segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Bob Marley


Say I remember when we used to sit
In a government yard in Trenchtown
Observing the hypocrites
As they would mingle with the good people we meet
Good friends we have
Oh, good friends we have lost
Along the way
In this great future,
You can't forget your past
So dry your tears, I seh
No woman no cry
No woman no cry- Bob marley

O cineasta Steve Spilperg promete há anos fazer um filme sobre a vida de Bob Marley. Não seria má idéia, lembrando inclusive do sucesso de Ray, onde Jamie Foxx ganhou um Oscar por sua interpretação biográfica de Ray Charles. Apesar de muita gente curtir a sua musicas, pouca gente sabe muito sobre sua vida. Cumprindo nosso compromisso de informar sobre nossas figuras do movimento negro brasileiro mundial, vou falar – Quem Foi Bob Marley.
Ele nasceu ás 2 horas e 30 minutos da madrugada de 6 de fevereiro de 1945, fruto da união do Capitão Norval Marley, do Regimento Britânico das Índias Ocidentais, de 50 anos, e uma linda jovem jamaicana de 18 anos – Cedalla Booker, na pequena vila de Nine Mile, interior rural da Freguesia de St. Ann (Santa Ana), no norte da Jamaica. Recebeu o nome de batismo Robert Nesta Marley, mas nos primeiros anos de vida, não pode contar com o pai, que abandonou a mãe, passa assumir, uma outra família, na Inglaterra.
A jovem Cedella cansada da falta de oportunidades de emprego em St. Ann, pegou o pequeno Bob pelas mãos e resolveu arriscar a sobre na capital da Jamaica – Kingston. Sem dinheiro, acabou indo morar na maior favela da cidade: Trechtown. O lugar era medonho, uma vila edificada próximo ao escoamento de esgoto de toda metrópole.
Apesar da situação a favela tinha lá suas qualidades para Bob. Foi lá que conheceu aquele que seria um de seus primeiros parceiros musicais - Neville Livingstone, que era conhecido mesmo como Bunny. E como a Jamaica era possível captar ondes de emissoras de rádio dos Estados Unidos, sua influência musica, foi formada por músicos como Fats Domino e Ray Charles e outras vozes negras.
Nessa época, Bob conseguiu um emprego numa funilaria, mas já tinha a música como grande objetivo de sua vida. A busca desse objectivo ganhou dedicação exclusiva quando uma fagulha da solda com que trabalhava queimou-lhe o olho. O acidente não teve gravidade, mas contribuiu para largar o emprego e investir unicamente no aperfeiçoamento da sua música com Bunny.
Numa aula de musica do cantor jamaicano Joe Higgs, Bob e Bunny tiveram o impulso ideal para decidir o que desejavam ser no futuro – músicos. Foi também nestas aulas, que eles conheceram mais um dos futuros integrantes do The Wailers - Peter Macintosh, mais tarde apelidado de Peter Tosh.
Neste meio tempo surgiu ume estilo misturando ritmos africanos com o calipso, que ficou conhecida como Ska – uma batida rápida e ritmada. Quando Bob tinha 16 anos, conheceu um outro jovem adolescente talentoso, Jimmy Cliff, que lhe apresentou para a produtora de disco Leslie Kong. E nesta amizade conseguiu gravar sua primeira música “Judge Not”. A canção lançada em 1962 virou um hit jamaicano, junto com outra musica “One more cup of Coffee”. Mas a parte boa acaba aqui, pois Leslie não lhe remunera pelo sucesso e ele abandona a gravadora.
Em 1963, Bob Marley, Bunny, Cherrya, Junior Braithwait e Peter Tosh criar o Wailing Wailers. Nesta peoca entra em sua vida o produtor musical Clemet Dodd, da gravadora Coxsone, que registra a primeira canção do grupo: “Simmer Down”. Outro sucesso na ilha.
A vida de Bob se tornou o que sempre sonhou: os Wailing Wailers eram um sucesso com suas novas músicas - It Hurts to e Alone e Rule the Roadie e no dia 10 de fevereiro de 1966 acabou casando com uma mulher que estava apaixonado Rita Anderson.
Os Wailing Wailers' resolveram pouco tempo depois sair do Ska e passram para o Rock Steady. Isso criou o primeiro conflito no grupo, com Coxsone. Daí foi um passo para decidirem lançar um selo musical Wail 'N Soul'. Neste mesmo período nasceu à primeira filha de Bob e Rita Marley, a quem deu mesmo da mãe: Cedalla.
Artisticamente a vida do grupo mudou quando conheceram o produtor musical Lee Perry. Nesta fase foram lançadas as musicas “Duppy Conquerer”, “Soul Rebel”, “400 Years” e “Small Axé”.
Em 1970, entrou no grupo o homem de família Aston Barret e seu irmão Carleton, e os Wailers era o grupo mais ouvido em todo Caribe e excursionaram pela Suécia e Inglaterra. Em Londres Bob gravou Reggae on Broadway. Lá Bobo conheceu Crhis Blackwell, um dos diretores da Island Records Basing Street Studios e lá gravara, tempos depois o álbum “Catch a Fire” , bem recebido por críticos e era um dos primeiros álbuns de reggae.
No primeiro semestre de 73, os Wailers fizeram tr6es meses de excursão pela Inglaterra onde tinham até fã clube. Mas a turnê teve uma baixa, Bunny saiu do grupo e foi substituído por Joe Higgs, que seguiu em uma nova excursão, agora pelos Estados Unidos. Foram 4 apresentações de abertura para Sly and The Family Stone, que eram também atos públicos do Movimento Negro. A verdade é que no meio da turnê se tornaram até mais famosos que a turma do Sly e isso gerou ciumeira e 11 novos shows foram abortados.
