sábado, maio 21, 2005

SHAKA ZULU - O GENERAL AFRICANO


Imagem ilustrativa de Shaka Zulu


A história Shaka Zulu, líder africano que expandiu a nação zulu, num feito comparável a Alexandre o Grande, mas também terminou sua vida como ditador insano.

O potentado Zulu tem início com o reinado de Shaka, filho do chefe Senzanga Khoma, de um dos clãs mais fortes dos Zulus, que engravidara Nandi, uma mulher Lengani, que se tornou por isso sua terceira esposa. Mas ela era desagradável e pouco dócil, acabou sendo rejeitada junto com o filho, e voltou para os Lenganis, onde Shaka cresceu acalentando o sonho de se tornar Rei dos Zulus, e expandir o império.
A INFANCIA
O menino cresceu arrogante e antipático, e foi por isso marginalizado pelos outros meninos Lenganis, mas se tornou forte e um grande guerreiro. Shaka era o nome que os Zulus davam a um parasita intestinal; quando Nandi engravidou, de desagradável que era na tribo diziam que ela não estava grávida, apenas tinha um shaka na barriga. Vindo ao mundo, o parasita shaka, continuou sendo Shaka.
O ano de 1802 foi um ano de seca e fome. O Rio Umfolozi, secou e a fartura que trazia ao vale que o abrigava e às margens, desapareceu. Com a escassez de alimentos o chefe Longani decidiu expulsar do Kraal[2] todas as pessoas indesejáveis, entre as quais se encontravam Nandi e o filho Shaka.
NOVO EXILIO

Exilados partiram para as terras do sul, aonde chegaram ao reino de Dingiswayo, o mais importante dos chefes do sul que, ao ver Shaka e N'Xumalo, um exilado voluntário do clã Sixolobo, que se tornou seu único companheiro entre os Lenganis. O chefe adivinhou neles grandes guerreiros; eram fortes e mostravam destreza no uso das Azagaias[3], considerou-os bem vindos ao seu regimento. Nos anos seguintes, Shaka e N'Xumalo ganharam grande experiência em guerras e campanhas que ampliaram o território de Dingiswayo.

O GUERREIRO
Shaka começou a desenvolver técnicas pessoais de Guerra e Teoria de Combate!Discordava dos grandes agregados -- mulheres e crianças -- que acompanhavam o destacamento, denunciando à distância a aproximação, e dando a conhecer aos inimigos a disposição das tropas a todos os momentos, aguardando apenas o momento mais propício para o confronto. Não apreciava os rituais que antecediam as batalhas e dos lugares escolhidos -- com encostas suaves, para melhor apreciação dos espectadores.
Ele não concordava com os arremessos das azagaias à distância, que permitiam a esquiva dos adversários. Discordava dos embates pouco contundentes, quando os dois exércitos estavam já desarmados, e da benevolência do vencedor, capturando apenas algum gado e umas quantas mulheres. Reprovava o uso de sandálias de couro de vaca pelos guerreiros, artefato que, no seu entender só tolhia a mobilidade em combate. Achava inclusive as azagaias impróprias para a luta. Preferia o uso de adagas para o corpo a corpo.
Em segredo Shaka treinou com N'Xumalo ataque e defesa, força, destreza e luta corpo a corpo. Quebrou uma lança e encomendou ao forjador da tribo uma arma com o tamanho da metade da lança e o dobro do tamanho de parte cortante: uma Adaga!

A PRIMEIRA BATALHA

Em 1815, num confronto banal com os Butelezis, Shaka demonstrou o que e como queria que fosse uma guerra. No ritual inicial em que um ou dois guerreiros se adiantam para trocar insultos, ele inesperadamente levantou-se e correu descalço para o adversário. Com o seu escudo, Shaka enganchado no do adversário, expôs-lhe o peito e mergulhou nele a adaga curta. Arremeteu depois para as fileiras de vanguarda dos Butelezis, e junto com ele, todo o regimento Izicwe. Foi um massacre. Dezenas de inimigos mortos e de mulheres capturadas, centenas de cabeças de gado apreendidas.

