quinta-feira, maio 12, 2005

CHIAMPA –VITA- A JOANA D’ARC ANGOLANA

CHIAMPA –VITA- A JOANA D’ARC ANGOLANA


A entrevista do Bispo do Araguaia-estado do Pará, Dom Pedro Casaldáliga ao jornal Folha de São Paulo (21/04/2005), relatando o questionamento que o futuro papa, o Cardeal Joseph Ratzinger,em 1986, fez da celebração da missa dos quilombos é interessante. O fato denuncia quanto o ex-prefeito da Congregação para Doutrina da Fé e conservadores são incompreensíveis com a fé negra. Mas a historia da líder angolana Chiampa Vita, ocorrida no século XVI dá um exemplo dessa visão religiosa equivocada.
Sobre Chiampa, pouco se tem de sua descrição física ou sua origem. Apenas seu nome de batismo católico: Beatriz. Em 1704, Chiampa se anunciou como à reencarnação de Santo Antônio e assim arregimentou multidões na luta contra colonização portuguesa e a escravização da população. Num exemplo semelhante à francesa Joana D’Arc., Beatriz dizia que Jesus Cristo e a Virgem Maria a orientavam nessa luta pela independência daquela etnia da opressão lusitana.
Chiampa propagava que Cristo teria nascido na África, na cidade angolana de Mbanza Kongo, batizada anteriormente de São Salvador pelos portugueses. Ela ainda afirmava que Jesus teria sido negro e no céu, era um defensor do povo negro.
Não há exatidão do tamanho da rebelião liderada por Chiampa, mas foi incomodo aos dominadores, que logo trataram de identificá-la e prende-la. Na prisão ela foi longamente interrogada por membros da hierarquia do clero português. Segundo relato oficial, o frei Lorenzo Di Lucca ainda mostrou a Chiampa a imagem representada em crucifixo do Cristo morto e branco, oferecendo clemência em troca de arrependimento.
No dia primeiro de julho deste ano, vai completar 299 anos do assassinato de Chiampa Vita, queimada viva nos moldes da Santa Inquisição. Beatriz é morta igual à Joana D’Arc. Acusada de insurreição e heresia por sua crença no Jesus Cristo Negro.
Outro fato da tentativa de evangelização forçada foi na região hoje conhecida como Benin, no século XV. Os Obas - reis, desde Evaré - o Grande receberam os portugueses e seus missionários de braços abertos. Seu sucessor, oba Esigi deixou até que fossem construídas igrejas no reino e deu permissão ao batismo de seus súditos.
A elite do rei Esigi não se convertia a crença e logo a conversão religiosa foi relegada em favor da relação comercial de escravos. Da fé cristã só ficou o cruel hábito dos monarcas do Benin: após uma observação dos crucifixos que os religiosos distribuíam, eles passaram a também crucificarem seus inimigos. Antes da tal catequização, nunca havia algo semelhante naquela região.
Ratzinger, agora Papa Bento XVI, demonstrou pelo menos nesse episódio onde questionou o bispo Casaldáliga, que os cardeais escolheram em conclave um Sumo Pontífice sem visão global. O João Paulo II pediu perdão aos negros pelos erros do passado da Igreja. Mas quem irá pedir pelos futuros erros? E pior: e gente vai aceitar novamente?[1]

Autor: Marco Antonio dos Santos, 35, militante negro de Bebedouro/SP.


Contato: sr.marcoantonio@uol.com.br e 017 3343 4757
[1] Dados presente no livro “Historia da África Negra Pré-Colonial” de Mário Maestri-Editora Mercado Aberto

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