Ainda em solo americano, eles fizeram uma memorável apresentação na Rádio KSAN-FM em São Framncisco, o que proporcionou que fosse conhecido pela juventude e abraçados pela industria fonográfica. Foi neste mesmo ano que foram lançadas as músicas : Get Up Stand Up e I shot the Sheriff, que foi regravada pelo guitarrista Eric Clapton, logo em seguida.
1975 é um ano de sucesso e tristeza para Bob, lança o álbum Natty Dread e já emplacando nas paradas de sucesso as canções: Talking Blues, No Woman No Cry e Revolution. O lado ruim é que Peter Tosh sai do grupo. Por outro lado já se destacavam como backing vocais o trio Rita Marley, Judy Mowatts e Marcia Grittiths.
Rastaman Vibration é o novo disco de Bob Marley e The Wailers em 1976, e eles ganham entre seus admiradores os Rolling Stone, que passam a também incluir reggae no repertório. A musica War está neste álbum e é uma grande contribuição de Bob para o Panafricanismo. A letra foi extraída de um discurso do Imperador da Etiopia Hailè Selassiè, nas Nações Unidas.
No ano seguinte Bob Marley decidiu participar da vida política de seu país a seu modo – fazer um concerto grátis no Parque de Heróis Nacional de Kingston em 5 de dezembro de 1976. Mas antes, dois homens invadem suas casa e atiram nele, esposa e dois amigos. Mesmo asssim, fez o show denominado The Smile Jamaica Concert.
Seguindo o espetáculo a banda foi para o REINO UNIDO. Enquanto eles estavam lá eles gravaram em 1977 " Exodus ". Possivelmente o melhor álbum deles, solidificou o estrelato internacional da faixa. Um grande número de pessoas em muitos países inclusive a Inglaterra e Alemanha. Também era um dos álbuns de topo do ano.
Durante a excursão européia, a faixa fez uma semana de espetáculos no Teatro de Arco-íris em Londres. Estava no começo da excursão quando Bob feriu o dedão do pé dele jogando futebol e no hospital foi diagnosticado depois como um tumor maligno, e dedo deveria ser amputado, mas o cantor, preferiu não fazê-lo
Em 1978 foi lançado o disco “Kaya” – o mais pop de todos mais os álbuns. Os críticos acusaram Bob se tornar comercial demais e fazer apologia a ganja -maconha. Em abril deste mesmo ano, o cantor retornou a Jamaica para tocar no Show One Concert Peace And Love, e atendendo a um pedido dele o presidente jamaicano Michael Manley e o líder da Oposição Edward Seaga deram um aperto de mão. Havia entre ambos uma animosidade, que desestabilizava o país
Em 15 de junho de 1975, Bob foi premiado a Medalha de Paz do Terceiro Mundo das Nações Unidas por seu trabalho artístico e esforço pela paz em seu país. Neste mesmo ano visitou a África pela primeira vez, passando pelo Quênia e Etiópia. Nesta viagem ele começou a trabalhar na canção " Zimbabwe ". A faixa também lançou o segundo álbum dele " Babylon by Bus " que foi gravado em Paris. O álbum que seguiu isto era Survival em 1978.
Em 1980 a faixa tocou no Gabão pela primeira vez e o governo de Zimbabwe convidou Bob Marley e The Wailers para a executar musica feita em homenagem a país na Cerimônia de Independência de países em abril. O cantor reconheceria tempos depois que foi a maior honra que recebeu em vida.
Ainda em 80, ele lançou o álbum: Uprising e tudo estava parecendo maravilhoso, e para completar o cenário o grande Stevie Wonder estava colocando o grupo para abrir suas turnês nos Estados Unidos naquele mesmo ano. Entretanto a saúde de Bob estava se deteriorando, mas ele ainda obteve liberação de um doutor para viajar. A excursão começou com Boston, seguido por Nova Iorque.
Durante o espetáculo de Nova Iorque Bob parecia muito doente e ele quase desmaiou. A manhã seguinte em 21 de setembro enquanto Bob corria pelo Central Park desmaiou novamente, sendo encaminhado imediatamente para um hospital. Lá foi diagnostica um tumor de cérebro e a equipe médica lhe avisou que tinha apenas um mês para viver.
A mulher dele, Rita quis imediatamente cancelar a excursão mas Bob quis continuar. E assim ele tocou em um espetáculo inesquecível em Pittsburgh, mas estava muito doente para continuar e a excursão foi cancelada. Bob foi transportado para um hospital de Miami, para tratamento. A família recorreu a um tratamento controverso na clínica do Dr. Joseph Issels, na Bavária. O tratamento de Issels era controverso por usar apenas remédios naturais e não tóxicos e, por algum tempo, pareceu estabilizar a condição de Bob, mas que não adiantou muito.
Bob quis morrer em casa e tentou chegar até a Jamaica, mas sua viagem terminou em Miami, nos Estados Unidos, na segunda-feira, dia 11 de maio de 1981 em um hospital. Sua forte foi uma comoção internacional e seu enterro no dia 21 de maio reuniu milhares de pessoas na Jamaica, inclusive o presidente Jamaicano e o líder da Oposição.
O corpo de Bob Marley foi colocado em um mausoléu no local de nascimento dele. Depois de sua morte foi premiado a Ordem de Jamaica de Mérito.