MORTE DO PAI

Em 1816 o pai de Shaka, chefe dos Zulus morreu. Shaka removeu o filho destinado à sucessão e assumiu o comando do clã que tinha cerca de 1.300 pessoas e 300 guerreiros. Era um clã inexpressivo, menor que a maioria dos outros clãs, como os Sixolobos e os Lenganis, e que não expandira o seu território nos últimos cem anos.
Tão logo ele assumiu o comando, uma das suas primeiras providências foi mandar os guerreiros jogar fora as azagaias tradicionais substituindo-as por adagas, proibiu o uso de sandálias e treinou as tropas no endurecimento das solas dos pés, fazendo-os dançar sobre espinhos e pedras batendo os pés com força no chão, até que as solas dos pés estivessem mais duras do que couro. Os guerreiros que não agüentavam e fraquejavam neste treinamento, eram mortos.
Aumentou o tamanho dos escudos quase à altura de um homem, e treinou com os guerreiros: defesa e ataque corpo a corpo, com as técnicas que aperfeiçoara com N'Xumalo.

ESTRATÉGIA CORPO-BRAÇO-CABEÇA

Shaka Instituiu a técnica de combate “corpo-braços-cabeça”, em que o corpo era a grande concentração de tropas central, e a única que os inimigos podiam ver, os braços eram dois grupos de envolvimento rápido que atacavam pelos flancos, e a cabeça, um regimento que, nos dois primeiros estágios de qualquer batalha -- início com o embate frontal do corpo e o segundo - era o ataque dos braços pelos flancos - - ficava escondido por uma colina e de costas para a luta, ver a batalha. No momento adequado recebiam a ordem de ataque, que cumpriam sem pensar e sem tentar adequar-se à situação. Velocidade, rapidez na comunicação e astúcia eram os outros trunfos da estratégia.
Shaka e N'Xumalo formavam uma dupla fantástica; onde ele era um planejador criativo e o amigo era um executor implacável.
Uma manhã de 1816, Shaka reuniu os seus quatro esquadrões numa formação de quadrado oco. Inflamou os ânimos dos guerreiros com palavras de incentivo, enquanto estes batiam os pés no chão com violência -- à dança que caracterizaria para sempre os Zulu. Cada esquadrão era distinguido por diferentes cores dos panos de cabeça e pelos couros de gado dos escudos.

AS BATALHAS
Na batalha contra os Lenganis, Shaka ordenou uma marcha silenciosa. Na manhã seguinte o clã adversário acordou cercado por guerreiros Zulus. Foi à vingança contra o clã que expulsara a mãe e ele há anos atrás. Todos os desafetos pessoais foram empalados por estacas de bambu, e depois de horas de sofrimento, queimados ainda vivos. Os chefes apenas tinham o pescoço quebrado, numa morte rápida e sem sofrimento, e no final, absorveu os regimentos Langani no seu exército.
Quando chefe Dingiswayo morreu, numa batalha contra uma tribo do norte, todo o contingente Izicwe se uniu aos Zulus. Shaka se movimentava com uma velocidade devastadora, dominando os pequenos clãs, cujos chefes eliminavam e cujas forças militares agregavam às suas.
A batalha contra os N'Gwane, os apagou do cenário africano como clã. À vista do Corpo de Ataque Zulu, se posicionaram em tosca formação de combate, acreditando tratar-se apenas de mais uma investida por gado e mulheres, em que apenas alguns homens sairiam machucados. De repente descobriram com espanto que as alas Zulus estavam abertas, como os chifres de um touro. Os guerreiros Zulus caíram sobre os atordoados inimigos matando, e quando as forças N'Gwane tentaram se reagrupar para resistir, do nada apareceu à cabeça do exército de Shaka, as adagas totalmente sem clemência.
Os guerreiros e os velhos foram mortos -- os Zulus nada viam de errado em ajudar a morrer os que eram idosos ou doentes -- as mulheres distribuídas entre os Kraal Zulu, e os meninos recrutados para o exército.

O REINADO DE SHAKA ZULU

Durante o reinado de Shaka, os homens combatiam dos 14 aos 60 anos, e nenhum guerreiro podia casar ou procriar antes de lavar a adaga no sangue de inimigos, e somente com seu consentimento, o que acontecia por volta dos 30 anos. Ele formou um batalhão só de mulheres, que devia seguir na retaguarda para cuidar da comida, reparar as armas danificadas e cuidar dos feridos. A regra básica para estes era: “se um Zulu está ferido, fale com ele. Se ele conseguir compreender o que você disse, cure-o, se não o mate”. Formou também um outro batalhão de idosos e deviam trabalhar constantemente.
Em 1832 Shaka já consolidara a maior parte da sua nação, impondo uma ordem e uma disciplina cuidadosamente definidas; através de punições brutais, transformara um amontoado de clãs num reino unificado. Ele praticava um governo tirânico, mas não insano, assegurando ao seu povo suprimentos de água permanentes e fontes estáveis de alimentos.
Os resultados benéficos do governo de Shaka eram evidentes. Uma área maior que muitos países europeus e que estivera desorganizada até então, tornara-se coesa e próspera. As centenas de tribos e clãs que viveram até ali na base de cada um por si, se proclamavam agora orgulhosamente de Zulu; era nesta altura uma temida nação de meio milhão de pessoas. A cidadania dentro da nação atingia a todos por igual, antigos ou novos integrantes.

