quinta-feira, setembro 01, 2005

OUTROS LÍDERES AFRO-AMERICANOS


A falsa imagem de que foram só Martin Luther King Junior e Malcolm X – os principais líderes do Movimento Negro Americano, precisa ser desfeita. Outras pessoas colaboraram de forma decisiva antes. Um dos nomes pouco mencionados é o do líder sindicalista Asa Philip Randolph.
Randolph era um negro formado em jornalismo e ciências sociais e socialista, foi responsável pela criação da primeira entidade sindical negra, durante os anos de Depressão Econômica. Sua histórica é contada no filme “Luta Por Igualdade” de titulo original The Union / 10,000 Black Men Named George.
Philip é vivido brilhantemente nas telas por Andre Braugher – mais conhecido por seu papel de anjo negro no filme “Cidade dos Anjos” – ao lado de Nicolas Cage. Dirigido por Robert Townsend, em 2001, não teve passagem pelos cinemas, sendo encontrado em poucas locadoras ou na programa dos canais “Telecine” da TV por Assinatura Sky.
Assistindo o filme dá para ver as razões para a organização da Grande Marcha de Washington, no dia 28 de agosto de 1963. Ela foi pensada para ser um protesto contra a Política Econômica do Governo de John Kennedy e reivindicar Direitos Civis e Empregos para o Povo Negro.
Asa Philip levou 20 anos na articulação da Marcha que serviria inclusive para comemorar a fundação do primeiro sindicato negro. O registro histórico, feito pela Mídia, passou a imagem de ser uma idéia só de Luther King e uma grande passeata festiva. Longe dos objetivos.
A historia de Randolph, distribuída em vídeo no Brasil pela Paramount, é obrigatória para todos nós agora, que nos sentimos um tanto decepcionados com os rumos que parte da esquerda brasileira e até o movimento sindical tem tomado. Ele serve de exemplo para o Movimento Negro no Brasil, com sua postura militante, recusando subornos e mordomias.
Destaca uma das cenas mais linda é quando Philip é avisado da morte da mãe, mas não tem condições financeiras de voltar a sua cidade e assistir o enterro. Ele recusa o dinheiro dos companheiros que se cotizaram para ajudá-lo, pois estavam em plena Crise da Depressão e o dinheiro faria falta em suas casas.
Outra que cena forte e retratação de uma assembléia onde após uma tentativa de suborno, chama a categoria para junto tomar a decisão sobre a conveniência de sua saída do sindicato. Os patrões condicionavam isso, para aceitar a entidade classista.
Essa é a imagem ideal de um militante, nunca mais importante que sua causa e os liderados. Bem diferente de pseudo-lideranças de hoje. Vestem-se como tal, mas não agem como deveriam.
Assistam ao filme, principalmente os responsáveis pelas duas “Marchas Zumbi Mais Dez” que poderá acontecer em novembro. De cara digo. Só participo de uma – a única. Se forem divididas, não acho razão para viajar – qualquer uma delas será fraca.
E sem duvida alguma, os racistas estão dando cambalhotas de risadas.
Uma vantagem do filme é retratar o sofrimento que passam as mulheres dos companheiros na luta contra o racismo. Se não estão a frente das organizações, também sofrem perseguições, pelo simples fato de serem ou esposa ou irmãs de militantes políticos. A abordagem cinematográfica é um pouco machista, mas não deixa de retratar uma verdade.