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Frederick Douglas



O orador e o jornalista afro-americano Frederick Douglas nasceu em Tuckahoe, no Condado de Talbot, Maryland, provavelmente em fevereiro 1817.
Sua mãe era uma mulher negra de inteligência excepcional, e seu pai era um homem branco. Até quase oito anos de idade, ficou sob o cuidados de sua avó; então viveu por um ano na plantação do coronel Edward Lloyd.
Depois foi enviado a Baltimore, onde viveu na família de Hugh Auld. A Senhora Auld tratou-o com a bondade e sem que seu marido soubesse começou a alfabetizá-lo. Frederick acumulou uma certa quantia, em um trabalho de carregador e assim conseguiu financiar seu primeiro livro, O Orator Columbian.
Douglass começou a escrever sobre a coragem das pessoas que fugiam da escravidão. Em 1833, foi enviado para as plantações de Thomas Auld, que o emprestou por um ano a Edward Covey que tinha a reputação de ser severo com os escravos, mas quem não conseguir dominar Frederick.
Outro aliado foi, William Freeland, que possuiu uma plantação grande perto de St. Michaels, que o tratava com muita bondade. De lá tentou escapar em 1836, mas foi preso. Foi libertado, mas seu proprietário, Hugh Auld em Baltimore, o vendeu para um navio.
Douglass logo conseguiu conquistar a confiança da tripulação e conseguiu fugir, em 1838, fugindo em um trem de Baltimore a Nova Iorque. Por causa da perseguição dos caçadores de escravos fugidos, decidiu em assumir o nome de Frederick Augustus Washington Bailey a Frederick Douglass, na cidade de New Bedford, estado de Massachusetts.
Nesta cidade, conseguiu trabalhar livremente por três anos, mas em agosto de 1841, após uma reunião de abolicionista em Nantucket, acabou se tornando um militante da causa, articulando o movimento em, principalmente em Nova Inglaterra e nos outros estados.
Mas algumas pessoas começaram a duvidar de seus relatos como ex-escravo, e por isso foi obrigado em 1845 a publica o livro: A Narrativa da Vida de Frederick Douglass, Um Escravo Americano. Mas seus amigos, preocupados com os rumores de que pudesse ser preso e escravizado o convenceram a ir para Inglaterra. E assim o fez, ficando na Europa por dois anos.
Palestrando na Irlanda, Escócia e Inglaterra, Douglass obteve apoio popular a Abolição da Escravidão na América. Também obtém o beneficio de uma lei que tornava livre, todo o escravo, que fosse para outro.
De 1847 a 1860 Frederick trabalhou em um jornal semanal do abolicionista, intitulado A Estrela do Norte, e depois rebatizado de The Paper of Frederick Douglass. E lutou nos bastidores da política americana para a real libertação dos escravos, lutando pela igualdade racial. Na Guerra Civil da Secessão sugeriu a criação de uma tropa de soldados negros
Depois da Guerra ocupou vários cargos no Governo Federal. Casou com Helen Pitts, e teve com ela os filhos: Rosetta, Henry, Frederick, Redmond e Annie.

