sexta-feira, janeiro 12, 2007

Pixinguinha, o carinhoso


“Meu coração
Não sei porque
Bate feliz, quando te vê”.

Faça o teste: se você leitor passar por qualquer lugar de Bebedouro e começar a cantarolar as letras de Carinhoso com certeza, será acompanhado imediatamente por outras pessoas. É sem dúvida a canção mais conhecida deste país e que sobrevive a 90 anos. Foi composta em chorinho aos 20 anos por Alfredo da Rocha Vianna Filho – o Pixinguinha e depois letrada por João de Barros. Pergunto a vocês, qual musica sobreviveu a tanto tempo?
Já escrevi aqui sobre ele, mas não canso de lembrar: Pixinguinha foi um dos maiores músicos do país. Não foi o mais rico, pois semelhante ao jogador Garrincha, fazia o que gostava por prazer, e não possuía preocupação com contratos e ganhos. O apelido surgiu da união dos termos Pizindim, dado pela avó Edwirges, que em africano banto, quer dizer – menino bom, e Bexiguinha, ganhado por causa das marcas da varíola que lhe acometeu na infância.
O pai, Seo Alfredo, era flautista, mas queria que o filho tocasse bandolim ou cavaquinho. Até enfiou o moleque em aulas, mas ele imitava o pai, assobiando em folhas, até que foi do clarinete a flauta. Aos 14 anos foi contratado para se apresentar no Conjunto da Concha, numa casa de chope. Em 1911, gravou sua primeira música, o chorinho – Lata de Leite - em um disco de altas rotações. Aos 20 anos forma com Nelson Cavaquinho e Donga – os Batutas, que obteve tanto sucesso que chegaram a excursionar por Paris.
Aos 29 anos torna-se maestro e conhece o amor de sua vida, Albertina de Sousa, atriz de teatro de revista. Entretanto aos 35 anos, derrubado pelo vicio do álcool, abandona a flauta, impossibilitado fisicamente de tocar, para optar pelo saxofone. Seus grandes sócios de copo eram Donga e o compositor João da Baiana. O alcoolismo rendeu até uma musica: Briguei com Virginia – marca de uma pinga.
Ele ainda compôs muito, sendo prestigiado por Tom Jobim, Chico Buarque e teve inclusive homenageado em vida quando o prefeito do Rio de Janeiro, Negrão de Lima, deu a uma rua seu nome. Às dezesseis horas e 30 minutos no dia 17 de fevereiro de 1973, num dia de carnaval. Inclusive em sua reverencia, os blocos pararam em um minuto de silencio.
E agora me pergunto: das que todos escutam nas emissoras de rádio, qual atravessará o século XXI e chegará popular daqui a 90 anos? Há algum Pixinguinha entre nós? Não se apresse neste julgamento. Apenas curta os versos. Se estiver apaixonado, melhor:
Vem, vem, vem, vem
Vem sentir o calor dos lábios meus a procura dos teus
Vem matar essa paixão que me devora o coração
E só assim então serei feliz
Bem feliz”.
 

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