, vivido por Danton Mello.Sinhá Moça já foi antes encenada nas telas em 1953, através da Companhia de Cinema Vera Cruz, com os Eliane Lage e Anselmo Duarte nos papeis principais.
A novela é um desproposito, nesse período em que estamos lutando nas salas de aula, para mudar a forma como o negro é retratado na História. Já há centenas de livros provando que ninguém ficou senzala sofrendo, esperando a sorte de nascer uma Sinhá Moça para nos libertar. O processo foi protagonizado pelo afro brasileiro de duas formas: Revolucionário - criando quilombo, semelhante ao de Palmares; e Abolicionista como Luis Gama, José do Patrocínio, André Rebouças e muitos outros.
Tudo é execrável na novela. A palavra “Sinhá” vem de sinhazinha, a filha do dono de escravos. Não é algo para se orgulhar. Depois, o fato dela ser amamentada pela ama de leite, não é algo singelo. As mulheres negras eram obrigadas a desmamar seus recém nascidos para dar leite à filha do senhor de escravo. Para exemplificar: no dia 1 de agosto de 1850, foi publicado o seguinte anuncio no Jornal do Comércio, no Rio de Janeiro: “Vende-se uma preta para ama-de-leite parida de sete dias com muito e bom leite”. Os bebes nem eram citados e em muitos casos, ficava a critério do comprador decidir seu destino.
E a exemplo do que aconteceu em 1986, a novela deve terminar na Abolição da Escravidão, com o povo na senzala dando “vivas” à Princesa Isabel, e por tabela ao casal protagonistas. Outro erro: Ela apenas sancionou uma lei já aprovada no Poder Legislativo, e em sua pior versão. Existiram propostas de indenização das pessoas escravizadas com terras, mas não foram aprovadas.
Sinhá Moça e Escrava Isaura são novelas que serviram no período da censura militar, para denunciar, através da ficção o sofrimento do povo brasileiro. Mas hoje, em plena democracia, os enredos estão ultrapassados e é necessária outra abordagem.
O remake só está servindo para em muitos casos, para baixar a auto-estima das crianças negras nas escolas, que não sabem dos heróis e heroínas que têm. Por que não contar a história de Zumbi ou da Rainha Nzinga e outras figuras negras?
Talvez o que o novelista Benedito Ruy Barbosa quer é que acreditemos que a escravidão nem tão foi ruim assim. Tínhamos a Débora Falabella e a Patrícia Pillar para nos defender. Que sorte a nossa!

O QUE É SAMBA ROCK?


A gente pra viver bem nesse mundo
tem que ser um pouco mais inteligente,
como já dizia a minha velha avó:
"Macaco velho não põe a mão na cumbuca!"
Com o meu avô eu aprendi
que não se cutuca onça com a vara curta!
Mas quando a minha mãe vinha me dizer
pra tomar cuidado com esse mundo louco
Eu não quis ouvir
Eu não quis ouvir

Só fui ouvir é de um tio malandro que eu tenho
quando ele me dizia:
"Com'é que é meu?!"

Segura a nega
Segura a nega, viu?
Segura nega!
Segura a nega, viu? Clube do Balanço - Segura a Nega

É difícil responder esta pergunta. Dá para descrever o que é uma batida de um tamborim? Mas tentarei falar o que é o samba-rock, ritmo que redescobri através do primeiro CD de um grupo paulista denominado Clube do Balanço. O nome "samba-rock foi dito pela primeira vez por Jackson do Pandeiro, na música Chiclete com Banana, de Gordurinha.
Os primórdios do samba-rock começa nos anos 50, numa atitude contra o apartheid racial que informalmente existia no país. Impedidos de entrar nos bailes com orquestras chiques ou pelo valor do ingresso ou simplesmente pelo segurança, o nosso povo começou a colocar o som através dos que chamaremos hoje dos pais dos DJs. A musica era executada através de uma seleção de discos ou mesmo fitas cassetes.
Neste clima o pessoal foi copiado o estilo de dançar twist norte-americano, num estilo que misturava também o swing do samba. Algo único e novo.

