quinta-feira, julho 07, 2005

A LUA ME DISSE: LATOYA E WHITNEY


EU SOU NEGUINHA?
A mais nova polêmica nos meios de comunicação é a novela A Lua Me Disse, escrita pelo talentoso Miguel Falabela. O que tem gerado mais discussões são os papeis das atrizes Zezeh Barbosa e Mary Sheila, que vivem na telinha as irmãs Anastácia e Jurema e abominam os nomes de batismo e suas características negras. Elas se auto denominam de Latoya e Whitney. Um dos exemplos sempre usados é de Michael Jackson, que após inúmeras cirurgias plásticas e tratamentos de peles deixou de parecer afro americano. O humor de Falabela é inteligente, mas é necessário tomar cuidado para não aumentar o preconceito com isso.
O desejo das duas personagens em se tornarem brancas é verdadeiro em paises africanos onde as jovens usam cremes ou sabonetes que contém mercúrio e hidroquinona – produtos químicos que podem danificam a pele, e são indicados restritamente a pessoas portadoras de manchas. Nunca podem ser usados sem orientação de um dermatologista. O mesmo acontece com os cabelos onde às vezes produtos tóxicos são usados para alisamento numa aproximação involuntária do padrão de beleza europeu.
Mas nada disso é por acaso: os sociólogos Florestan Fernandes e Roger Bastide já constataram no livro Brancos e Negros em São Paulo, obra de 1959, que a cor de pele e o cabelo são usados como itens de classificação étnica. E o afro brasileiro ciente disso, carregado do conceito de que apenas o nariz e lábios finos, além de cabelos lisos são significados de beleza - tenta se alterar.
Entretanto o fato não é culpa da população negra – ela está nos meios de comunicação onde são disseminados os padrões de beleza. Nas propagandas, novelas e filmes e até na musica – os dotes elogiados são brancos. Recordemos Luis Caldas com os versos “ negra do cabelo duro, que não gosta de pentear” ou Ari Barroso com “ o teu cabelo não nega mulata, pois é mulata na cor, mas como a cor não pega mulata, mulata, quero seu amor”. Além de um fundo machista as canções são exemplos de depreciação das afro-descendentes.
Isso tudo é fruto de um modelo de educação. Por exemplo, na antiga cartilha de alfabetização “Caminho Suave” a ilustração de capa eram de um menino branco de cabelos pretos e uma menina branca loura. Mesmo dentro dela não havia um desenho sequer mostrando a diversidade racial do país: não vemos indígenas, negros, japoneses ou judeus. Intencional ou não o material didático aumenta o preconceito.
Miguel Falabela é conhecido por cutucar a sociedade com seu humor caustico nos preconceitos da elite brasileira. Quem não se lembra das frases sobre pobres do personagem Caco Amtibes do programa Sai de Baixo. Mas assim como foi no passado e está sendo no caso das personagens Anastácia e Jurema, há de se tomar um certo cuidado. O nível das piadas é inteligente, mas num grau elevado demais para o povo brasileiro a quem não foi ainda oferecido no ensino o certo ou errado na questão racial. Resultado: há negras revoltadas com as falas da novela e brancas dando risada sem reflexão. Tomara que os dois grupos acompanhem o folhetim eletrônico até o fim pra saborear a moral da história.
Enfim beleza é algo universal e não uniforme. Brancas podem encarolar os cabelos e negras alisarem, desde que isso seja a adoção voluntária de um novo visual e não a ditadura de padrões de beleza, que não respeitam as belas diferenças.
Ah... um detalhe: a novela Alma Gêmea – outra polêmica. Priscila Fantin é linda, mas não tem nem traços indígenas. Será que não existe uma atriz de etnia indígena no país? Por exemplo, Dirá Paes que trabalha como coadjante no programa humorístico A Diarista?

MIGUEL FALABELA

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