segunda-feira, novembro 07, 2005

VIDA E MORTE DE LIMA BARRETO


“O Brasil não tem povo, tem público” - essa fala é de um escritor pouco conhecido da maioria, excetos os estudantes de Letras ou cursos de pré-vestibular. Sua obra é conhecida: “Triste Fim de Policarpo Quaresma” – que virou filme, e “Clara dos Anjos” – que teve sua historia contada parcialmente na novela da Rede Globo – Fera Ferida. Mas o autor – Lima Barreto, é praticamente desconhecido. E sua morte e nascimento novamente passaram em branco este ano – dia 1 de novembro.
O nome completo do escritor era Afonso Henrique de Lima Barreto. Ele escreveu além dos romances citados, Recordações do Escrivão Isaías Caminha, Numa e a Ninfa, Vida e Morte de M.J. Gonzaga de Sá. Escreveu os contos: Historias e Sonhos e Outras Historias e Contos Argelinos.
Como jornalista são destaques: Bagatelas, Feiras e Mafuás, Marginalia e Vida Urbana. Ainda teve tempo de produzir textos satíricos como Os Bruzundangas e Coisas do Reino Jambom. Na década de 50 foram publicados: Diário Íntimo, O Cemitério dos Vivos, Impressões de Leitura e Correspondência Ativa e Passiva.
Enfim – foi uma vida muito criativa, mas que terminou pobre, miserável, afundada no alcoolismo. Há um relato de Monteiro Lobato, que ao procurá-lo para inspiração, ficou assustando com o grau de pobreza em que se encontrava. Teve até vergonha de se identificar, com receio de ofender Lima Barreto.
Ele nasceu 8 anos antes da abolição da escravidão – em 1881. Era carioca, negro e alto. Conheceu desde cedo o racismo e preconceito. Como ótimo estudante conseguiu entrar na conceituada Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Mas devido à situação sócio-econômica da família, teve que abandonar os estudos e assumir o sustento da casa como servidor publico na Secretaria de Guerra. Um fato ao abalou muito nesse período – a perda da sanidade do pai.
Em 1905 se tornou jornalista profissional no Correio da Manhã e afeiçoado com as letras consegue publicar 4 anos depois sua primeira obra: “Recordações do Escrivão Isaías Caminha”. Foi um marco da literatura da época. Lima Barreto criava um novo estilo e se atrevia a satirizar as relações da rica sociedade do inicio do século XX.
Mas o velho de sua obra viria logo depois – Triste Fim de Policarpo Quaresma – era um mordaz critica a perversão dos ideais republicanos pelos militares e grandes fazendeiros. O maior atingido por esse livro foi o presidente Floriano Peixoto. Resultado: foi perseguido e em menos de 4 anos, sua vida sentiu os reflexo da ação de seus perseguidores. Foi internado como louco num hospício, quando na verdade era apenas um alcoólatra.
Até seu falecimento, Lima Barreto passou inúmeras vezes por internações devido o estado de saúde. Sua ultima obra publicada em vida foi – Vida e Morte de M.L. Gonzaga de Sá. Teve tempo para se dedicar na elaboração da historia, que reflete muito seu estado de espírito.
Diferente de Machado de Assis, o escritor era um grande critico da Academia Brasileira de Letras. Apesar de ter sido fundada por afro-brasileiro, dentro dela, os integrantes exalavam preconceitos raciais e sociais. Lima acredita que um ambiente assim não era propicio para grandes obras literárias e nem condizentes com o país.
Há que analise que existiu de fato uma disputa com o autor de “Dom Casmurro” e “Clara dos Anjos”. Machado era taxado de burguês e escrever para entreter a alta sociedade, sem cutucar seus pobres. Lima era o maldito, amada por todos que odiavam os ricos e era considerado um elemento perigoso pelas autoridades do período, por seu estilo irreverente e provocativo. Certo é que os dois foram contemporâneos, mas não eram exatamente amigos.

Aos 41 anos de idade, celibatário incorrigível, Lima Barreto, morreu sem despertar muito interesse e nem choro de viúva ou filhos. O filho da negra Amélia Augusto Barreto e do português João Henriques Lima Barreto fez sua breve passagem pela vida, para nascer e viver no Brasil, deixar 17 obras e chacoalhar o ócio do brasileiro.
Mas discordo de quem afirma que ele não deixou herdeiros. Os letristas do Hip Hop e representam com uma perfeição que não me assustará que no final da prova do DNA, descobrimos que muitos são seus verdadeiros tataranetos de sangue.

4 comentários:

Unknown disse...

Oi Marco: Muitíssimo feliz por encontrar teu blog com um texto espetacular sobre o Lima, pois apenas divergimos nas datas de postagem - no meu blog editei biografia e texto do Lima. Convido-o para uma passadela por lá. Mais uma vez quero deixar cravado que a tua matéria ficou espetacular.
Tenha uma ótima semana e:
ESTEJA E SEJA E FIQUE FELIZ
Luiz de Almeida
http://literalmeida.blogspot.com

Anônimo disse...

FIS UM TRABALHO E TIREI 10 graças
a você

Niko disse...

Ola Prazer Ivan.
Não acho que ira tirar minha duvida a tempo ,mas Queria saber por pura curiosidade.
"O Brasil não tem povo, tem público"
Porque ele fez essa frase ,Pensei em varias e varias coisas,mas não sei,não acho que eu esteja correto.

Obrigado. :)

Anônimo disse...

lima barreto nao se casou?