Franz Fannon



A vida de Frank Fannon, médico e pensador anticolonial foi curta, mas que rendeu ao mundo uma obra fantástica Pele Negra, Mascara Branca, escrito em 1952. Ele nasceu na ilha de Martinica, em 1925, filho de um casal de classe média franceses. Sua vida mudou, quando aos 18 anos se ofereceu para lutar no Exercito de Resistência a Ocupação Nazista na Franca. Logo após a Segunda Guerra Mundial, passou a cursa medicina e se especializou em psiquiatria na Faculdade de Lyon.
Foi neste período, que começou escrever artigos sobre os problemas políticos na Franca, colônias e no mundo. Casou-se com uma francesa, Josephine Duble. E em 1952, escreveu ainda em solo francês, o seu livro: Pele Negra, Mascaras Brancas, que analisa o racismo e os efeitos da colonização, lançado em Lyon.
O livro é fruto da consciência negra do Fannon, que analisa do mundo dos brancos sob a ótica de um intelectual negro e textualiza psicologicamente a difícil relação entre colonizador e colonizado.
Em 1953, Frank assume o departamento de psiquiatria do Hospital de Blida-Joinville, em Argélia, então colônia francesa. Lá tem contato com pessoas do movimento de libertação do país, torturadas pelo exercito francês. Três anos depois, renuncia se cargo para se dedicar ap Movimento Argelino de Independência. Após a libertação do país, do jugo francês, ele torna-se embaixador do governo provisória da Argélia, em Ghana.
Infelizmente em Ghana, Fannon descobre que tem leucemia, mas recusa o conselho de amigos para descansar. Terminou texto analisa dos efeitos do colonialismo e morre no dia 6 de dezembro em Bethesda, Maryland – Estados Unidos, no ano de 1961. Foi enterrado com honras pelo Exercito Nacional de Libertação. ltural, 1995.

Texto do Preto Cosme sobre Franz Fannon

Nascido numa família antilhesa remediada, Fannon fora ferido em combate em França, já no final da II Grande Guerra. Ironia da sorte, o cabo Fannon receberia a cruz de guerra das mãos do coronel Salan, futuro golpista branco em Argel. Uma bolsa de estudo permitira-lhe entretanto inscrever-se, em 1947, na faculdade de medicina de Lyon, acabando por vir a trabalhar no hospital psiquiátrico de Blida. Em 1952, ano em que casa com uma francesa metropolitana surge na editora Seuil o seu primeiro livro Peau noire, masques blancs. Denuncia logo aí a dominação branca, tomando o partido dos rebeldes argelinos.
A insurreição que estes haviam iniciado a 1 de Novembro de 1954 transformar-se-ia na longa guerra da Argélia; Fannon viu aí uma guerra colonialista-tipo, demitindo-se em 1956 do seu lugar de médico-chefe em Blida e juntando-se em Tunis aos dirigentes da FLN. Colabora então em dois jornais da Frente, Résistance Algérienne e depois El Moudjahid, aderindo à FLN na primavera de 57. A trabalhar no ministério da informação do governo provisório da república argelina, seria delegado em 1958 ao Congresso Pan-africano de Accra.
Na capital de Gana conhece então Kwame Nkrumah, líder ganês e panafricanista da primeira linha, Félix Moumié, revolucionário camaronês que viria a ser assassinado pelos serviços secretos franceses, o sindicalista queniano Tom M'Boya, o angolano Holden Roberto. Deste banho de panafricanismo sairia um ensaio-bomba, L'An V de Ia Révolutíón Algérienne, obra que viria a ser rapidamente proibida em França. Fannon torna-se então uma figura de proa da jovem guarda daquela que viria a ser a extrema esquerda francesa; militantes dissidentes das Juventudes Comunistas ou cristãos de esquerda admiravam o homem de ação, o militante terceiro-mundista, o negro insubmisso que combatia a sua própria pátria.