Ritmo
O inventor do samba-rock como música é Jorge Ben Jor, que nega até hoje. Há que teorize sobre o arranjador Sergio Mendes, que misturou samba, bossa nova e jazz. Erasmo Carlos também foi identificado no teste de DNA do ritmo.
Mas o grande Jorge Ben no disco “O Bidu” é realmente o pai do samba-rock. Depois uma geração de músico adaptou o samba, que era tradicionalmente tocado em compasso binário (2/4), ao compasso quaternário (4/4) do rock. Além de usar instrumentos elétricos, como guitarras.
Ainda no fim dos anos 60 outros exemplos de como o samba poderia caber na moldura rítmica do rock-soul: a Pilatragem de Carlos Imperial e Wilson Simonal (que fez de País Tropical, de Jorge Ben Jor, um de seus cavalos de batalha) e a farra orquestral do maestro Erlon Chaves (que concorreu em 1970, no V Festival Internacional da Canção, da Rede Globo, cantando Eu Quero Mocotó, também de Jorge, acompanhado por sua Banda Veneno).
Nos anos 70, a voz potente de Tim Maia popularizaria o samba-soul, emplacando dois sucessos nesse estilo: Réu Confesso e Gostava Tanto de Você. Jorge Ben Jor teve uma queda para o funk a partir do disco A Banda do Zé Pretinho (1978), mas artistas por ele diretamente influenciados seguiram a sua orientação anterior, com muito sucesso em bailes do subúrbio carioca. É o caso de Bebeto (O Negócio é Você Menina, Flamengo) e de Serginho Meriti.
Em São Paulo, os bailes de periferia também ferviam ao som do samba-rock-suíngue, de nomes como o Trio Mocotó (que originalmente acompanhava Jorge Ben Jor), Copa 7, Luiz Vagner (que foi do grupo de jovem guarda Os Brasas, homenageado por Ben Jor com a música Luiz Vagner Guitarreiro), Branca Di Neve (falecido em 1989), Carlos Dafé, Dhema, Franco (também ex-Os Brasas), Abílio Manoel e Hélio Matheus.
De fins dos 60 para os 70 são gravadas as músicas que iriam se tornar os grandes clássicos dos bailes: "Pena verde" e "Luisa manequim", de Abilio Manuel, "Zamba-bem", de Marku Ribas, "Para sempre sem Bronquear", pelos Golden Boys, "Guitarreiro", de Luiz wagner. Os anos 70 trazem a fase áurea dos Originais do Samba, com sambas swingados como "Falador Passa Mal" e "Do Lado Direito da Rua Direita". Em fins dos anos 70, o disco Baiano e os Novos Caetanos, traz a célebre "Vô Batê pra Tú", de Arnaud rodrigues e Orlandivo. Nomes como Erlon Chaves, Bebeto, Di Mello, Orlandivo, Elizabeth Viana, Dóris Monteiro, nem sempre devidamente lembrados quando se fala se MPB, são os grandes nomes quando o assunto é samba-rock. Já no começo dos anos 80, o grande Branca de Neve grava dois discos antológicos, deixando várias pedradas como "Kid Brilhantina" e "Nego Dito" (uma reconstrução, ou desconstrução fantástica de Itamar Assumpção). Vale dizer que o célebre hit "Não Adianta", com o Trio Mocotó, foi gravado nos anos 70, mas só chegou aqui pelos 80, se tornando um sucesso.
O tremendão Erasmo Carlos contribuiu para o estilo, marcando presença com os clássicos "Mané João" e "Coqueiro Verde", imortalizada para sempre como samba-rock pelo Trio Mocotó. A nossa bossa nova, relida e misturada com o blues e com o jazz pelos gringos é outra fonte de hits dos bailes, a exemplo de "Soul Bossa Nova", com a orquestra de Quincy Jones.