A DECADENCIA DE SHAKA

Shaka não tinha descendente que pudessem suceder-lhe, assim ficou obcecado com a idéia de envelhecer e morrer. Feiticeiros se aproveitaram desse início de loucura para explorá-lo com promessas de óleos milagrosos que proporcionavam a imortalidade.
O aparecimento dos primeiros cabelos brancos detonou um processo de loucura irreversível; a morte da mãe desencadeou uma onda de crueldade e perseguições terríveis, que abalaram toda a estrutura ZULU.
Começou por ordenar a morte de todas as mulheres a serviço de Nandi, a “mulher elefante”, que com ela compartilharam a tumba, e que, quase todas, eram mulheres de alguns dos seus melhores e mais confiáveis generais.
A mortalidade gratuita espalhou-se pelo reino; qualquer pessoa, por rir, espirrar, tossir, se coçar, sentar, dormir, amamentar ou mesmo comer e beber, podia ser decapitado, acusado de não demonstrar pesar pela morte da mãe de Shaka.
Turbas frenéticas e assassinas corriam por todo o reino, para ver se alguém deixava de honrar Nandi. Os últimos meses de 1827 ficaram conhecidos entre os Zulus, como o tempo das trevas de Shaka.

A MORTE

Com o caos instituído no reino, M'Kabay, irmã do pai de Shaka e dois meio irmãos dele, Dingane e M'Halangana, junto com alguns comandantes militares, conspiraram e planejaram o assassinato do grande chefe Zulu.
No dia 22 de Setembro de 1828, vários conspiradores se reuniram, foram ao Kraal de Shaka, e sem que este pudesse esboçar um gesto de defesa, lhe espetaram fundo e por diversas vezes as mortais azagaias.
Terminava assim o homem que criou a Nação Zulu.

Dedico esse texto a todos aqueles que estão na luta para inclusão da Historia da África nas salas de aula, explicando que o continente e seus reis em nada ficam devendo em inteligência aos da Europa.

DICA
Dvd do Grupo O Rappa. Vale a Pena do começo ao fim. Minha Musica Preferida é “O Salto” que começa no show ao vivo com os poemas do saudoso Waly Salomão.




[1] Este texto usa dados recolhidos no site www.carlosduarte.enc.br
[2] Espécie de corte real da tribo
[3] Arma africana

7 comentários:

Anônimo disse...

obrigada pela pesquisa que não encontrei em outro lugar a não ser aqui.

Oubi Inaê Kibuko: Escritor, Fotógrafo, Pesquisador, Editor do blog CABEÇAS FALANTES: https://tamboresfalantes.blogspot.com disse...

Salve.

Caso eu não esteja enganado, o link de Carlos Duarte aqui está escrito errado. Pesquisei no Google e encontrei este: http://www.carlosduarte.ecn.br/potentados.htm Confira se é o mesmo. Caso não seja, desculpe a intromissão.

Oubí

Anônimo disse...

Após dura batalha encontro esta valiosa informação! obrigado!!
Ulisses P Silva

Aliu Balde disse...

Obrigado pela resposta

Manoel Oliveira Lima disse...

Recomendo para quem ainda não assistiu o seriado "SHAKA ZULU" da Netflix que o assista. pois, esse filme seriado é uma verdadeira joia da Literatura Sul Africana, merecedora de Tema para embate em Sala de Aula.

Rodrigo Cândido disse...

Excelente texto meu caro, e ótimo complemento agora que terminei o seriado Shaka Zulu, disponível na Netflix.

Realmente é muito importante conhecer essas personalidades que muito representam na história da Africa, que infelizmente nos passam em branco nas escolas. Algo bizarro em um país com maioria de população negra.

Anônimo disse...

Todos os grandes conquistadores, independente da raça, foram na verdade ditadores insanos que tiraram a paz e a tranquilidade do seu povo e dos demais.