No II Congresso dos Escritores e Artistas Negros que teve lugar em Roma em 1959, Fannon desenvolveu a idéia de uma relação dialética entre cultura nacional e luta de libertação Passa a falar alto e forte nas conferências fundamentais do terceiro-mundismo afro-asiático, de Accra a Addis-Abeba. Atingido por uma leucemia, sabia, já nessa altura, que tinha pouco tempo de vida. Les Damnés de la Terre, livro publicado em 1961, algumas semanas antes da sua morte aos 36 anos, constituirá o seu testamento. O livro exalta o terceiro-mundismo com o mesmo lirismo de Aimé Césaire, cujo Cahier d'un retour au pays natal fora saudado por André Breton, Léopold Sedar Senghor e Albert Memmi. O panfleto teve a caução de Sartre e da revista Temps modernes: "Também nós, europeus, somos dessacralizados: purifica-se aqui, através de uma operação dolorosa, o colono que existe em cada um de nós", escreveria Sartre. Acrescentando: "A arma de um combatente é a sua humanidade. Num primeiro tempo da revolta, é preciso usar a violência: abater um europeu é matar dois coelhos de uma cajadada, suprimir ao mesmo tempo um opressor e um oprimido, sobrando daí um homem morto e um homem livre". O jornalista Jean Daniel, chocado, reagiu no Espírito contra essa sacralização do colonizado e um terrorismo cego para o qual não havia vítimas civis inocentes, uma vez que o último culpado da barbárie não era aquele que fazia verter o sangue, mas sim o colonizador, o europeu, responsável pela engrenagem da violência.

Com uma linguagem vibrante, Fannon fazia a apologia da violência após haver descrito a despersonalização e a humilhação do colonizado, tratado como sub-homem, traumatizado, levado ao suicídio ou empurrado para combates fratricidas. A passagem à violência contra uma ordem e uma dominação todo-poderosa permitiria romper com o seu complexo de inferioridade. Emancipado, o colonizado reencontraria a sua identidade e, através dela, a sua dignidade. Melhor ainda, a violência revolucionária transformaria os indivíduos e permitira estabelecer entre eles novas e melhores relações de fraternidade: "quando elas próprias participam na violência da libertação nacional, as massas não mais permitirão que alguém se assuma como 'libertador'". Franz atribuiria ainda uma grande importância revolucionária aos desclassificados, aqueles sectores sociais que o colonialismo e o capitalismo haviam marginalizado.

Numa época de grandes combates anticolonialistas e do despertar no ocidente dos movimentos anti-racistas, as suas concepções não poderiam deixar de ter um lugar enorme na definição do imaginário combatente dos movimentos de libertação, das lutas pelos direitos cívicos dos negros e dos sectores mais extremistas e empenhadamente internacionalistas da esquerda.

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Rainha Nzinga Mbandi


Raínha Nzinga, Nzinga I, Raínha Nzinga Mdongo, Nzinga Mbandi, Nzinga Mbande, Jinga, Singa, Zhinga, Ginga, Ana Nzinga, Ngola Nzinga, Nzinga de Matamba, Raínha Nzingha de Ndongo, Ann Nzingha, Nxingha, Mbande Ana Nzingha, Ann Nzingha, e Dona Ana de Souza.

Filha de Nzinga a Mbande Ngola Kiluaje e Guenguela Cakombe Controversa líder feminina homenageada em Angola e no Brasil. Misto de libertadora com uma grande negociadora de escravos. Inteligente e cruel ao mesmo tempo. É difícil fazer um julgamento de seu caráter a tanta distancia cronológica.
A Historia de Nzinga começa com a ocupação portuguesa, em 1578, quando Paulo Dias de Novais funda a cidade fortificada de São Paulo de Assumpção de Luanda que se tornará a futura capital de Angola em território mbundu. O rei dos mbundu era Ngola Kiluanji, pai de Nzinga, resistiu por muitos anos à invasão de seu território. Ngola Kiluanji resiste à ocupação portuguesa. No entanto, uma parte do território é tomada, constituindo o primeiro espaço colonial na região. O rei Kiluanji refugia-se em Cabassa, no interior de Matamba, e consegue reter o avanço dos portugueses. Após a morte de Kiluanji sucede seu filho Kia Ngola Mbandi, meio irmão de Nzinga, que, inicialmente, também impediu o avanço do comércio escravagista para o interior. Uma das primeiras medidas de Kia Mbamdi foi matar o filho único de Nzinga, concorrente em potencial.
Ela também teve de aturar forte oposição interna por ser mulher e ter como mãe uma escrava – mancha grave em sua ficha, já que todo o poder, no reino, se baseava nas relações de parentesco. Nzinga fora criada pelo pai, o rei Jinga Mbandi, para ser uma rainha guerreira. Diplomata hábil, auxiliou seu irmão, mesmo rancorosa com o ato de assassinato de seu filho, negociando a devolução de territórios já ocupados pelos invasores. Recebida em Luanda com grande pompa pelo governador geral ela negocia sem ceder algum território e pede a devolução de territórios que obtém pela sua conversão política ao cristianismo, recebendo o nome de Dona Anna de Sousa. Mais tarde suas irmãs Cambi e Fungi também se convertem, passando a se chamar Dona Bárbara e Dona Garcia respectivamente.
Entretanto os portugueses ficam impacientes, e no desejo de estabelecerem o comércio com o jaga de Cassanje no interior, não respeitam o tratado de paz. A rebelião de alguns sobas (chefes), que se aliam ao jaga de Cassange e aos portugueses, cria uma situação de desordem no reino de Ngola.
Depois de saber da quebra do tratado, ela perguntou ao seu irmão para interceder e lutar contra a invasão portuguesa. Nzinga assume o comando da situação e ao encontrar um dos sobas, seu tio, que se dirigia a Luanda para se submeter aos portugueses, manda decapitá-lo, e dando conta da hesitação de seu irmão manda envenená-lo abrindo assim caminho ao poder e ao comando da resistência à ocupação das terras de Ngola e Matamba.
De volta da sua missão, faz sua vingança, reorganizando seu exercito, mas esperando o momento propício. Aclamada Rainha Nzinga vai atirar o sobrinho, recebendo-o alegremente para em seguida apunhalá-lo, deste modo acaba sua vingança. Os adversários portugueses respondem elegendo um chefe mbundu, Aiidi Kiluanji (Kiluanji II), como novo Ngola das terras do Ndongo.
A líder Nzinga, não conseguindo um acordo de paz com os portugueses em troca de seu reconhecimento como rainha de Matamba, renega a fé católica e se alia aos guerreiros jagas de Oeste se fazendo iniciar nos ritos da máquina de guerra que constituía o quilombo. Ele une-se a eles casando com um chefe jaga.

Aliou-se a guerreiros jagas passando a atuar em quilombos, com espaços e táticas de guerra semelhantes aos utilizados por seu contemporâneo Zumbi dos Palmares em terras brasileiras. Durante a guerra por liderar pessoalmente as suas tropas e proibiu de as suas tropas a tratarem de "Rainha", preferindo que se dirigissem a ela como "Rei". Em 1640, a rainha Nzinga e seus guerreiros atacam o forte Massangano, onde suas duas irmãs, Cambu e Fungi, são aprisionadas, sendo esta última executada. Aproveitando a ocupação temporária de Luanda pelos holandeses, recupera alguns territórios de Ngola com a adesão de alguns sobas (chefes). Salvador Correia de Sá y Benevides, general brasileiro, restaura a soberania portuguesa em Luanda e tenta restabelecer seu poder no interior.
Numa incursão do exército de Nzinga são aprisionados dois capuchinhos que a rainha aproveita para convencê-los de sua vontade de reconversão em troca do reconhecimento de sua soberania nos reinos de Ngola e Matamba e da libertação de sua irmã Cambu. O governador geral aceita libertar Cambu se Nzinga retificar um tratado limitando suas reivindicações a Matamba e renunciando aos territórios de Ngola, sendo o rio Lucala escolhido como fronteira.
Este tratado, de 1656, só vai ser posto em prática depois da ameaça da rainha voltar à guerra. Só assim o governo de Luanda libera sua irmã Cambu, mesmo assim depois do pagamento de um resgate de mais de uma centena de escravos. Cambu tinha ficado retida em Luanda por cerca de dez anos.
Há uma paz relativa no reino de Matamba até a sua morte aos 82 anos em 17 de dezembro de 1663. Sucede a Nzinga sua irmã Cambu, continuadora da memória de sua irmã, a rainha quilombola de Matamba e Angola.
Um episódio revela bem essas qualidades: Quando se apresenta como embaixatriz em Luanda, o governador recebe-a numa sala onde havia apenas uma cadeira e uma almofada o governador oferece-lhe a almofada, o que Nzinga recusa por ofender a sua dignidade real e senta-se no corpo ajoelhado de um dos acompanhantes da sua corte, eliminando a posição de inferioridade que sutilmente lhe era oferecida pelo governador. Quando a audiência foi terminada deixa a escrava na mesma posição. Perguntaram-lhe se esquecera a escrava, ela respondeu, que não costumava conduzir a cadeira utilizada em cerimônia de tal importância.
Despertou o interesse dos iluministas como a criação de um romance inspirado nos seus feitos (Castilhon, 1769) e citação na Histoire Universelle (1765)Obteve vitórias e uma relativa paz até morrer aos 82 anos de idade.
Dr. Carlos H. M. Serrano*
*CARLOS M. H. SERRANO, Nascido em Cabinda - Angola, é Professor de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. É vice-diretor do Centro de Estudos Africanos da USP, Autor dos livros "Os Senhores da Terra e os Homens do Mar"; "A Revolta dos Colonizados" (paradidático, com o prof. Kabengele Munanga); "Brava Gente do Timor" (com o prof. Maurício Waldman); e "Angola: Nasce Uma Nação"...
À memória de Beatriz do Nascimento, estudiosa dos quilombos e quilombola também.
BIBLIOGRAFIA
BALANDIER, Georges. Antropologia Política. São Paulo, Difusão Européia do Livro, 1969.
BIRMINGHAM, David. A Conquista Portuguesa de Angola. Lisboa, A Regra de Jogo, 1974.
CASTILHON, J.-L. Zingha, Reine D'Angola. Histoire Africaine. Bourges, Ganymede, 1993.
CAVAZZI, Pe. João Antonio (de Montecúccolo). Descrição Histórica dosTrês Reinos Congo, Matamba e Angola (1687). Lisboa, Edição da Junta de Investigações do Ultramar, 1965, 2 volumes.
MILLER, Joseph C. "Nzinga of Matamba in a New Perspective", in Journal of African History, XVI 2 (1975), pp. 201-16.
---. Kings and Kinsmen, Early Mbundu States in Angola. Oxford, Clarendon Press,1976.
SERRANO, Carlos. "História e Antropologia na Pesquisa do mesmo Espaço: a Afro-América", in África: Revista do Centro de Estudos Africanos da USP, 5, 1982, pp. 124-8.
---. Os Senhores da Terra e os Homens do Mar: Antropologia Política de um Reino Africano. FFLCH-USP, 1983.
SOROMENHO, Castro. "Portrait: Jinga, Reine de Ngola et de Matamba", in Presence Africaine, 3e. trimestre 1962, pp. 47-53.
** Artigo originalmente publicado na Revista da USP, nº 28 ( Dossiê do Povo Negro )
- Fonte: Cartilha “Mulher Negra tem História” -
Alzira Rufino, Nilza Iraci, Maria Rosa Pereira, 1987, Santos;
Roy Glasgow - "Nzinga"- ed. Perspectiva, Col. Debates - 1982 - SP